Com uma proposta temperada pela sensualidade, erotismo e fetiche, Marcelo Alvarenga e Juliana Figueiró conceberam a Suíte do Amor, na CasaCor Minas, e levaram o Prêmio Estado de Minas de Arquitetura e Design de Interiores na categoria melhor ambiente. A dupla comanda a Play Arquitetura, escritório antenado, que virou notícia, recentemente, ao ganhar a concorrência para realizar as obras de revitalização do Othon Palace BH, imóvel que ficou fechado por muitos anos.
Agora, chama a atenção novamente com a conquista do prêmio do Estado de Minas pela criação atrevida de um espaço fantasia, não convencional em mostras similares, que investiga as relações amorosas. Para a ampla suíte com 100 metros quadrados, eles investiram em uma narrativa em torno do erotismo e seus desdobramentos, um verdadeiro exercício de semiótica.
Quando os dois sócios foram convidados para conhecer o Espaço 356, retrofit de um antigo motel, onde está sendo realizado o evento, brincaram que só participariam se pudessem fazer um quarto de motel. A história prosperou, eles levaram o projeto adiante com o aval dos organizadores e por acreditarem que a arquitetura deve instigar, estimular, propor.
“Gostamos de pensar pelo caminho dos conceitos, de alguma ideia que vá amarrando as escolhas. E a liberdade que uma mostra, como a CasaCor, oferece aos arquitetos e decoradores é ótima para a gente experimentar”, pontua Marcelo. Ele explica que o ambiente foi composto a partir de uma ideia e de uma boa base arquitetônica. Em seguida, foram sendo acrescentadas referências, ora de cunho mais erótico, ora mais estético e funcional. “Procuramos, sim, estimular os sentidos e, naturalmente, as fantasias de cada um, mas a verdade é que colocamos elementos bem concretos nessa composição”, garante.
A leitura recente do livro “Agonia do Eros”, do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, também contribuiu como suporte para o trabalho, segundo o arquiteto. De acordo com o autor, o erotismo vem se perdendo em tempos individualistas e narcisistas. “O Eros, o amor é o encontro com a alteridade, com o desconhecido e com o mistério. Além disso, uma insatisfação permanente devido a uma idealização narcísica do outro complexifica em excesso nossas fantasias e perversões. Então, tínhamos em mente fazer um espaço que nos estimulasse de uma forma real e agradável, sem uso excessivo de tecnologia, de telas e artifícios”.
Desde o início do projeto, a dupla sabia que boas obras de arte, com o tom ideal para compor o ambiente, seriam fundamentais. Então, convidaram Humberto da Mata para criar um buraco na parede, um buraco erótico, democrático, que fosse feminino, mas também masculino. O artista, conhecido também como designer e por suas criações lúdicas, estranhas e sensuais, assina ainda uma luminária de pé, em tom entre amarelo e creme, na suíte.
A tela da Júnia Penido foi outra escolha acertada. “Conhecia uma pintura dela, que retrata duas mulheres de costas, cujo foco são os cabelos longos e claros das duas figuras. Acho cabelo uma coisa extremamente sexy. Como ela já havia vendido esse quadro, optamos por outra que, além dos cabelos, tem um olho, que me parece de cavalo, o que também é erótico por determinado viés. Ela se encaixou perfeitamente no clima que queríamos”, ressalta Marcelo.
A curadoria inclui obras mais explícitas, mas também muito suaves, como os falos criados por Susana Bastos – as esculturas de madeira e metal Broto Faca e Broto Escroto – e as vulvas de tecido de Júlia Panades, batizadas de Flâmulas Fêmeas. Além delas, há o vídeo da Sílvia Herval e Daniel Ribeiro, envolvendo maçãs do amor e outros elementos mergulhados em calda de açúcar vermelha, e o poema “Eu te amo”, de Dimitri Br., que complementam o local.
Estímulos
“Propusemos um espaço coeso, mas com estímulos pontuais, diversificados, espalhados ao longo dele. Imagino que essa alternância entre estímulo e relaxamento faz com que os visitantes criem suas próprias histórias”. Sim, o público tem apreciado a proposta, o viés da arquitetura, e se interessado muito pelos detalhes. “Pensamos em um ambiente que fosse agradável aos olhos, ao tato, aos ouvidos, trabalhamos com elementos básicos, que valorizamos na arquitetura, que é a proporção, a luz natural, o ritmo”.
Dentre os cuidadosos detalhes, uma parede-biombo em zigue zague, inteiramente espelhada, cria reflexos imprevisíveis e surpreendentes. Os móveis foram desenhados com exclusividade pela Lider Interiores e, pela escolha das cores, fornece elegância ao lugar: a cartela vai do rosa ao marrom, passando pelo laranja. O vermelho ficou reservado para o vídeo baseado nas maçãs do amor.
Tons neutros – beges e cremes – aparecem na composição da cama – colcha, manta, capas de travesseiros em seda elaborados pela Momento. Estão também nos tapetes e sedas da Marie Camille, que contribuem para o clima meio 70% adotado. “Outra escolha que nos guiou em termos de materialidade e de cores foi a banheira transparente da Belíssimo Vallvé, em tom esverdeado, que, assim como os espelhos, cria um bom contraste. Para as paredes, escolhemos um amarelo mostarda, que tem no fundo uma pitada verde”.
Destaques da iluminação são as luminárias Ferrão e Argola, do Estúdio Rain, feitas em aço polido, com formas com apelo fetichista. As outras luminárias são da Alva Design e do Estúdio Sala para a marca mineira Autoral.
“Ficamos muito felizes com o prêmio do Estado de Minas, agradecidos aos jurados e a todos os colaboradores nesse projeto com a gente. A CasaCor é o lugar das parcerias, dos trabalhos feitos a muitas mãos. A premiação é o reconhecimento de que um bom resultado só acontece com um trabalho coletivo bem orquestrado”, enfatiza o arquiteto.