Pouco mais de um mês depois que o vigilante Bruno Adão Gomes da Silva, de 35 anos, foi baleado na cabeça por um policial militar, sua defesa conseguiu acesso às imagens da câmera de segurança da base da Guarda Civil Municipal, onde os fatos ocorreram. Bruno foi alvejado à queima roupa. O tiro atingiu o olho de Bruno, fazendo com que ele perdesse a visão do lado direito do rosto.
Toda a ação dentro da cabine durou cerca de três segundos. Em seu depoimento inicial, no boletim de ocorrência, o militar afirma que se identificou como policial, assim que entrou no trailer da Guarda Municipal. Nas imagens internas do local é possível ver que o agressor não mostra seu distintivo. Ele está de capacete e só retira o equipamento de proteção após o disparo.
Inicialmente, o crime foi registrado como lesão corporal grave. No entanto, a juíza da Central de Inquéritos declinou a competência do caso e encaminhou o processo para o Tribunal do Júri. Em entrevista ao Estado de Minas, a advogada de Bruno explicou que agora há um entendimento de que o crime se tratou de uma tentativa de homicídio.
“Em seu depoimento, o policial afirmou que o disparo foi acidental. Mas não foi assim. Agora com as imagens nós vemos que ele entrou com a arma em punho, engatilhada e apontada para o Bruno”, disse Bruna Marques.
Relembre o caso
O crime aconteceu na tarde do dia 30 de setembro, na orla da Lagoa da Pampulha. Bruno dirigia um carro e teria dado uma fechada na motocicleta do policial, Aldir Gonçalves Ramos, de 41 anos. Irritado, o cabo, que estava de folga e à paisana, começou a discutir com o motorista.
Ao chegar à praça da Igrejinha da Pampulha, o policial parou a motocicleta e, com uma pedra, passou a dar golpes na lataria do carro de Bruno. Nervoso, o vigilante partiu para cima do policial. Os dois entraram em luta corporal e, em dado momento, Aldir tentou sacar o revólver. Bruno conseguiu tomar a arma e a jogou em um canteiro central.
Logo em seguida, o vigilante correu para a base da Guarda Municipal, onde se abrigou, mas o militar recuperou a arma, entrou na base e atirou na cabeça do vigilante. "Ele tentou desarmá-lo, já que em momento algum foi comunicado que ele era um policial. A PM precisa esclarecer os fatos. Houve diversas alterações no boletim de ocorrências", afirma a advogada de Bruno.
Bruno perdeu a visão com os tiros. Ele se recupera em casa desde o mês passado, mas amigos e familiares buscam ajuda para custear o tratamento.
Prisão
Dois dias depois do crime, a Justiça determinou a prisão preventiva do policial militar. Além da gravidade da ocorrência, a juíza Juliana Beretta também considerou que "os fatos se deram em um sábado à tarde, em praça pública de lazer, frequentada por crianças e adultos, potencialmente colocados em risco".
Aldir estava preso em uma unidade da Polícia Militar, na Pampulha, e foi encaminhado para o sistema prisional, enquanto aguarda o julgamento. Procurada pela reportagem, o advogado de defesa do militar disse que não irá se manifestar publicamente, apenas nos autos do processo. Ele será julgado pela prática do crime de lesão corporal gravíssima.