Natalie Klein -  (crédito: Victor Affzro/divulgação)

Natalie Klein

crédito: Victor Affzro/divulgação

 

Quem conversa, mesmo que por pouco tempo, com a empresária e estilista Natalie Klein entende, rapidamente, porque ela conquistou totalmente o coração de Tufi Duek, o criador da Forum, marca que foi referência em moda nas décadas de 1980 a 2008, quando ele vendeu a marca. As roupas da Forum eram objeto de desejo de 99% das jovens do país e Natalie era uma delas, apesar de ter apenas seis anos quando a marca foi fundada. E Tufi era o homem do momento. A jovem paulista, 22 anos mais jovem que Duek, o conquistou. Simpática, delicada, madura e ao mesmo tempo forte e decidida, Natalie foi eleita por oito anos consecutivos pelo Business of Fashion como uma das 500 personalidades mais influentes do mundo da moda e se tornou referência no mercado mundial. Por causa de sua paixão pela arte, foi convidada para ser diretora do Museu de Arte Moderna de São Pão e patrona do Theatro Municipal. Herdeira de uma grande empresa, preferiu trilhar o próprio caminho e abriu sua butique, a NK Store, em 1997, que se tornou referência em loja multimarcas internacionais que fugia do óbvio. A abertura da NK Store BH faz parte do plano de expansão nacional da empresa, ocupa 390 m² do primeiro piso do Meeting Shops, no Belvedere, e é chamada carinhosamente como NK Beagá.

Você é arquiteta, ama arte e escolheu trabalhar com moda. E essas três áreas são muito presentes na sua vida. Como une tudo isso?
Fiz faculdade de arquitetura e sempre fui uma grande entusiasta de design, fotografia e moda, por isso as duas áreas têm um peso muito forte para mim. Quando fiz um estágio, entendi que o processo criativo e de execução na arquitetura é pouco dinâmico para mim. Percebi que meu lugar era na moda pela expressão momentânea, a moda é a fotografia da sociedade. Na moda, expressaria melhor meus pensamentos artísticos. Elas são as duas únicas profissões que trabalham os dois lados do cérebro, racional e emocional, criação e construção, de maneira igual. E tudo isso é pura arte.

Como foi sua história com o Tufi Duek?
O Tufi sempre foi uma grande referência para mim. Ele fundou a Forum em 1975, quando eu nasci. Como toda adolescente e jovem da minha época, era apaixonada pelas roupas da marca e tinha uma enorme admiração por ele e por seu trabalho. Em 1997, abri minha loja e viajava para feiras e eventos. Além da moda, temos outro ponto em comum, ambos fazemos parte da colônia judaica. Já havia cruzado com ele algumas vezes. Em 2009, visitei o showroom da Forum, tivemos a oportunidade de conversar mais e nos apaixonamos. Temos dois filhos, Ava, de 14 anos, e Esra, de 12. Os nomes são hebraicos, o da minha filha significa amor e o do meu filho, aquele que ajuda.

A arquitetura tem um lugar especial nas suas lojas?
Arquitetura e moda caminham próximas, são minhas duas paixões e por isso sempre me envolvi nos projetos das lojas. Contratei o Estúdio Tupi para fazer o projeto em São Paulo e eles fizeram um trabalho incrível, usando como referência a icônica escada de Oscar Niemeyer no Itamaraty, provocando a ideia do que é copiar, o que é se inspirar, reproduzir. Essa referência se tornou ponto importante em todas as nossas lojas. Fizemos um acordo com a Fundação Oscar Niemeyer para homenageá-lo em alguns dos projetos. O ponto central das nossas lojas são sempre os provadores, eles são sempre temáticos, inspirados em referências locais. Em Belo Horizonte, os “espaços de vestir” ganham nomes que celebram ícones de Minas Gerais: “Oscar” inteiro forrado de carpete verde com inspiração no trabalho de Niemeyer; “Ouro Preto”, com revestimento dourado e referências à cidade histórica mineira; “Del Rey”, onde a azulejaria da região de São João Del Rey foi traduzida em um vibrante tecido em jacquard azul e branco e o provador “Diamantina”, inteiro de espelhos recortados que formam um grande painel cintilante. Em BH, usamos móveis de lojas locais e antiquários.


No início sua loja era multimarcas. O que te levou a abrir marca própria?
Sempre procuro marcas que não são óbvias, que têm um caminho um pouco mais vanguardista, que ainda não estão no mainstream. Gosto de apostar no que ainda vai acontecer, no que é menos comercial e mais de moda, casas independentes que se arriscam em lançar moda para quem ama moda. Algumas dessas apostas viraram grandes marcas e hoje têm operações no Brasil. Atualmente, vendo as francesas Jacquemus, Givenchy, Rabanne, Courrèges, Isabel Marant e Patou, além de Ganni, de Copenhagen e a espanhola Loewe. Essa busca por novidades faz parte do DNA da NK. Logo depois de abrir a loja, eu criei a marca, não por sentir falta de algo, mas por demanda. Não acredito no formato padrão de lançamento de coleções, por isso trabalho sempre com estações opostas. No inverno, senti falta de peças e acessórios para verão e comecei a criar complemento para essas roupas. Passei a colocar essas brechas em estações opostas. A demanda só aumentou, ganhou uma força que não imaginava que teria e se tornou uma forte característica da NK Brand. Comecei em 1998 trabalhando com malharia e jeans, que, no Brasil, são de excelente qualidade. Passou a ser nossa identidade e representar 80% do faturamento da loja.

Sua roupa é atemporal?
Sim, atemporal, cosmopolita, com peças autorais desde o casual até moda festa. Trabalho com tecidos internacionais, meus fornecedores são os mesmos da Chanel, Prada etc e usamos mão de obra nacional para nossos bordados. É uma roupa sofisticada, elegante e sem excesso.

Neste mundo, onde tudo tem que ser rápido, como você trabalha suas coleções?
Somos mais do slow fashion. Temos um guia nas estações. Trabalhamos as inspirações que são entregues com oito a 12 meses para produção e depois fazemos entregas mensais ou a cada dois meses das peças prontas para as lojas. Trabalhamos com ansiedade, nossa roupa não é datada, não é “perecível”, ao contrário, buscamos criar peças que possam ser perenes no guarda-roupa feminino.

Qual é a sua expectativa em chegar a BH?
BH sempre foi um mercado muito relacionado com moda, com grandes nomes no mercado nacional. Temos muitas clientes de BH, mas chegamos com humildade e serenidade. Queremos aprender sobre a cidade, os costumes, a moda. Aqui é um hub de novos estilistas e novas marcas e essa mistura é muito atrativa. A mulher de Belo Horizonte é sofisticada e tem apreço por moda, tem um olhar para a moda nacional. É um privilégio ser recebida com tanto carinho em Belo Horizonte e poder trazer nossa casa de moda para Minas Gerais reforça a CIO ( chief inspirational officer) da NK.

Você é casada com um ícone da moda, que é o Tufi Duek. Vocês trocam ideias sobre a NK?
Nossa relação transcende a de amor porque temos uma afinidade muito grande sobre esses temas, que são moda, arquitetura e design. Sempre que tenho alguma dúvida, algum grande questionamento recorro a ele. É um mentor disfarçado de marido ou talvez um marido disfarçado de mentor.