Moradores do Bairro Castanheiras, no limite entre Sabará e Belo Horizonte, impediram a circulação dos ônibus da linha 9030 na manhã desta segunda-feira (13/11), em protesto por melhores condições nos veículos da linha, que liga o bairro ao Centro da capital.

Entre as principais reclamações dos passageiros, estão o descumprimento do quadro de horários e o péssimo estado de conservação dos ônibus. A linha é a única da capital que trafega em estrada de terra, que deixa os veículos sujos, tanto por fora quanto por dentro.

Passageiros pedem ajuda

A manifestação foi marcada para as 4h30, horário da primeira viagem do dia da linha. Até por volta das 8h, nenhum ônibus saiu do ponto final. Quem precisou seguir para o trabalho ou escola teve que se virar como pode, seja de carona ou pedindo um carro por aplicativo.

“Para minha filha ir ao colégio, tive que chamar um Uber. A gente teve dificuldade por causa da barreira que eles estavam fazendo, claro, com toda razão”, conta a técnica de enfermagem Cintia Anita, de 45 anos. Apesar do transtorno, ela, que usa frequentemente a linha 9030, apoia os manifestantes. “Os ônibus não têm horário, andam sujos e quebrados e ainda não tem elevador. As pessoas especiais ficam sem acesso. Os passageiros que ajudam, pegam a cadeira [de rodas] e colocam dentro do ônibus.”

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Os veículos que operam a linha têm 12 anos de fabricação, idade máxima permitida pela BHTrans. A decisão da empresa concessionária de operar com veículos velhos é devido ao trecho de 1,5 km de estrada de terra, entre a Rua Catarina de Freitas e a Estrada Velha para Nova Lima. Além da falta de pavimentação, o trecho é afetado pelo trânsito dos caminhões de mineradoras da região.

Devido a esse cenário, é inevitável que os ônibus fiquem sujos após algumas viagens. Logo ao embarcar, é nítido que a sujeira no interior é maior que a de qualquer outra linha da cidade. As chapas da lataria e os vidros são marcados de terra, e os bancos tomados pela poeira, de modo que é impossível se sentar sem sair com a roupa limpa.

“Se sentar, até com a roupa escura, eu chego no serviço com roupa suja. Em época de chuva tem barro, e o ônibus fica todo molhado, pingando”, conta a técnica de enfermagem Glaucilene Rosa dos Santos, de 40 anos. Ela precisa ir trabalhar de roupa branca e, por isso, prefere fazer a viagem em pé, para tentar se sujar menos. “Se eu tivesse condições de ter um outro meio de transporte, jamais pegaria essa linha”.



Problema antigo

A PBH argumenta que a ausência de pavimentação compromete a operação da linha e afeta as condições dos veículos. O trecho de estrada de terra fica inteiramente no município de Sabará, e a prefeitura da cidade informou não ter planos para asfaltar o local.

“A solução ideal seria asfaltar ali, porque tem uma escola e uma creche perto. O bairro todo sofre com aquele pedaço”, defende a autônoma Geisiane de Sousa, de 21 anos. Ela relata que, durante a manifestação, um representante da empresa operadora da 9030 disse que pretende retirar os ônibus do Castanheiras ainda neste mês. O SetraBH (Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte) nega a informação. Procurada, a BHTrans não se pronunciou.

Caso a mudança seja efetivada, os moradores do Castanheiras ficariam restritos à linha metropolitana 4640, que liga o bairro a Belo Horizonte sem passar pela estrada de terra. No entanto, a linha tem menos viagens diárias do que a 9030 (8 x 48), não circula aos domingos e tem a passagem mais cara (R$ 6,75 x R$ 4,50).

“Os ônibus não estão em situação de andar. Então, a gente tá fazendo uma luta, um grito, para que eles possam ouvir a gente”, defende Geisiane.

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