Luz sustentável
Pirilampos do Planeta apresentam coleção de luminárias elaboradas com materiais reciclados e muita criatividade
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Siga noA enorme instalação apresentada no pátio interno do CCBB – Centro Cultural Banco do Brasil até o final de fevereiro foi admirada, fotografada e compartilhada nas redes sociais. Um “lustre” grandioso com estrutura formada por mil metros de uma corrente luminosa feita de resíduos, distribuída em 70 aros de metal presos em cinco arcos. Sustentada em quase mil metros de cabo de aço, a obra pesava mais de 1.300 quilos, tinha 8 metros de altura e 14 metros de comprimento.
Os responsáveis pela criação são Lula Duffrayer e Flávio Carvalho da dupla Pirilampos do Planeta. Chegaram em Belo Horizonte pela porta da frente, com esse impactante cartão de visitas, e, agora, exibem uma coleção de luminárias em escala bem menor, mas com a mesma essência: elas podem ser conferidas na Tom Objeto, o novo braço do Grupo Tom sobre Tom, comandado pela empresária Ana Maria Teixeira de Sá e suas filhas Fabrícia e Simone.
São peças decorativas, coloridas, nas quais tons se afinam ou contrastam de maneira muito original e, é claro, todas elaboradas com resíduos sustentáveis. Os decoradores e arquitetos de Belo Horizonte gostaram do que viram. Para a decoradora Denise Vilela, o trabalho dos dois é uma busca por uma narrativa que faz sentido no momento atual: pensar sobre o reaproveitamento de materiais, evitar descartes, desperdícios e desgastes. “Com muita criatividade, valores e propósito, eles criam peças belíssimas com consciência em reutilização dos recursos disponíveis e com inteligência”, enfatiza.
A história dos Pirilampos do Planeta se iniciou há três anos, fruto do projeto ambiental com o mesmo nome. Durante a pandemia, os artistas decidiram mudar o rumo de suas vidas. Dentro de uma reserva florestal, em Três Córregos, área rural de Teresópolis (RJ), construíram um ateliê-residência, montaram um apiário e começaram a produzir arte sustentável.
“As abelhas nos ensinaram muito, aprendemos que tínhamos de devolver para o mundo aquilo de bom que nós tínhamos”, explica Lula. Daí nasceu o programa gratuito de educação ambiental voltado para crianças em uma linguagem acessível, que pudesse atingir também os adultos. “Acreditamos que só elas podem mudar a forma de interação com o planeta. Nós somos a última geração capaz de fazer alguma coisa para salvá-lo, então tem que ser agora. O nosso trabalho é esse chamado, é um convite para começarmos a fazer alguma coisa”, ele reforça.
Nesse movimento, a dupla foi descoberta pelo multifacetado arquiteto e cenógrafo Gringo Cardia. “Ele queria que a gente criasse uma instalação em um camarote sustentável, onde estariam presentes pessoas muito influentes, celebridades de vários setores. E assim aconteceu a nossa apresentação para o mundo”, pontua.
Outra pessoa importante na carreira dos Pirilampos foi Waldick Jatobá, um dos principais nomes do design nacional, atualmente ligado ao Instituto Campana e ao Estúdio Campana. Como se sabe, Humberto e Fernando Campana fizeram sucesso ressignificando objetos do cotidiano em uma linguagem convergente entre sustentabilidade, arte e design.
Emoção
E é exatamente o que Lula e Flávio propõem: o objetivo é transformar objetos ordinários, que seriam jogados no lixo, em objetos extraordinários de arte. Tocar o emocional das pessoas com uma mensagem otimista e positiva. “Nosso trabalho fala de magia, encantamento, poesia”.
Eles explicam o que está por trás do nome que adotaram: “Como moramos dentro de uma reserva florestal, um dos problemas é a falta de energia. Na noite em que estávamos escolhendo o nome para o projeto, ficamos sem luz. E o que enxergamos, no escuro, foi um pirilampo com suas duas antenas iluminadas. O insight tinha tudo a ver com a essência de nossas criações”.
Dado a largada inicial, a dupla já participou de vários eventos e festivais de arte e cultura no Mato Grosso do Sul, Fortaleza, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. E foram, inclusive, convidados para participar da SP-Arte. “Geralmente, como as peças estão relacionadas com a sustentabilidade, há uma tendência de encará-las como artesanato. Mas os próprios espaços nas quais elas estão inseridas já garantem o status de arte contemporânea e design”.
Tudo é elaborado em conjunto com o centro de triagem de coleta seletiva em Teresópolis, lideranças de catadores das regiões de Caju e Jardim Gramacho (RJ), ONGs dedicadas à coleta de material para reciclagem, além de artistas e artesãos locais, que auxiliam na montagem das obras.
O que significa que cerca de 60 famílias estão diretamente impactadas pelo projeto, mais de 20 pessoas diretamente ligadas a ele. “O que não pode ser contabilizado é a mensagem que levamos. Isto é imensurável. A gente fala de coletividade, de união, de gente fazendo junta nessa corrente de amor ao planeta. Quando vemos a obra, percebemos que, além da forma, tem também esse lado humano das pessoas que compõem o trabalho. O que começou como educação ambiental, o mercado levou para outro patamar”, ressalta Lula.
Nas criações dos Pirilampos, o plástico se destaca: tampas de perfumes e cosméticos, roscas, material acrílico, transparências, são utilizadas como base para as coleções de luminárias, candelabros, instalações que geram uma pergunta pertinente: que luz é essa?”.