Uma pesquisa realizada pelas empresas OLX, AllowMe, iCarros Itaú, Único, Who e Zoop revelou que os mineiros tiveram um prejuízo de cerca de R$ 100 milhões em golpes online nos primeiros nove meses do ano. O valor milionário que permite a compra de uma aeronave de pequeno porte ou até uma ilha foi revelado como parte de uma campanha de educação digital chamada Semana da Segurança. Além da quantidade de dinheiro perdido, o perfil de quem mais cai e quais os golpes mais comuns também foram apontados.

A pesquisa foi feita a partir da coleta de informações da base de dados e de usuários das empresas participantes e revelou que, além de alto, o valor do prejuízo sofrido pelos internautas aumentou cerca de 270% em relação ao mesmo período do ano anterior. A vice-presidente de produtos da OLX, Beatriz Soares, explica que o aumento considerável da perda financeira em fraudes é justificado pelo número também cada vez maior de compras feitas online. “A gente vem experimentando cada vez mais compra online de objetos de maior valor como carros e celulares. Isso é uma tendência natural, então mesmo que o valor absoluto de golpes caia, a tendência do valor é aumentar”.



Apesar do senso comum de que pessoas mais velhas estão mais propícias a cair em golpes na internet, a pesquisa revela outro dado interessante: 79% das vítimas em Minas Gerais são do sexo masculino e 64% têm até 31 anos. “É uma coisa curiosa, mas a gente vê que esse é o recorte que a gente tem de usuários online, então homens e homens mais jovens.”, explica Beatriz. Além disso, ela ressalta que esse perfil de internauta costuma fazer mais de uma atividade ao mesmo tempo, o que acaba gerando desatenção na hora das compras e facilitando o trabalho dos golpistas.

Além do levantamento, as empresas realizam na Semana da Segurança outras formas de educação do usuário, como a elaboração de materiais e dicas de como não cair em armadilhas na internet. Todos as orientações podem ser conferidas no site: www.semanadasegurancadigital.com.br

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Para o advogado especialista em direito do consumidor Rômulo Brasil, apesar desse tipo de ação ser comum na iniciativa privada, é necessário que o poder público também invista mais em campanhas de conscientização e educação do consumidor, para que ele saiba como comprar online de maneira consciente. “São muito importantes independentemente de quem realiza, mas vindo do poder público pode alcançar um público maior”, afirma o advogado.

Quais são os golpes mais comuns?

As empresas montaram também um ranking com os golpes mais comuns sofridos pelo usuário em Minas. Em primeiro lugar, vem o falso pagamento, quando o estelionatário envia um comprovante falso de depósito para o pagamento do item e depois some, recebendo o item sem ter pago por ele. O falso pagamento representa 43% do total de golpes.

Outra possibilidade, é a falsa venda, que representa 25% do total. Nessa ação, o golpista anuncia um produto afirmando que só o enviará mediante adiantamento do pagamento. Depois de efetuada a transferência, o estelionatário some, ficando com o dinheiro da vítima.

Em terceiro lugar, sendo 25% do total, é a invasão de contas que é possível com a coleta de dados pessoais. A utilização de senhas fracas e a repetição de senhas facilita o trabalho dos golpistas. Nesse caso, a conta da vítima é acessada e os golpistas anunciam produtos que não existem nas redes sociais. Se alguém compra o item anunciado, a transferência vai para a conta de quem está aplicando o golpe. Dessa ação saem duas vítimas: aquele que foi hackeado e quem pagou pelo produto anunciado.

Como não cair?

“Assim como a gente adota medidas de segurança para sair na rua, a gente também precisa ter isso no ambiente digital”, afirma Beatriz. Entre as dicas apontadas pela vice-presidente estão: nunca sair do chat do aplicativo de vendas e ir para aplicativo de mensagens, já que o ambiente não é rastreado. Além disso, só entregar o produto após a comprovação do depósito em conta, é importante não confiar apenas em fotos de comprovantes enviados. É necessário também ter atenção no momento da conta para não ser enganado, Beatriz aponta que o ideal é evitar fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo.

“Por fim, é necessário sempre tomar cuidado com os dados que você compartilha. A gente tem uma cultura de divulgação de dados, mas CPF, celular e dados bancários são coisas importantes de a gente não compartilhar”, finaliza Beatriz.

O advogado Rômulo Brasil também complementa com algumas orientações. Ao ser perguntado sobre como o internauta pode evitar cair nesse tipo de artimanha, ele é categórico: “Sempre desconfie.”

No caso de compras online, ele aconselha a checagem das informações: “Peça para o vendedor enviar mais fotos e vídeos do produto, ai você vê se ele realmente tem o item em mãos”.

Um outro tipo de golpe comum apontado por Rômulo é a coleta de dados através de links, quando o internauta clica em algum endereço de site enviado por um terceiro que possui vírus que podem coletar informações pessoais e permitir a invasão de contas. Para fugir desse perigo, ele aconselha: “Não clique no link antes de conferir a veracidade, se o golpista afirma que o link é de algum banco, ligue para o banco, se é de alguma promoção, ligue para a empresa que vende o produto e questione se realmente está acontecendo aquele tipo de ação”.

Já no caso de compras através de sites na internet, Rômulo afirma que todo endereço virtual deve seguir algumas regras impostas pela legislação brasileira na hora de vender produtos e serviços online. “Por exemplo, no site tem que ter o CNPJ da empresa ou CPF quando for pessoa física, além disso deve conter o endereço físico da loja e as informações referentes ao direito do consumidor, como políticas de troca e devolução”, explica. Ele completa: “Se a loja não seguir essas regras básicas como eu vou confiar que ela vai me entregar o meu produto? Ela já está se apresentando através de um site descumprindo a lei”.

Fui enganado, e agora?

Caso o usuário caia em um golpe na internet, a primeira ação recomendada é entrar em contato com a autoridade policial e lavrar um Boletim de Ocorrência (BO). “A segunda providência é entrar em contato com as duas instituições bancárias: a sua da qual saiu o dinheiro e para a qual você transferiu o dinheiro”, afirma Rômulo. De acordo com ele, os bancos têm procedimentos de bloqueio e cancelamento do valor transferido por um tempo, o que permite que o consumidor tenha mais tempo para buscar orientação.

Depois do registro no BO e do bloqueio do valor e da transação, Rômulo afirma que é importante procurar um advogado de direito do consumidor de confiança. “A análise do que pode ser feito vai ser realizada por esse profissional que vai apontar o melhor caminho para o consumidor reaver os seus direitos.”, finaliza.


Dicas para evitar os golpes

  • Evitar compartilhar dados sensíveis, como número de telefone, CPF e endereço;
  • Evitar repetir senhas em mais de um site ou plataforma online
  • Utilizar senhas fortes, com caracteres especiais, números e mesclando letras maiúsculas e minúsculas;
    Trocar as senhas de seis em seis meses;
  • Ao negociar em sites de compra e venda, utilizar o chat oficial da plataforma;
  • Somente enviar produtos que estão sendo vendidos depois de conferir na conta bancária se realmente houve transferência
    Ao realizar mais de uma tarefa online, prestar atenção em cada uma delas

 

* Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata

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