Os assédios aconteciam no gabinete do magistrado em Divinópolis
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Os assédios aconteciam no gabinete do magistrado em Divinópolis

crédito: Reprodução/Google Maps

A Justiça de Minas Gerais aceitou a denúncia do Ministério Público contra Tiago Carmo de Oliveira, assessor do então juiz Ather Aguiar, suspeito de assediar servidoras e estagiárias da comarca Divinópolis, na Região Oeste do estado. Tiago e sua namorada, Aline Trindade Rocha, são réus no processo que julga os crimes cometidos contra as vítimas no ambiente de trabalho.

Tiago é processado pelos crimes de injúria com emprego de violência ou vias de fato e perseguição, qualificada por ser contra mulher. Já Aline é considerada réu por perseguição qualificada por ser contra mulher.

A decisão é assinada pelo juiz Mauro Ryuji Yaname, da 2ª Vara Criminal de Divinópolis.

No documento, o juiz também nega o pedido de absolvição primária, antes do julgamento, feito pela defesa do casal. Também foi negado o pedido para que as acusações fossem julgadas pelo Órgão Especial da Justiça mineira.

Os crimes teriam acontecido repetidamente durante os últimos meses dentro do gabinete do juiz. Em junho, a reportagem do Estado de Minas teve acesso à decisão emitida pelo Órgão Especial do TJMG. O documento aponta ao menos sete casos contra o juiz. A maioria dos casos aconteceu em 2023, mas alguns citados são datados desde o ano passado.

Uma mulher que trabalhou como estagiária no gabinete contou que foi assediada logo em seu primeiro dia de trabalho. “No primeiro dia que entrei no estágio, ele já falou comigo coisas como: 'A partir do momento que você entra aqui, sua alma é minha'. E ao decorrer do tempo, a gente vai vivenciando coisas dentro do gabinete que são fora do normal, por exemplo, o jeito dele de tratar as pessoas lá dentro, que não é uma forma normal de ninguém tratar ninguém, muito menos um juiz; brincadeiras de cunho sexual, por exemplo, ele sempre falava que ficava com as estagiárias dentro do gabinete antigamente”, relatou ela.

 

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Já outra estagiária do gabinete contou ao tribunal que chegou a ser amarrada em uma cadeira após ser agredida verbalmente pelo assessor do magistrado. “Tinha umas fitas de processo assim no armário, e ele já pegou a fita muito rápido e já foi me enrolando. Foi tudo muito rápido, porque eu tinha respondido, e ele fez isso como uma forma de repreensão na frente de todo mundo. Na hora, eu até falei para me tirar de lá, senão eu iria chorar, porque fiquei muito constrangida na hora. E ele ainda pegou depois que me amarrou, me amarrou bem forte, eu tentava abrir os braços e não conseguia sair dali; ele ainda pegou e me levou na cadeira até a sala do Dr. Ather nesse dia; saiu me carregando amarrada pelo gabinete; o Dr. Ather estava presente nesse dia; ele riu e falou que o assessor havia feito pouco que ele deveria ter me amordaçado também”, disse a ex-funcionária.

O juiz já havia sido alvo de um processo administrativo pela Ordem dos Advogados do Brasil do estado (OAB-MG). Ele foi denunciado por advogados devido a casos de maus tratos e desrespeito dentro do tribunal.

O fato teria acontecido em 2019, quando o magistrado teria se desentendido com um advogado durante uma sessão. Após ambos se encontrarem nos corredores do fórum, o juiz não aceitou conversar e continuou discutindo. Durante a discussão, um procurador de Justiça teria sido agredido fisicamente pelo juiz.

Em julho deste ano, o advogado recebeu uma homenagem da OAB-MG, onde ficou constatado o abuso de poder e atos de extrema humilhação praticados pelo juiz contra o advogado no exercício da profissão. O juiz empurrou Fábio Campos duas vezes com o dedo indicador e proferiu palavras ofensivas.

A reportagem entrou em contato com o advogado de Tiago e Aline, mas ele não foi localizado. O espaço segue aberto caso queira se manifestar.