A ocorrência envolvendo a delegada Monah Zein, que entrou em conflito com agentes da Polícia Civil nessa terça-feira (21/11), será discutida em audiência pública da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas. A servidora ficou 32 horas trancada dentro de casa após membros da corporação cercar o prédio em que ela vive, no Bairro Ouro Preto, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte, sob a justificativa de perigo para si mesma. Em entrevista ao Estado de Minas, o presidente da comissão, deputado Sargento Rodrigues, afirmou que as polícias precisam adotar “novas formas de abordagem” nos casos que envolvem denúncias de assédio e adoecimento de servidores.

Dois requerimentos foram aprovados durante reunião extraordinária nesta quarta-feira (22/11). O primeiro determina a realização de uma audiência pública para debater a degradação das condições de trabalho na Polícia Civil, tendo em vista o aumento de denúncias de assédio moral, perseguição e atos de abuso de autoridade. A reunião ainda não tem data marcada.



Já o segundo foi encaminhado à Corregedoria-Geral da PCMG e ao MPMG: um pedido para que a live feita pela delegada Monah seja analisada, assim como suas denúncias de assédio e perseguição dentro da instituição investigada. “E que sejam adotadas todas as medidas necessárias para ceifar os eventuais atos de assédio moral e perseguição, bem como impedir que novos ocorram em desfavor da delegada Monah Zein.”

Para o deputado Sargento Rodrigues, Monah precisa de amparo e não sofrer ações de repressão e punição. O parlamentar explica que os episódios de assédio moral e abuso de autoridade aumentaram à medida que os servidores têm ficado sobrecarregados.

“A Polícia Civil passa há mais de uma década por gravíssimo problema de efetivo, e isso leva as chefias a imporem uma carga de trabalho maior. E a válvula de escape das equipes tem sido o adoecimento. Quem está na posição de chefe continua cobrando e ignorando esse adoecimento”, disse.

Episódios de assédio e adoecimento mental

Na manhã dessa terça-feira, o apartamento da delegada Monah Zein foi cercado por agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) da PCMG. De acordo com o porta-voz da corporação, a ação teve o objetivo de resguardar a vida da servidora depois que ela enviou mensagens “preocupantes” em um grupo de trabalho.

Porém, em uma transmissão ao vivo divulgada em suas redes sociais, Monah relata que há dois anos vêm sofrendo assédio moral e perseguições por parte de pessoas dentro da polícia. Na gravação, ela afirma que já havia feito inúmeras denúncias, mas que nenhuma delas chegou a ser investigada.

Uma fonte ouvida pelo Estado de Minas informou que as acusações culminaram em uma sindicância da corregedoria da corporação contra a delegada. A investigação gerou um pedido de remoção da servidora da delegacia de Conceição do Mato Dentro, onde estava lotada, para a regional de Pirapora.

Porém, nessa segunda-feira, a Justiça de Minas Gerais acatou o pedido da delegada para mantê-la na delegacia de origem. No documento, consta que a sindicância partiu de uma suposta ausência da delegada, durante um plantão. Na ocasião, os denunciantes afirmam que Monah teria ficado cerca de 4 horas fora da delegacia e que, por isso, um auto de prisão em flagrante teria se atrasado. No entanto, conforme consta na decisão do TJMG, sua saída teria sido de pouco mais de 1 hora, período equivalente ao seu horário de almoço.

“Tem dois anos que eu não consigo trabalhar. Tem dois anos que eu vivo para pagar advogado e psiquiatra e tentar me defender. E eles não param, eles não acabam, eles não aceitam você falar: 'Beleza, acabou'. E não, eu não tenho plano B, não tenho família, não tenho dinheiro. Só que também não tenho vida”, diz a delegada.

Para o presidente da Comissão de Segurança Pública da ALMG, deputado Sargento Rodrigues, tanto a Polícia Civil quanto a Militar e a Penal precisam tratar as denúncias de assédio e o adoecimento de seus servidores de um jeito diferente do que foi mostrado na capital desde ontem.

“As polícias de uma forma geral precisam entender que a abordagem precisa ser diferente. Não dá para abordar esse tema como era feito antigamente: transferir o cara para o fim do mundo e ele que se vire por lá. O que essa delegada fez foi um pedido de socorro. A manifestação dela foi um pedido de socorro. Isso tem afetado outros servidores. As abordagens que a Polícia Civil vem dando aos casos de assédio estão equivocadas. Não é com punição, com abertura de sindicância, com perseguição, que o problema será solucionado. Porque a saída dos servidores nós estamos vendo qual está sendo”, afirmou o deputado.

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