“Eu decidi que cansei, decidi que não vou viver mais um ano desse inferno”. A fala é da delegada da Polícia Civil de Minas Gerais Monah Zein, que está desde as 9h presa dentro de seu apartamento no Bairro Ouro Preto, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte. Mais cedo, a servidora disparou contra agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) da corporação que, segundo ela, foram até sua casa para pegar sua arma de serviço. O desabafo foi feito durante uma live publicada nas redes sociais, em que a policial afirma que tem sofrido assédio dentro da PCMG.
Logo no início da transmissão ao vivo, Monah afirma que, nesta segunda-feira (20/11), um dia antes de sua volta das férias, "atos humilhantes, assediadores, bizarros, adoecedores" cometidos por pessoas de dentro da corporação voltaram a acontecer. Aos mais de 700 espectadores, a delegada relata que apresentou diversas denúncias aos órgãos competentes sobre o que estava passando, mas que nenhuma delas foi investigada.
Preocupados com o tom da transmissão, no início da manhã, amigos da servidora acionaram a polícia. Ao chegarem no local, houve uma grande discussão, quando ocorreram os tiros. De acordo com Monah, os policiais do CORE entraram no prédio alegando que ela tentava contra a própria vida. A informação foi desmentida por ela.
“Em nenhum momento dei a entender que iria tirar minha vida. Dei a entender que não ia voltar para aquele purgatório. E, sim, aos envolvidos, todos os que se envolveram de alguma forma criminosa, porque na esfera administrativa os meus pedidos para a corregedoria são simplesmente ignorados. Eu apresentei (denúncias) na ouvidoria do Estado, na ouvidoria da Polícia, na corregedoria, no fiscal do MPMG”, diz.
As denúncias de assédio, segundo aponta uma fonte ouvida pelo Estado de Minas, culminaram em uma sindicância da corregedoria da corporação contra a delegada. A investigação gerou um pedido de remoção da polícial de Conceição do Mato Dentro, delegacia onde estava lotada, para a regional de Pirapora. Porém, nessa segunda-feira, a Justiça de Minas Gerais acatou o pedido da delegada para a não mudança e mantê-la na delegacia de origem.
'Querem me fazer de louca'
Ao longo do vídeo, que mostra apenas a porta de entrada da casa da delegada, Monah relata que há dois anos tem passado por situações de assédio. Sem detalhar os episódios, ela afirma que a situação desta terça está sendo feita para que ela seja considerada “desequilibrada”. Ela conta que, a todo o momento, os policiais pedem que ela entregue sua arma.
“Quatro homens armados, com escudo, para vir aqui tirar a minha arma. Por que eles querem tirar minha arma? Eu estou trabalhando normalmente, eu não fiz nenhuma ameaça para ninguém, só avisei que não volto para lá. Ai eles vêm aqui, fazem esse transtorno no meu prédio, fazem esse vexame com vizinhos, fazem eu dar seis tiros na escada de incêndio, porque eles estão escondidos lá”, relata.
Mais adiante, a delegada afirma que pessoas de dentro da corporação estariam tentando acabar com sua carreira. “Simplesmente acabar com a carreira de alguém que eles simplesmente não gostaram, por vaidade, porque é topetuda. a administração pública em Minas é a 'casa da mãe joana', não há princípios, não há nada, não há lei. e eu não vou me submeter mais a isso.”
Por meio de nota, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou que a ocorrência ainda está em andamento. A corporação afirmou que a situação está sendo acompanhada por equipes de negociação, com auxílio do Centro de Apoio Biopsicossocial, Corregedoria Geral, Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).