Arte em potes
Ceramista Flávia Soares abriu exposição na Casa Fiat de Cultura com bate-papo sobre seu trabalho
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Siga noFlávia Soares é um nome a ser espeitado no universo da cerâmica. Mineira de São Gotardo, é reconhecida pela investigação da conexão entre seu corpo e o barro, matéria-prima que transforma em obra arte tanto utilitária quanto escultória. Formada em Design de Ambientes e Paisagismo pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), foi durante sua formação acadêmica que encontrou a cerâmica, e nasceu ali uma grande paixão que se tornou um amor sólido pelo universo mineral. E tão grande que contagiou os filhos Daniel Romeiro e Luiza Soares. O resultado não poderia ser diferente: a criação de uma empresa que fez e faz história em Minas, O Ateliê de Cerâmica.
A empresa foi criada em Contagem onde ficou com única sede até 2023, e o local era tão bonito e agradável e as peças tão lindas e diferenciadas que as pessoas iam até sem reclamação, como se fossem fazer um belo passeio. Em 2023 abriram um showroom em uma casa tombada, na Av. Bis Fortes, próximo à Praça da Liberdade. Flávia desenvolve uma prática de resgate das técnicas tradicionais, especialmente o acordelado, onde finas tiras de argila sobrepostas manualmente dão origem a grandes potes. Em suas obras, a artista trabalha e transmite memória, feminilidade e corporeidade, utilizando a cerâmica como um meio expressivo e simbólico.
Fez sua primeira exposição individual em Contagem, "Corpo/Pote", inaugurando um novo ciclo em sua trajetória artística, e foi essa mostra, cheia de criatividade e sensibilidade, que foi convidada a ocupar a Piccola Galleria da Casa Fiat de Cultura. AA exposição poderá ser visitada até 11 de maio.
Segundo a psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte Bianca Coutinho Dias, “o percurso de Flávia Soares teve início com objetos utilitários em um ateliê familiar na cidade de Contagem, estado de Minas Gerais e, agora, encontra a síntese da inquietação artística que sempre a acompanhou. A ceramista nasceu e cresceu em São Gotardo, também no estado de Minas Gerais, mais precisamente em uma região do Alto Paranaíba, no entorno da nascente do rio São Francisco. A condensação da relação com esse lugar de origem – uma rica natureza, rodeada por águas, florestas e matas – se revela nesta exposição com vasos – surgidos do enigma e do espanto – que extrapolam a função meramente utilitária e revelam a invenção silenciosa, surgida antes do ponto máximo de maturação dos elementos da queima, pela ação do fogo e do calor. Flávia Soares transforma barro em corpo cerâmico e, nesse processo, ela inclui sua relação com a terra e com o orgânico e segue desestabilizando hierarquias e desbravando uma linguagem artística própria.”
O início
Em 2012, a designer mineira Flávia Soares começou a estudar a fabricação artesanal de objetos cerâmicos. Sua capacitação foi acompanhada pelos filhos Luíza e Daniel que, trilhando formações afins (arquitetura e design), encontraram no laboratório da mãe o espaço para amadurecimento profissional e criativo. Desde então os três ceramistas se desafiam em um processo cotidiano e autodidatico de experimentação com a terra. “Entre produção e pesquisa, buscamos a qualidade incomparável de um produto de ofício, elaborado desde a matéria bruta sob o olhar perfeccionista, criativo e sempre surpreso do artesão”, diz Flávia.
O Ateliê de Cerâmica ganhou fama nacional com uma cerâmica utilitária com design que chega perto de uma peça de arte. Pode-se dizer, sem sombra de dúvida, que o grupo é um estúdio de design, concentrado na apresentação de projetos individuais e coletivos e são apresentados em formato de galeria na casa em BH. “Temos um trabalho que transita entre a arte e o design, intencionalmente borrando o limite entre os dois. Remodelamos a apresentação das cerâmicas utilitárias para comunicar mais diretamente o nível de sofisticação e complexidade que um minucioso trabalho artesanal consegue atingir”, conta Flávia.
“Inventar um corpo na vertigem do vazio
0 homem se perguntará indefinidamente
de que lama, de que argilaele é feito”
Gaston Bachelard