Moda, arte e inclusão estão presentes na Almacor, uma marca especial que está surpreendendo o mercado pelo seu tom poético e valores especiais. Concebida para ser uma galeria de vestir, essa história é representada por artistas talentosos, que enchem suas telas de emoções, espalhando-as pela superfície das roupas.


Cada um deles tem uma história extraordinária como as suas próprias vidas e, apesar das deficiências, exibem um currículo repleto de reconhecimentos, prêmios e exposições individuais e coletivas, nacionalmente e internacionalmente. Cynthia Jaber, uma das responsáveis pelo projeto, já fazia um trabalho com a mesma pauta em outra experiência na moda.

 

Almacor/divulgação - "Acreditamos na autoralidade, no ineditismo, na brasilidade

Na Almacor, ela foi amplificada e ficou mais forte com a entrada da sócia, a baiana Cecília Freire. O elenco inclui quatro criativos, que navegam em subtemas diferentes. “Cada um tem uma linha diferenciada de pintura. A essência da marca é vender, muito além de roupas, causas. Criamos símbolos de comunicação e liberdade”, frisa a empresária.


Bernardo Tochilovsky é um dos destaques do time. Ganhou o apelido de “poeta das cores” por suas pinceladas largas, traços coloridos e vibrantes Desde pequeno, escolheu o desenho como forma de lidar com seus sentimentos e expressar suas percepções do mundo. Hoje com 24 anos – teve o diagnóstico de TEA – Transtorno de Espectro Autista aos seis – brilha em uma carreira em ascensão e com temas que revelam a exuberância da natureza e remetem ao movimento modernista e representação de um Brasil colorido e fresco. Ele participa de mostras não só em cidades brasileiras, mas em países como Marrocos e Portugal.


Extraordinário também é o piauiense João Elyo Araújo Castro. A veia artística se revelou na infância, manifestando-se, primeiramente, em pisos, móveis e paredes de sua casa. Amante de cores fortes e de um estilo contemporâneo abstrato, que lembra Jackson Pollock, o artista, diagnosticado com Síndrome de Down, também se inspira em elementos da natureza.


Com projeções relevantes fora do Brasil, mostrou suas obras na Califórnia, nos Estados Unidos, esteve presente na exposição “Carrousel du Louvre”, em Paris, em 2022, e em Florença, na Itália, um ano depois. Recebeu o prêmio de melhor arte abstrata, em salão de artes de Madri e teve sua biografia publicada em uma página do livro “Vivemos arte”.


A outra artista extraordinária, que integra o time da Almacor, é Clara Woods. Filha de uma brasileira, ela sofreu um AVC enquanto estava na barriga da mãe, o que a impossibilitou de ler, escrever ou falar. Entretanto, a jovem de 18 anos compreende perfeitamente os três idiomas integrantes do seu universo particular: português, italiano e inglês.


Em 2018, inspirada em Frida Khalo, sua musa, e com o suporte da família, Clara fez sua primeira exposição em Florença, onde nasceu. Desde então, são mais de 30 mostras em três continentes. Com identidade pop, referências de Basquiat, Warhol e da própria Frida, em 2021 foi escolhida pela Louis Vuitton para participar da Art Basel, em Miami, como convidada.


Gio Freire é a artista mais nova dessa galeria, diversificando seu trabalho por meio das influências impressionistas românticas, que evocam Fialho e Monet. Ela vem da mesma escola de arte de Bernardo Tochilovsky, em Salvador, e a forma de pintar e conjugar tons ganhou atenção da sua professora de pintura, que previu uma carreira bem-sucedida para a menina de 12 anos, diagnosticada com TEA – Transtorno do Espectro Autismo.
Sem tempo

Mas não só de liberdade e inclusão vive a Almacor: as peças colecionáveis têm viés sustentável e vão além do tempo. As coleções não se prendem a nomes ou estações e são produzidas por meio do slowfashion e de práticas coerentes com o conceito, instigando o consumo consciente.


“Acreditamos na autoralidade, no ineditismo, na brasilidade. Estamos construindo um caminho para que esses artistas possam se inserir, cada vez mais, no mercado de trabalho e sejam reconhecidos por seus talentos e por suas expressões artísticas autênticas. Os diagnósticos que receberam não os definem”, pontua Cynthia.


Sua sócia, Cecília Freire, compartilha a opinião. Mãe de Gio Freire, a pintora novata do time, e de Zé Freire, ambos com TEA, a razão de se juntar à Cynthia foi o desejo de construir esse mercado de trabalho para os filhos por meio da arte.


Nesse caminho, aprofundou seus conhecimentos sobre o autismo, o que a levou a insigths individuais de como lidar com a síndrome. A graduação no curso de psicologia foi um desses investimentos. “Conheci a Almacor através do instagram. Fiquei encantada com a história do coletivo e da força que ele pode ter”, explica.


As telas criadas pelos artistas são respeitosamente transformadas em estampas e aplicadas nas peças da coleção, respeitando a identidade de cada um. “O pensamento é vender como obra de arte”, frisam as sócias. A ideia foi apreendida pelo estilista Antônio Gomes, que enxergou claramente como a contribuição de cada um poderia funcionar no desenvolvimento do trabalho.


Dessa forma, os traços de cada um escorregam para vestidos, saias, calças, quimonos e caftãs e chegam até os versáteis panneux e lenços, com feminilidade, vigor e conforto. “A Clara é mais pop e urbana, sua proposta está na linha de jeans com corações aplicados. O trabalho do João Elyo ficou muito bem na linha comfy, com os vestidos de tule. A pintura da Gio caiu bem nos caftãs e quimonos. A do Bernardo, com seus pássaros e natureza exuberante, se enquadrou na linha resort e no cetim”, define Gomes.


Bases em seda pura, linho viscose, poliamida, algodão estão entre as matérias-primas da marca. “Busquei o que há de melhor na indústria têxtil e, com o meu relacionamento nesse setor, produzimos a estamparia digital com excelente qualidade”, afirma Cynthia, que tem uma longa história com a área de moda, como representante têxtil de empresas renomadas do mercado brasileiro. “A missão da Almacor é tirar o extraordinário do invisível”

 

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