Congestionamento na BR-040, saída para o rio de janeiro: tombamento de uma carreta ontem provocou interdição parcial na estrada, que acumula histórico de acidentes -  (crédito: Fotos: Jair Amaral/EM/D.A Press)

Congestionamento na BR-040, saída para o rio de janeiro: tombamento de uma carreta ontem provocou interdição parcial na estrada, que acumula histórico de acidentes

crédito: Fotos: Jair Amaral/EM/D.A Press


Prefeitos de 10 cidades mineiras fizeram ontem manifesto contra os efeitos do transporte de minério de ferro em caminhões pelas principais rodovias que cortam a Região Central de Minas Gerais, a BR-040 e a BR-356. Eles ressaltaram os recorrentes acidentes nas duas estradas, como o que envolveu ontem uma carreta carregada de minério que tombou e interditou parcialmente a BR-040 próximo de Congonhas. A solução proposta por lideranças da região é redirecionar o fluxo de carretas para a estrada vicinal ITA-330 e para a MG-030, criando a “Rodovia do Minério”. O movimento propõe também a implantação de canteiro central e execução de trevos na BR-040 para aumentar a segurança da estrada.

Intitulada “Ato em defesa da vida”, a manifestação de ontem estava prevista para ocorrer na Praça de Pedágio 9 da BR-040, mas terminou sendo feita na Prefeitura de Itabirito, porque a Via 040, que tem a concessão da rodovia, conseguiu uma liminar judicial impedindo o protesto no local programado. Estiveram na reunião os prefeitos de Itabirito, Congonhas, Conselheiro Lafaiete, Ouro Branco, Ouro Preto, Moeda, Belo Vale, Piedade das Gerais, Queluzito, Nova Lima e Cristiano Otoni. Segundo o prefeito de Itabirito, Orlando Caldeira, cerca de 1,3 mil carretas e caminhões envolvidos na logística de escoamento da produção mineral circulam diariamente pelas rodovias.

Segundo o prefeito de Congonhas, Cláudio Antônio de Souza, as sujeiras trazidas pelos caminhões que transportam minério são um dos motivos que acarretam acidentes nas BRs. A poeira e detritos atrapalham a visibilidade da pista e das placas de sinalização. Para o prefeito de Itabirito, Orlando Caldeira, é necessário fazer o redirecionamento do tráfego de carretas em ambas as rodovias. "Queremos ajudar a todos encontrando alternativas e novos traçados para as carretas com a 'Rodovia do Minério'”, disse. Segundo ele, a ideia é usar “vias internas”, aproximando o caminho do transporte de carga ao antigo modal ferroviário.

Caldeira ressaltou que os administradores municipais vão procurar os meios cabíveis para tentar acelerar o processo da duplicação da BR-040 e pedem ajuda do governo federal. "São 100 quilômetros entre o Alphaville (condomínio em Nova Lima) e Conselheiro Lafaiete, com tráfego muito intenso. Se pelo menos nesses 100 quilômetros o governo federal pudesse fazer a duplicação de imediato, acredito que o investimento seria de muita valia. Que tenha o pedágio e que seja justo, mas que façamos essa duplicação evitando a quantidade atual de acidentes e mortes", disse Orlando Caldeira.

As demandas, segundo os gestores, têm o apoio de mineradoras que exploram a região e se propõem a participar da solução do problema. Elas colaborariam em obras de melhorias na ITA-330 e na MG-030.

O DESVIO

O desvio proposto inclui uma saída pela MG-030, começando próximo ao BH Shopping, passando por pelo município de Itabirito e chegando a Ouro Branco. A outra alternativa é na rodovia vicinal ITA-330, que começa no trevo do Viaduto das Almas (na BR-040), passa perto da produtora de aço Gerdau, segue por São Gonçalo do Bação, distrito de Itabirito e, ao final, encontra com a MG-030 (veja o mapa).

A Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais e do Brasil (Amig) apoia o movimento dos prefeitos e diz estar estudando todas as possibilidades, com a criação de um grupo de trabalho. Conforme Caldeira, que além de prefeito de Itabirito é diretor da Amig, embora haja alternativa, é necessário viabilizar a infraestrutura de ambos os desvios para a “Rodovia do Minério”, com alargamento das vias, compactação e asfaltamento.

Como as vias alternativas já existem e, atualmente, não são asfaltadas, o projeto exige investimentos em infraestrutura. Os prefeitos propõem a utilização do Terminal de “Fazendão”, sediado em Mariana (MG), para retirada do tráfego das carretas que transportam minério na BR-356. Além disso, o projeto prevê a execução de duas interseções da via no acesso da Mina de Capanema e no Laticínios ITA. É necessário, ainda, segundo os prefeitos, o prolongamento da “ITA-330” até a MG-030, com pavimentação rodovia estadual no trajeto entre Itabirito e Ouro Branco, de 24 quilômetros.

Para a retirada do tráfego das carretas da BR-040 será necessária, também, de acordo com a proposta, a implantação do Terminal Ferroviário do Bação (TFB) para escoamento de 8 milhões de toneladas de minério, de modo que o trajeto das carretas, em vez de seguir no sentido BR-040, seja alterado para a Estrada Pico de Fábrica até a IT-330, sentido Ribeirão do Eixo até o TFB.
Em outubro, o Estado de Minas mostrou que as prefeituras dos municípios vizinhos às estradas e o grupo de trabalho decidiram acionar o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) em busca de uma reunião de conciliação entre empresas e entidades governamentais ligadas ao transporte e ao meio ambiente para que tirasse a ideia do papel.

ACIDENTES EM SÉRIE

A reportagem mostrou também, no início deste ano, um relatório feito pelo engenheiro civil Hérzio Mansur, no intervalo que vai do Km 563 e ao Km 617 da BR-040, entre Nova Lima e Conselheiro Lafaiete. O estudo apontou quase uma morte por quilômetro entre dezembro de 2020 e 2022. Nas contas do especialista, no período, foram 53 mortes e 272 sinistros, apurados com base nos dados da concessionária Via 040 e da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

O especialista destacou que as carretas estão envolvidas em 46,7% dos acidentes e em mais da metade dos eventos que terminaram em mortes, sendo 28 dos 53 casos em que as vítimas perderam a vida. Em nota, o Ministério de Transportes, disse que vai investir R$ 1,3 bilhão em obras de manutenção, ampliação e adequação de rodovias federais de Minas Gerais em 2023. Apesar disso, não respondeu diretamente ao questionamento sobre os desvios propostos e a agilização de intervenções na BR-040. O Estado de Minas entrou em contato com o MPMG e, até o fechamento desta reportagem, não obteve retorno.

*Estagiário sob supervisão da subeditora Rachel Botelho