Antes de furtar um rosário do século 19 no Museu de Arte Sacra de Ouro Preto, na Região Central de Minas, o trio suspeito de cometer o crime, incluindo um casal, passeou pela cidade e esteve numa tradicional loja de joias do Centro Histórico, conforme registro da câmera de segurança do estabelecimento. No flagrante feito na quarta-feira (8/11), os dois estão de braços dados, agindo naturalmente, como se fossem turistas em visita à primeira cidade brasileira reconhecido como Patrimônio Mundial.

 

As primeiras informações sobre o furto da peça sacra do século 19 no Museu de Arte Sacra de Ouro Preto mostram que os ladrões são estrangeiros de língua espanhola. Na fuga, os suspeitos deixaram roupas abandonadas em trilhas diversas. O crime correu na sexta-feira (10), às 13h18, no espaço localizado sob a Basílica Nossa Senhora do Pilar, no Centro Histórico da cidade.

 



 

A investigação reúne órgãos federais, como a Polícia Federal (PF), cujos peritos estiveram no local na manhã de sábado, e estaduais, a exemplo do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Dessa instituição, trabalham em parceria, na apuração, o Centro de Apoio Operacional das Promotorias Criminais, de Execução Penal, do Tribunal de Júri e da Auditoria Militar, que tem à frente o promotor de Justiça Marcos Paulo de Souza Miranda, e a Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC), liderado pelo promotor de Justiça Marcelo Azevedo Maffra.

 

Conforme foi apurado, o rosário não tem proteção federal, porque ainda não estava incluído no acervo da Basílica Nossa Senhora do Pilar, quando ocorreu o tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1939. Foi, portanto, incorporado ao acervo do museu após o ato administrativo de tombamento.

 

Na manhã desta segunda-feira, a Arquidiocese de Mariana, à qual o templo do século 18 está vinculado, divulgou uma nota sobre o furto: “A Arquidiocese de Mariana e a Paróquia de Nossa Senhora do Pilar informam que foram adotadas todas as medidas legais e de segurança em relação ao ocorrido, no intuito de punir os responsáveis e recuperar o objeto pertencente ao acervo tombado. Porém, não podemos dar informações mais detalhadas, neste momento, sob pena de prejudicar as investigações policiais em curso.”

 

Em nota, o Iphan informou que incluiu a peça sacra no banco de bens culturais procurados. “Apesar de não ser tombado isoladamente, ele integra o acervo da basílica tombada em 1939”. A Polícia Federal foi acionada e o Iphan deve dar ciência a outros órgãos com atuação relacionada ao assunto”. Os ladrões foram filmados pelas câmeras de segurança do museu, que, logo após a ocorrência, recebeu equipes das polícias Militar e Civil.

 

Invasão

 

O furto no bem tombado ocorre no ano em que é lembrado o cinquentenário da invasão e do furto do museu localizado no subsolo da igreja barroca, um dos ícones da primeira cidade brasileira (1980) reconhecida como Patrimônio Mundial. Na madrugada de 2 de setembro de 1973, ladrões levaram 17 peças sacras, incluindo uma coleção formada por custódia e três cálices de prata folheados a ouro, de origem portuguesa, usados no Triunfo Eucarístico, em 1733, a maior festa religiosa do Brasil colonial. Os objetos de fé continuam sendo procurados pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), e se encontram entre os bens cadastrados na plataforma virtual Somdar (somdar@mpmg.mg.br). Passados 50 anos, não há, até hoje, pistas das peças levadas pelos ladrões.

 

Ao Estado de Minas, o diretor do Museu de Arte Sacra de Ouro Preto e membro da Comissão de Bens Culturais da Arquidiocese de Mariana, Carlos José Aparecido de Oliveira, demonstração sua indignação. “Mais uma vez, o Pilar é saqueado. Nossa posição é de desencanto, pois fazemos o trabalho com paixão e sofremos muito, quando isso ocorre. Parece que, em vez de museus, teremos que fazer cofres para trancafiar a história.”

 

O diretor mantém a esperança de o relicário ser encontrado. “Espero que tudo se resolva, mas é uma sensação muito ruim. Penso que o padre Simões (o pároco José Feliciano da Costa Simões - 1931-2009) sofreu o mesmo em 1973. Ver parte do acervo furtado, algo que está exposto para toda a popular ver, traz o desencanto. Este museu recebe muita gente, muitos jovens, sempre ficamos felizes em ver tanta gente visitando o Pilar, no sentido de valorizar o conhecimento e fortalecer a identidade e a nação. Infelizmente, três pessoas acabam com isso”, lamentou Carlos José, mais conhecido por Caju.

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