A Prefeitura de Belo Horizonte abriu, nesta quarta-feira (8/11), uma consulta pública on-line para implantação de uma faixa exclusiva de ônibus nos dois sentidos da Avenida Augusto de Lima, sentido Barro Preto, entre a Avenida do Contorno e a Rua Rio Grande do Sul, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. A mudança será válida de segunda-feira a sexta-feira, no horário de pico, entre às 6h e 9h.

Além dos 2,5 quilômetros de corredor exclusivo, o projeto prevê, ainda, melhorias no cruzamento da avenida com as ruas e nos pontos de ônibus. As outras duas faixas seguem tráfego misto. A iniciativa é um complemento ao projeto priorização do transporte coletivo na capital, que criou novas faixas exclusivas para ônibus nos principais corredores da região central.

A Avenida Augusto de Lima já conta com faixas exclusivas no sentido Centro. Belo Horizonte tem hoje 56,1 quilômetros de faixas exclusivas de ônibus, contando com as pistas do Move, e outros 16,2 de faixas preferenciais, que podem ser usadas por outros veículos, mas a preferência é dos ônibus.

Nas ruas, a possibilidade de implementação de um corredor exclusivo para ônibus na avenida Augusto de Lima divide opiniões. O repositor Eli Andrade, de 58 anos, vislumbra um alívio no trânsito com menos tempo gasto nas viagens. “Esses corredores de ônibus foram bons para os passageiros. Eu vejo pela Avenida Pedro II, e venho mais rápido por causa disso. Aqui, acredito que também seria interessante, iria melhorar”, disse à reportagem. Da porta da loja onde trabalha, ele acompanha o intenso movimento no trânsito nos horários de pico. Para ele, a faixa exclusiva é importante, principalmente à noite. “Fica totalmente engarrafado”, comenta.

O estacionamento rotativo e áreas destinadas para carga e descarga serão mantidos. Mas, com uma limitação: no sentido Bairro/Centro, as vagas serão liberadas após às 9h, uma hora depois do horário estabelecido hoje pela PBH.

A mudança para ceder lugar ao uso exclusivo dos ônibus preocupa quem depende do serviço, como é o caso do representante comercial Richard Hoffmann, de 64 anos, que utiliza o rotativo todos os dias para atender seus clientes. Ele prevê impactos na sua rotina, caso a sugestão seja implementada.“Aí não vai ter lugar para estacionar. Praticamente não tem estacionamento nessa região e quando tem é muito caro”, afirma. No sentido Centro/Bairro, não haverá mudanças e a utilização das vagas do rotativo segue normalmente, inclusive no horário de funcionamento da faixa exclusiva.

Apesar de ser contra, Richard reconhece a importância dos investimentos na priorização do transporte público, mas diz que a iniciativa deve estar alinhada à qualidade do serviço. “Lá fora é tudo trem, metrô, então você não precisa usar carro. Aqui não, é ônibus lotado, atraso. Está inviável”, disse em entrevista à reportagem do Estado de Minas. O taxista Sebastião Andrade Vieira, de 62, também não vê com bons olhos a adoção da faixa exclusiva. Na profissão há 32 anos, ele diz não ter muitas opções de ponto na região. “Dou uma volta no Centro, até desisto. Então venha para cá, porque aqui tem lugar para parar. Tem uma demanda boa”, conta.

Outro fator desfavorável para Sebastião é o receio de que, futuramente, a prefeitura exija a retirada do ponto de táxi credenciado da Avenida Augusto de Lima. “Acho totalmente desnecessário essa faixa. Vai mudar pouco, e complicar a nossa vida”, disse.

A ponderação sobre o corredor exclusivo para ônibus acontece em meio a críticas de comerciantes e moradores diante da recente implantação de uma ciclovia na avenida, debatida em audiência na Câmara Municipal de Belo Horizonte. A pista exclusiva para o tráfego de ciclistas conta com 1,1 km, entre a Praça Raul Soares e a rua Tenente Brito Melo e se conecta com outras rotas cicloviárias já existentes na Avenida Olegário Maciel e a rota Leste/Oeste (Avenida do Contorno).

A dinâmica da faixa exclusiva esbarra, ainda, nas estações de bicicletas elétricas, instaladas em pontos fixos na avenida, e ergue a dúvida se a iniciativa será mantida ou precisará mudar de local. A consulta pública serve justamente para ouvir a população e ajustar pontos de divergência. No site do executivo municipal, a população pode apontar outros tópicos de atenção. A publicação ficará aberta para envio de sugestões até o dia 7 de dezembro.

A reportagem do Estado de Minas procurou a Prefeitura de Belo Horizonte para esclarecer as dúvidas sobre o projeto e aguarda retorno. 

Faixas exclusivas de ônibus em BH

Por outro lado, a destinação de faixas para uso exclusivo pelo transporte público cobra falta de espaços na capital mineira e a redução das faixas de circulação de veículos com possíveis impactos para o comércio. Lojistas da avenida Pedro II, onde também existe faixa exclusiva de ônibus, reivindicam que o estacionamento de carros pequenos seja autorizado na via aos sábados pela manhã. Desde que o espaço reservado ao transporte coletivo foi implantado, em 2014, a parada de veículos é proibida. Aos sábados, porém, ela é permitida após esse horário.

A medida tem causado prejuízos aos lojistas e será tema de audiência pública, nesta quinta-feira, na Câmara Municipal de Belo Horizonte. “O pleito do comércio é que seja permitido o uso de alguns trechos da via ou do recuo nas próprias calçadas, que a BHTrans faça um estudo de impacto no trânsito para ver essa possibilidade”, comentou o vereador Sérgio Fernando Pinho Tavares, que solicitou a reunião.

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