O sonho dele era trabalhar com estampas exclusivas. Mas faltavam dinheiro e clientela para comprar a quantidade mínima de tecido que a indústria exigia. Restavam poucas opções, e nenhuma agradava tanto assim. O que ele fez? Começou a desenvolver os seus próprios desenhos. Esses foram os primeiros passos de Bruno Schott para criar a marca carioca Zsolt, reconhecida pela estamparia autoral e artesanal.
“Desde criança, gostava de reformar minhas roupas, então me pareceu muito familiar fazer as minhas estampas. Comecei dentro de um apartamento. Fiz 10 blusas, estampei, vendi, juntei dinheiro para fazer mais 20 e não parei mais. Nesse momento, chamei a minha irmã para ser minha sócia de novo, porque achei que o negócio ia engrenar”, relembra o publicitário, que escolheu seguir o caminho da moda.
Os irmãos Bruno e Thatiana são de Nova Friburgo – polo de lingerie no interior do Rio de Janeiro – e, seguindo os passos da mãe, que sempre teve marca no segmento, chegaram a ser sócios em uma confecção de cuecas. O negócio não deu certo e Bruno foi para a capital estudar moda. Mas não desistiu de fazer roupa.
Os experimentos começaram com o mais simples tie-dye e foram evoluindo com o tempo e a prática. “No processo, fomos descobrindo formas de estampar. Caía uma roupa à noite do varal, molhava com a chuva e logo percebia que, se repetisse, conseguiria fazer um tipo de marcação. Espirrava tinta sem querer e entendia que, se usasse pincel, ia dar um efeito legal. Foi tudo muito intuitivo”, conta Bruno, mostrando que os testes ampliaram os horizontes e deram a direção.
Hoje a marca trabalha com várias técnicas. Tie-dye e shibori são as principais. Apesar de terem origens diferentes – uma surgiu nos Estados Unidos e outra no Japão, o conceito é praticamente o mesmo: fazer torções e amarrações no tecido (em alguns casos, com a ajuda de barbante) e mergulhá-lo na tinta para chegar às padronagens desejadas.
A outra técnica de estamparia utilizada tem o nome de batique e consiste em desenhar no tecido com cera de abelha. “Você passa a cera de abelha derretida onde não quer que o pigmento entre, mergulha o tecido e ele fica colorido só onde não tem cera”, explica. Depois é só remover a cera com água fervente. O designer também recorre a pincéis e rolinhos, aqueles mesmos de pintar parede, para fazer os desenhos.
Como gosta de oferecer exclusividade, Bruno não se contenta com as tintas que já existem no mercado. Normalmente, mistura cores primárias para chegar ao tom que imaginou para cada coleção. Por ser um processo artesanal, acaba que, mesmo seguindo uma padronagem, surgem pequenas variações e cada peça vai ser única, o que deixa o produto ainda mais exclusivo.
Leveza e conforto
Malha de algodão, algodão e linho são as bases mais usadas na Zsolt. A escolha de tecidos naturais se justifica pela necessidade de oferecer peças leves e confortáveis, considerando o clima do Rio de Janeiro, e pela vontade de trabalhar com matéria-prima de qualidade. “Com a mudança climática, estamos vivendo um calorão em todos os lugares, então roupa fresca é cada dia mais fundamental. Por outro lado, as nossas peças recebem muito bem as camadas. Se você jogar um casaco, vai estar aquecida”, pontua.
Antes de ter marca própria, Bruno chegou a revender roupas e essa experiência o ajudou a entender que a sua cliente gostava de uma modelagem mais solta. “Vendemos para uma mulher mais madura e ela preza muito pelo conforto, sem perder o estilo. Chamamos de mulher de galerista, que é ligada às artes, autoconfiante, bem resolvida, que não tem necessidade de mostrar sua silhueta.” Seu público majoritário está acima dos 45 anos.
A saia Sopro é um ótimo exemplo. Abaulada, tem o formato de balão e fica mais longe do corpo. Está na arara desde o início da marca e segue como um hit. Assim como a calça Balão, uma pantalona bem ampla, que não pode faltar na loja. Virou clássico. Até o blazer pode ter shape mais fora do corpo. O Ipanema, que está entre os últimos lançamentos, chega com ombreira avantajada e comprimento abaixo do quadril.
Ao apostar na qualidade dos tecidos, que se soma à busca por modelagens atemporais, a marca quer levar para o armário das mulheres roupa para durar a vida toda.
Costuras à mostra
Chama a atenção a linha Wabi Sabi, em que sobras dos cortes das coleções se transformam em novas peças. Eles vão juntando os pedaços de tecidos e fazem um novo tingimento por cima. Com isso, não mandam quase nada para o lixo – Bruno estima que apenas 1% de resíduo têxtil tenha que ser descartado.
“Algumas clientes começaram a usar as roupas ao contrário, aí percebemos que isso era legal e que existia demanda. Hoje todas as peças dessa linha são assim: deixamos a costura para fora para evidenciar o trabalho.” Essa é a linha mais trabalhosa da confecção, mas, ao mesmo tempo, tem a vantagem de reduzir o impacto ambiental.
Expansão calculada
A história da Zsolt começou há 11 anos. A participação no evento Carandaí 25, no Rio de Janeiro, abriu as portas do mercado para os irmãos (ele como diretor-criativo e ela, diretora administrativa). Em 2016, diante da boa aceitação das roupas, partiram para a inauguração de loja própria no bairro de Ipanema. Em Belo Horizonte, além de marcar presença na multimarcas Casa 89, eles participam, todos os anos, da Quermesse da Mary, feira com curadoria da designer Mary Arantes.
A relação com BH ficou ainda mais estreita depois da collab com a marca mineira de acessórios Carlos Penna. Bruno e Carlos se conheceram em uma viagem para a Amazônia e decidiram trabalhar juntos. “O Carlos tinha em mente muitos broches e gostamos da ideia de dar a possibilidade para a mulher de acinturar a nossa roupa, que é ampla por natureza. Escolhemos curvas orgânicas, que conversam com a nossa linguagem, e assim surgiu essa parceria”, conta o carioca.
A collab reúne nove modelos de broches, que estão à venda na Zsolt (Rio de Janeiro) e na Carlos Penna (BH). Bruno aproveita e confidencia o sonho de abrir loja própria em terras mineiras (e em São Paulo também). Enquanto isso, segue com os planos de internacionalização.
Com o apoio do Sebrae, a Zsolt já participou de feiras em Paris e Nova York. No mês que vem, retorna aos Estados Unidos com a expectativa de captar mais clientes de atacado. As roupas, produzidas em Nova Friburgo, numa confecção 100% própria, podem ser encontradas em lojas na Carolina do Norte e na Califórnia. “Percebemos que a moda carioca é muito bem-aceita no Brasil e no mundo.”