Inteligência artificial, câmeras operadas remotamente com capacidade de enxergar uma área de 360 graus ao redor, software de reconhecimento facial e sistema com mecanismo de leitura de placas de veículos. Um pacote de tecnologia que começou a ser instalado este mês no Centro de Belo Horizonte multiplica o número e o poder dos olhos eletrônicos na área, buscando aumentar o potencial de monitoramento em uma região naturalmente sensível a crimes como furtos, roubos e vandalismo, e por onde transitam e trabalham milhares de pessoas.
O investimento em tecnologia que contempla o eixo de segurança do programa “Centro de Todo Mundo”, da Prefeitura de BH, inclui novo sistema de videomonitoramento, controlado em tempo real no Centro Integrado de Operações de Belo Horizonte (COP-BH). A modernização do sistema começou a ser implantada em 14 de novembro, com o objetivo de melhorar a capacidade e a qualidade de fiscalização do hipercentro da capital.
Além do benefício direto para a segurança, a iniciativa mira aspectos como atuação preventiva das forças de segurança. Pode auxiliar também em situações como melhoria da limpeza urbana e combate a atos de vandalismo, uma vez que os operadores serão capazes de identificar situações como descarte clandestino de lixo e depredação do patrimônio público ou particular.
Com um investimento total de R$ 8 milhões, o município adquiriu 462 novas câmeras de alta tecnologia. Parte dos equipamentos substituirá 133 câmeras do programa Olho Vivo – que começaram a funcionar na cidade no fim da década de 1990.
Após mais de 20 anos em operação, o sistema não apenas já estava ultrapassado, mas também deteriorado. Já em 2021, reportagem do Estado de Minas mostrava que, das 702 câmeras do Olho Vivo instaladas por toda a capital, 20% não estavam funcionando. Na época, o município informou que a manutenção dos equipamentos era de responsabilidade da Polícia Militar.
Olhar eletrônico em mais pontos de atenção
Como parte do programa de requalificação, o hipercentro de BH ganhou prioridade na revitalização do sistema de videomonitoramento. Na região, no lugar de cada câmera Olho Vivo, está sendo instalada uma câmera speed dome – modelo giratório que se movimenta em 360° e pode ser controlado de forma remota –, além de duas câmeras fixas. Parte desses novos equipamentos é equipada com inteligência artificial.
De acordo com Geórgia Rocha, diretora do COP-BH, a tecnologia contém um software que permite que os operadores monitorem melhor a cidade, ao identificar e notificar determinadas ocorrências de forma prévia. “Uma câmera próxima a uma estátua pode detectar movimentos de aproximação, pichação, depredação. Com isso, a câmera vai gerar um alerta ao Centro de Operações, para podermos antecipar a nossa ação e evitar que a infração aconteça”, exemplifica a diretora.
Mais uma novidade em relação ao sistema anterior é a adição de 20 câmeras com reconhecimento facial. A cidade ganhará ainda 11 novos pontos de monitoramento, distribuídos na Rua Sapucaí, no Bairro Floresta, na Rua Rio Grande do Sul, no Centro, na região da Lagoinha, na área do complexo de viadutos de acesso ao Centro, e no entorno do Parque Municipal Américo Renné Giannetti. A área verde também terá mais 10 câmeras fixas.
Os lugares foram escolhidos de maneira estratégica, a fim de aumentar a sensação de segurança de quem passa pela região central. “Grande parte das câmeras vai ser instalada nos mesmos locais onde hoje já opera o Olho Vivo. A maior parte vai ser substituição das antigas pelas novas. Mas, além disso, estamos acrescentando pontos em áreas onde há incidência de crimes e desordem, que é uma preocupação da prefeitura”, explica Geórgia Rocha, da Central de Operações da PBH.
Maior efetivo da Guarda Municipal
As imagens captadas pelo sistema de videomonitoramento da prefeitura também são compartilhadas com as Unidades de Segurança Preventiva (USP) localizadas na Praça Sete e na Praça da Estação (Praça Rui Barbosa), no Centro, e no Mercado da Lagoinha, no bairro de mesmo nome vizinho à área central. Com operação de agentes da Guarda Civil de Belo Horizonte, o sistema terá capacidade de auxiliar e direcionar equipes de campo no trabalho de policiamento.
“As imagens são captadas e repassadas do COP-BH para as equipes de campo, para tentar fazer um trabalho preventivo. Com as equipes, nós temos patrulhamento a pé, de bicicleta e motorizado”, explica o diretor-geral de Operações da Guarda Civil Municipal, Adriano Morais.
Como parte do Programa “Centro de Todo Mundo”, de requalificação da área central, a Guarda Municipal aumentou em 90% o efetivo que atua nas ruas do hipercentro. Atualmente a corporação, que conta com mais de 2.300 agentes, mobiliza cerca de 100 guardas para a Operação Centro Seguro.
Essa iniciativa teve origem no ano passado, inicialmente como Operação Natal Seguro, quando foi implementada para reforçar o patrulhamento no Centro da capital na época de compras de fim de ano, devido ao aumento do movimento. Contudo, segundo Adriano Morais, o resultado foi tão efetivo que a operação deixou de ser temporária e se tornou permanente.
O diretor também relata que a chamada Operação Sentinela, realizada de modo rotineiro desde 2017, tem sido intensificada. “Os agentes são responsáveis por fazer rondas preventivas onde existe maior concentração de pessoas, como shoppings, passarelas, agências bancárias. Os guardas também são orientados a fazer combates à ação de flanelinhas, pichações, depredações e outros tipos de danos ao patrimônio”, acrescenta.
Operações voltadas para o transporte
Em outro eixo voltado para o transporte público, a Operação Viagem Segura busca a diminuição do índice de furtos em ônibus, por meio da presença de guardas municipais em trechos com registros recorrentes de ação criminosa. Já a iniciativa Embarque Seguro mantém agentes nos pontos de ônibus com maior fluxo de passageiros, com o intuito de evitar furtos, roubos, brigas e casos de importunação sexual.
Para Adriano Morais, as ações da Guarda Municipal têm surtido efeito quanto ao crescimento da sensação de segurança pública. “Tanto a população, nos embarques de ônibus, quanto os comerciantes já estão sentindo a diferença de um número maior de agentes fazendo esse trabalho na área central. A gente espera, e já estamos alcançando, uma diminuição no índice de criminalidade na área”, afirma o diretor.
Leitura de placas a partir de 2024
Com foco no trânsito, no próximo ano serão instaladas na área central de BH 146 câmeras com capacidade de leitura de placas veiculares. Ao monitorar o tráfego, os dispositivos vão contribuir também com a localização de veículos furtados ou roubados que estejam circulando pelas ruas do Centro, além de monitorar acidentes de trânsito, como batidas e atropelamentos. O aporte financeiro para esses equipamentos é de R$ 4 milhões e a expectativa é de que estejam operando até julho de 2024.
“Big Brother BH” em números
462
é o total de novas câmeras no Centro da capital
133
câmeras do programa Olho Vivo substituídas
20
câmeras dedicadas ao reconhecimento facial
146
câmeras com capacidade de leitura de placas veiculares
11
novos pontos de videomonitoramento
Foco na iluminação
Como parte dos esforços para melhorar a segurança no Centro de BH, o sistema de iluminação vem sendo modernizado em pontos estratégicos. O mais recente foi a Praça Raul Soares (foto), que neste mês recebeu reforço nas luminárias. A Praça Sete foi outra área sensível com mudanças. Em março, quando o programa “Centro de Todo Mundo” foi lançado pelo prefeito Fuad Noman (PSD), foram instalados novos projetores nos trechos da Rua dos Carijós com Rua Espírito Santo e da Rua Rio de Janeiro com Rua dos Tamoios, com melhoria de capacidade de outras 37 luminárias e novos projetores nos postes.