Delegada Monah Zein foi encaminhada pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) a um hospital de Belo Horizonte -  (crédito: Pedro Faria / EM/D.A Press - Redes Sociais / Reprodução)

Delegada Monah Zein foi encaminhada pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) a um hospital de Belo Horizonte

crédito: Pedro Faria / EM/D.A Press - Redes Sociais / Reprodução

“Eu sei que fiquei muito assustada. Tinha certeza que era um tiro de arma”. A fala é da delegada Monah Zein, que passou 32 horas trancada em sua própria casa em Belo Horizonte depois de entrar em conflito com policiais civis na manhã dessa terça-feira (21/11). Em áudio obtido pelo Estado de Minas, a servidora relata a uma amiga os momentos que desencadearam sua prisão por tentativa de homicídio.

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Nas gravações, Monah conta que, assim que saiu de seu apartamento, ainda na manhã do primeiro dia do cerco, pediu aos agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) que abaixassem suas armas. Os homens então, ainda segundo a delegada, não responderam à ordem e, em seguida, dispararam contra ela.

“Guria, eles estavam com uns escudos e eu falei: 'Abaixem as armas'. E eles não abaixavam. Ridículo, três homens armados, tudo cheio de colete. Aí quando esse cara me deu esse tiro, não sabia o que era um troço daquele, nem sei se dá choque, o que que é. Sei que não senti nada na hora. Sei que fiquei muito assustada e tinha certeza que era um tiro de arma, foi uma sensação muito estranha”, relata a delegada.

No dia dos fatos, uma fonte ligada à corporação informou à reportagem que Monah foi atingida por um disparo de arma de choque. O fato foi corroborado pela própria delegada quem em uma transmissão ao vivo, publicada em suas redes sociais, mostrou um dado de arma de choque.

“Eles ainda estão na minha casa. E querendo que eu devolva minha arma. Como vou ficar desarmada, se eu recebo quatro policiais armados, com escudos, capacetes. Tipo, 'que porra é essa!'. Cara, nem sei como consegui tirar esse negócio do meu peito. E assim, tirar minha arma por quê? Porque falei que vou denunciá-los? Para gente! Fiquei todo tempo afastada, nunca tiraram minha arma. Para de hipocrisia”, desabafa ela em sua live.

Em entrevista coletiva nesta quinta-feira (23/11), o porta-voz da PCMG, Saulo Castro, confirmou que houve um disparo de taser. "A dinâmica dos fatos ainda está em apuração. É possível que possa ter acontecido tanto antes quanto depois, depende de apuração criteriosa da corregedoria da PC."

Também nesta quinta, a Justiça de Minas Gerais decretou a prisão da delegada por tentativa de homicídio. Segundo a advogada da servidora, o crime teria sido cometido no momento em que ela disparou contra os policiais.

Lembre o que aconteceu

Entre as 9h de terça-feira (21/11) e as 17h de quarta-feira (22/11), um cerco policial foi montado no entorno do condomínio e no prédio onde a delegada da Polícia Civil Monah Zein mora no Bairro Ouro Preto, na Região da Pampulha, em BH. O motivo da mobilização, porém, ainda não está claro. Segundo a corporação, a operação se formou depois que Monah teria publicado mensagens em um grupo de delegados sobre o suicídio de um investigador do Coordenadoria de Recursos Especiais (Core).

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Uma fonte ligada à PCMG afirmou que os policiais "ficaram preocupados" com o teor das postagens e, por isso, decidiram ir até a residência buscar sua arma. Entretanto, não tinham mandados válidos para entrar na casa.

Durante a terça-feira, Monah começou uma live no Instagram e reclamou da atuação dos agentes. Em suas redes sociais, a servidora explicou que há dois anos vem sofrendo perseguições em decorrência de denúncias de episódios de assédio moral que vinha sofrendo. De acordo com ela, na segunda-feira (20/11), seu último dia de férias, os “atos humilhantes, assediadores, bizarros, adoecedores” voltaram a acontecer. Por isso, ela afirma ter enviado uma mensagem informando que não voltaria para o trabalho.

“Em nenhum momento eu dei a entender que iria tirar a minha vida. Eu dei a entender que não ia voltar para aquele purgatório. E que sim, os envolvidos, todos os que se envolveram de alguma forma criminosa, porque na esfera administrativa os meus pedidos para a corregedoria são simplesmente ignorados. Eu apresentei na ouvidoria do Estado, na ouvidoria da Polícia, na corregedoria, no fiscal do MPMG”, disse.

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As denúncias de assédio, segundo aponta uma fonte ouvida pelo Estado de Minas, culminaram em uma sindicância da corregedoria da corporação contra a delegada. A investigação gerou um pedido de remoção da policial de Conceição do Mato Dentro, delegacia onde estava lotada, para a regional de Pirapora.

Porém, nessa segunda-feira (20/11), a Justiça de Minas Gerais acatou o pedido da delegada para a não mudança e mantê-la na delegacia de origem. No documento, consta que a sindicância partiu de uma suposta ausência da delegada, durante um plantão. Na ocasião, os denunciantes afirmam que Monah teria ficado cerca de 4 horas fora da delegacia, e que por isso um auto de prisão em flagrante teria se atrasado. No entanto, conforme consta na decisão do TJMG, sua saída teria sido de pouco mais de 1 hora, período equivalente ao seu horário de almoço.

“Tem dois anos que eu não consigo trabalhar. Tem dois anos que eu só vivo para pagar advogado, psiquiatra, para tentar me defender. E eles não param, eles não acabam, eles não aceitam você falar: 'beleza, acabou'. E não, eu não tenho plano B, não tenho família, eu não tenho dinheiro. Só que eu também não tenho vida”, diz a delegada.