Patrimônio Cultural de Belo Horizonte desde maio de 2022, o Largo do Rosário contará a partir de agora com um Comitê de Salvaguarda formado por representantes de várias instituições públicas, da sociedade civil e de movimentos sociais. A ação inédita no campo do Patrimônio Cultural é um marco importante no processo de reparação e das políticas afirmativas voltadas para a população afro-brasileira de Belo Horizonte. O lançamento oficial deste órgão, com a presença dos representantes e demais convidados, foi neste sábado (25/11), na Emei Timbiras. 



Fazem parte do comitê representantes das seguintes instituições e movimentos: Diretoria de Patrimônio Cultural da Fundação Municipal de Cultura, Gerência das Relações Étnico-Raciais da Secretaria Municipal de Educação, Diretoria de Promoção da Igualdade Racial da Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania, Universidade do Estado de Minas Gerais, Universidade Federal de Minas Gerais, Iphan, Guarda de Moçambique e Congo Treze de Maio de Nossa Senhora do Rosário do Bairro Concórdia, Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário do Bairro João Pinheiro e Negricidade.

O Largo do Rosário é o local onde se encontrava a Igreja do Rosário (inaugurada em 1819) e o seu cemitério (datado de 1811), construídos pela Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, no antigo Curral Del Rey. Entretanto, ambos foram destruídos para a construção da nova capital em 1897. O reconhecimento do Largo como patrimônio cultural de Belo Horizonte faz parte de uma ação de reparação histórica e de resgate da memória da população negra da cidade, atendendo à reivindicação dos movimentos afro-brasileiros.

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Cumprindo as determinações do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte (CDPCM-BH), a Diretoria de Patrimônio Cultural, em diálogo com as lideranças e membros da comunidade afro-brasileira de Belo Horizonte, organizou e coordenou o processo de constituição do Comitê Provisório de Salvaguarda do Largo do Rosário, desde o mês de junho de 2022.

O Comitê Provisório, por sua vez, depois de uma sequência de reuniões de trabalho, estudos e consultas a diversas pessoas e instituições envolvidas direta ou indiretamente com a memória da população afro-brasileira, apresentou uma proposta para constituição do Comitê definitivo, desde então denominado Comitê de Salvaguarda do Largo do Rosário, para apreciação do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte e que foi aprovada. Depois da aprovação pelo CDPCM-BH, as várias instituições supracitadas indicaram seus representantes para composição do Comitê em tela.

Plano de Salvaguarda


Dentre outras funções, este Comitê elaborará um "Plano de Salvaguarda" propondo ações de curto, médio e longo prazos visando o fortalecimento das práticas culturais afro-brasileiras e o (re)conhecimento do Largo do Rosário pelos belo-horizontinos, visitantes, turistas e as futuras gerações.


Desde 2022, a PBH faz uma série de ações educativas e de salvaguarda para fortalecer e promover diretamente a salvaguarda do bem, que é referência identitária da população negra da cidade. Tudo isso em parceria com movimentos sociais, Irmandades de Reinado e lideranças como Padre Mauro Luís da Silva (Movimento NegriCidade e Curador do Muquifu) e Izabel Cassimiro Gonçalves (a Rainha Belinha da Guarda de Moçambique e Congo Treze de Maio de Nossa Senhora do Rosário do Bairro Concórdia).

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Um bom exemplo dessa parceria foi a construção de um totem indicativo do Largo do Rosário nas esquinas das ruas Timbiras e Bahia, que contou com sugestões da comunidade afro-brasileira na confecção do texto. Além disso, a própria cerimônia de inauguração foi constituída com a participação e parceria da comunidade afro-brasileira, congadeiros e lideranças belo-horizontinas envolvidas com o bem. Foram feitas também inúmeras ações educativas presenciais e virtuais.

 

Sobre o Largo do Rosário


O Largo do Rosário é o nome dado ao espaço em que situava a Igreja do Rosário (inaugurada em 1819) e seu cemitério (inaugurado em 1811), construídos pela Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, no Curral Del Rey. O Largo ficava sitiado no trecho entre as atuais ruas da Bahia, Aimorés, Espírito Santo e Avenida Álvares Cabral.

Tanto a Igreja quanto o cemitério eram espaços de socialização e referências identitárias que atendiam as necessidades espirituais e físicas da comunidade negra. Os encontros, comemorações e outras ações dedicadas aos santos de sua devoção (São Benedito, Santa Efigênia e, sobretudo, Nossa Senhora do Rosário) eram marcados pela solidariedade e sentimento de pertencimento à cidade, já que os negros eram excluídos das irmandades de brancos.

Em 1897, com o início da construção da nova capital de Minas Gerais, todos os edifícios que ficavam dentro dos limites da Avenida 17 de dezembro (atual Avenida do Contorno) foram demolidos, dando espaço para novas construções e, consequentemente, apagando a memória dos períodos Colonial e Imperial brasileiro. Entretanto, os corpos sepultados no cemitério da Irmandade do Rosário dos Homens Pretos não foram exumados e trasladados para o novo cemitério municipal (atual Cemitério do Bonfim).

A demolição do templo e a destruição do cemitério são fatos históricos denunciados por lideranças afro-brasileiras, que buscam, há anos, reconstituir e resgatar as memórias da população negra belo-horizontina. Após 125 anos desse fato, o Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte (CDPCM-BH) aprovou o registro do Território do Largo do Rosário como Patrimônio Cultural Imaterial da cidade. O registro definitivo foi publicado no Diário Oficial do Município do último dia 13 de maio de 2022. Desse modo, o bem cultural está agora inscrito no Livro de Registro dos Lugares por se tratar de manifestação cultural de relevante valor histórico, social e cultural para a cidade.

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