Eram apenas 48 modelos, mas o formato do desfile proposto por Bill Macintyre, produtor-executivo do desfile “Moda no Jardim Sensorial”, permitiu que elas se multiplicassem na passarela em um vaivém de tons bem editados, que encheu os olhos da plateia. Em cena, a autoralidade dos estilistas mineiros, 40 deles veteranos, oito novos criadores escolhidos por meio de uma curadoria apurada, expressando suas impressões sobre a vida e poesia existente nos jardins.
As grandes estrelas foram as flores cultivadas de acordo com o talento e versão de cada designer convidado pela Associação dos Criadores e Estilistas de Minas Gerais (A.Criem-MG) para participar do evento. A partir do tema proposto, Giovanni Frasson, responsável pelo styling do desfile, foi buscar inspiração no gineceu, termo botânico relacionado aos órgãos reprodutores de uma flor, responsável pelas transformações no universo mágico de um jardim.
O primeiro look, assinado por Camila Faria, já era um prenúncio do que viria a seguir. Bem curtinho, tinha como base um vestido tomara que caia com bojo estruturado todo bordado à mão. Colorido e gráfico, o trabalho foi elaborado com minividrilhos e miçangas e inspirado em quadro de Ronaldo Leite. A sobreposição de um segundo vestido construído no crinol em tom de pele suavizava o colorido, tendo como destaque uma maxiflor artesanal no mesmo tecido.
“Esse desfile não está atrelado às tendências nem às estações do ano. A proposta da A.Criem é exibir o potencial dos estilistas, explorar a veia criativa de cada profissional em um momento autoral e de real importância para eles”, ressalta Antônio Diniz, presidente da associação.
Ele destaca que o evento só foi possível de ser realizado devido à parceria com o governo de Minas por meio da Secult-MG e dentro do programa Passarela Liberdade, que propõe várias ações para o setor da moda. O patrocínio é da Cemig via Lei Estadual de Incentivo à Cultura (LEIC).
O que se viu na passarela é resultado da dedicação de cada designer no sentido de exibir produções que fugissem das coleções convencionais das marcas para as quais a maioria trabalha, em um verdadeiro exercício de criação.
Bárbara Luiza de Oliveira, por exemplo, expert no segmento jeanswear, lançou mão do denin e do crepe de viscose em tons bem clarinhos de azul para homenagear a gérbera. Reunindo um mix de elementos, como poesia, conhecimentos de modelagem e da matéria-prima que domina, desfilou uma roupa especial, em que se destacavam a jaqueta com flores vazadas em 3D e a cauda do vestido revestida por camadas de pétalas cortadas a laser.
flores frontais
Rosas tridimensionais também estiveram presentes no longo azul açucarado em silk chiffon construído por Carol Castro. Já o look off white mostrado por Guilherme Marconi teve como destaque flores frontais em S, em um movimento que começava no pescoço e seguia ao longo do quadril do vestido esvoaçante. “Gosto da delicadeza, queria apresentar algo leve, como as asas de uma borboleta, e delicado como pétalas”, ressalta Marconi, enfatizando a beleza do trabalho executado pela florista Geralda Brandão
No caso de Fábio Resende, a referência foram os brincos de princesa. À frente da Miêtta, ele mesclou o estilo urbano da marca com um toque de romantismo em um look valorizado por rendas. “Elas foram trabalhadas em leves jabôs, que remetiam aos jardins suspensos. Todo o material veio do estoque de uma empresa que fechou. E a peça foi tingida manualmente em degradê”, explica Fábio.
O orquidário do Palácio da Liberdade ganhou nova versão no vestido em organza fluida estampado em orquídeas aquareladas, com efeito distorcido, criado por Victor Dzenk. Aplicações de orquídeas em organdi cortadas a laser e bordadas com plumas em tons bege-ouro também estavam presentes no decote e pescoço da peça, descendo por ela em efeito degradê.
Indo para um jardim mais longe, Larissa Villanova buscou inspiração no desabrochar das magnólias, no Parc de Lorangerie. A fluidez das formas, conforme a visão da estilista, é uma ode à delicadeza do visual das árvores arredondadas, representadas por círculos transparentes, que flutuavam sobre uma base transparente.
Já a proposta das irmãs Isabela e Célia Bicalho passou por uma interação entre a arquitetura eclética do Palácio da Liberdade e o seu jardim projetado pelo paisagista Paul Villon. Simetria e geometria e a vasta variedade da flora influenciaram a criação de um look imponente valorizado por capa majestosa.
Nesse jardim repleto de sensações e mutações invisíveis, existe espaço para os trajes masculinos, como o de Amarildo Ferreira, que teve como ponto de partida a música “Flores em você”, do Ira. “Queria algo com cara de verão, com leveza e sensualidade”, diz o estilista. O look, construído em tecido pele de ovo, aquele que se usava para fazer roupas de bebê, ganhou azaleias bordadas em uma das pernas da calça.