O criador sabe que acertou quando as pessoas olham para um produto e identificam de onde ele é. Com a Cecile é assim. A marca belo-horizontina de acessórios tem uma identidade muito própria. Autêntica, irreverente, criativa, ela leva para as peças um quê vintage com ares parisienses, que se mistura a um estilo romântico e delicado. Não passa despercebido o trabalho de criar miniaturas de vestir.
A Cecile tem um começo muito parecido com o de outras marcas. A fundadora, Carolina de Oliveira, não encontrava acessórios que se encaixassem no seu estilo e decidiu fazer suas próprias peças, que logo deram o start da marca, em 2019. A designer tinha iniciado sua carreira na moda como stylist, mas rapidamente se desgastou com o trabalho e ativou a vontade de empreender.
“Não tinha noção de fabricação de acessórios, mas tenho facilidade com trabalhos manuais e comecei a desenvolver técnicas testando. Não fiz nenhum curso de joalheria, mas estudei muito por fora”, conta. A maioria das peças são de metal banhado a ouro (90% das clientes preferem o dourado).
No início, Carolina montava as peças encaixando várias partes compradas prontas. Foi quando encontrou a cigarra, que teve uma aceitação surpreendente. A partir disso, ela decidiu que a coleção seguinte teria um inseto, aí veio a joaninha. “Não fazemos nada por fazer, sempre pensamos em peças com significado. A joaninha traz sorte, prosperidade, abundância e para mim tem uma questão de memória afetiva, lembra a casa da minha avó”, pontua.
Depois vieram outros insetos, como borboleta, abelha, formiga, besouro, libélula e mariposa, já com desenhos autorais, que seguem a anatomia original, mas de uma forma estilizada. O broche de abelha com asas vazadas é um best-seller. Falando nisso, outro sucesso de vendas é o colar com galhos, folhas e pedras coloridas que remetem a frutas. A natureza sempre foi uma inspiração para a marca, que explora bastante a estética do “cottagecore”, com referências da vida simples no campo.
Seja qual for a temática, Carolina gosta muito de trabalhar com a ideia de miniaturas. A última coleção traz o frescor das frutas. No pomar, estão “plantados”, por exemplo, brinco de morango em resina vermelha acoplado a ramo de metal e a dupla de colares “Minha metade”. Os pingentes diferentes, mas que se encaixam (um em formato de laranja inteira e outro de gomo), foram pensados para demarcar relações de casais, amigos, irmãos etc.
Junto com as frutas, entraram no catálogo peças com minis regadores, pás e rastelos, que complementam a proposta de valorizar o cultivo e o que vem da terra.
A coleção inspirada em Paris tem vários acessórios que reforçam a preciosidade do trabalho com miniaturas. A linha com godê (superfície que os pintores usam para depositar as tintas), pincel e bisnaga é tão apaixonante que vem arrebatando o coração de muitas clientes. Carolina pensa nos mínimos detalhes, literalmente. Só para você ter uma ideia, a bisnaga tem a ponta pintada vermelha, como se a tinta estivesse saindo, e do lado de fora está desenhado um coração na mesma cor.
A designer voltou de uma viagem a Paris com a cabeça fervilhando de ideias e se aproveitou dessa vivência para fazer miniaturas que remetem ao café da manhã dos franceses: uma xícara de café cheia (com resina marrom que simula a bebida), um prato onde tem um croissant e o escrito “bonjour”, framboesa e mirtilo nas cores originais, além de uma cadeirinha no estilo parisiense.
Coração
Para completar essa coleção, uma câmera polaroid se transforma em pingente. Aproxime-se para reparar na foto sendo impressa instantaneamente e eternizando um momento feliz simbolizado por um coração, elemento sempre presente nas peças.
Todos os desenhos são criação própria. Carolina coloca no papel suas ideias e aciona parceiros para outras etapas da produção. No ateliê, ela apenas faz a montagem e a resinagem. Para evidenciar o trabalho manual e autoral contido em cada acessório, ela teve uma ideia. “Quis colocar um timbre nas peças com a letra ‘c’, que tem a ver com Carolina e Cecile, para mostrar para as pessoas que o elas estão comprando é autoral, feito do zero.”
Por ironia do destino, a designer vem lidando com casos de cópias que geraram processos judiciais. Um deles envolve uma peça com desenho botânico imerso no movimento art nouveau. “Misturei duas plantas, a folha de ginkgo biloba e a flor do cravo, então é um híbrido. Não tem como falar que não fui eu que fiz”, desabafa, frustrada, mas, ao mesmo tempo, segura de que existem pessoas com o lado criativo aguçado que valorizam o manual, o autoral e o local.
No mês que vem, a marca vai lançar uma coleção inspirada em praia, mas de um jeitinho bem particular. Carolina adianta que não vai ter nada de concha, coral ou estrela do mar. Seu olhar está voltado para mar, areia e caipirinha.