Reapropriar-se do coração de Belo Horizonte, deixando de ser um local de passagem para ser um destino de permanência, lazer, turismo e moradia. Esse é o objetivo do programa “Centro de Todo Mundo”, lançado em março deste ano pelo prefeito Fuad Noman (PSD). A iniciativa busca a requalificação da região com investimentos em mobilidade, segurança e cultura. No pacote de medidas estão a revitalização de praças, melhorias na acessibilidade, ampliação de faixas exclusivas de ônibus e modernização do videomonitoramento, dentre outros.

Os trabalhos envolvem todas as áreas da administração municipal, destaca a subsecretária de Relações Intragovernamentais e coordenadora do “Centro de Todo Mundo”, Beatriz Góes. Ainda segundo a gestora, as ações visam a deixar o Centro mais bonito e seguro, tornando a região mais agradável para se viver e visitar. Sobre o tema, o “EM Minas”, programa da TV Alterosa, jornal Estado de Minas e Portal UAI, conversou com Beatriz Góes. Confira abaixo.

Como a senhora descreveria como será o Centro de Belo Horizonte?

O objetivo do “Centro de Todo Mundo” é tornar a cidade mais bonita, onde as pessoas sintam mais prazer, que elas se reapropriem do espaço no Centro. Têm vários incentivos para reforma e reocupação de prédios que estão abandonados no Centro. A prefeitura está fazendo a sua parte para tornar o Centro mais bonito, mais seguro, com mais espaços de lazer com a reforma de várias praças. O Parque Municipal vai ter outra cara. A gente quer um Centro muito mais agradável de se visitar, que as lojas fechadas reabram, que as pessoas vão ao Centro fazer compras, passear e morar. Queremos um Centro habitado também por pessoas.

 

Culturalmente, no Brasil há uma noção ruim sobre os centros das cidades. Nos EUA e na Europa, já são locais de “vida”, de movimentação. Por que aqui os centros foram sendo abandonados?

É muito em função da mudança da rotina e do costume das pessoas. Acho que a criação dos shoppings centers tirou um pouco o comércio do Centro. Mas a gente quer reviver isso tudo, reconstruir o Centro também para ter moradia.

Uma das praças a ser reformada é a Independência. Corre o risco de ela virar uma Praça Rio Branco, que hoje está tomada até por usuários de drogas, o que afugenta certas pessoas?

Vai ficar um espaço de lazer. Têm dois prédios do lado, que são comerciais, e tem uma ou duas pessoas que moram ali. Esperamos que não se torne um local ruim para a cidade. Só um lugar bonito, agradável, para passear, poder sentar, tomar um sorvete, contemplar a vista do viaduto Santa Tereza. Estamos com uma expectativa muito positiva em relação a esse espaço.

Vai dar uma outra dimensão…

Imagina: a gente vai reformar a Praça Rio Branco, a Praça da Rodoviária. A licitação está em finalização, a obra deve começar em dezembro. Mais acima um pouco, a Praça do Papa, a licitação abre em 28 de novembro. Estamos requalificando toda a Afonso Pena, desde a Praça Rio Branco até a da Bandeira. O próprio Parque Municipal vai ganhar um centro cultural, uma obra que está parada há mais de dez anos, além de expandirmos o horário de lá, e vamos trazer de volta o pedalinho, o trenzinho. Novos brinquedos estão sendo instalados. Queremos que o Centro ganhe outra vida.

O Parque Municipal já está com horário estendido. Já existem resultados coletados pela prefeitura?

Vemos uma frequência maior noturna de pessoas. Antes, era de 8h às 17h, foi expandido até as 21h. Aumentamos a segurança, a iluminação. Lá terá três banheiros públicos, a licitação será aberta em 14 de dezembro. Vão ser 18 banheiros dentro desse perímetro do programa, três no Parque Municipal. Estamos fazendo tudo para que o Centro se valorize. Acredito que nas próximas férias escolares, em janeiro, já tenha barquinho, pedalinho, trenzinho. Olha que maravilha!

A obra na Afonso Pena: o que vamos ter no caminho?

Ciclovia em todo o percurso, faixa exclusiva de ônibus, canteiro central terá irrigação, acessibilidade nas calçadas, novas travessias de pedestres. Será uma nova Afonso Pena.

Quando se fala em obras, certamente vai causar alguma situação para o trânsito na cidade. Como a prefeitura vai lidar com isso?

A maioria das obras é em praça, são fechadas. A do Papa, por exemplo, não interfere em quase nada. A da Estação está fechada, e a obra ocorre com acesso garantido ao metrô e ao Museu de Artes e Ofícios. Nesses locais, o trânsito interfere pouco. Algumas obras que podem interferir são na Afonso Pena, os lojistas nos procuraram com algumas preocupações por causa do Natal, pediram para adiar, mas tranquilizamos todos. A obra vai começar na Praça da Bandeira. Infelizmente, algum transtorno de mobilidade vai acontecer. Mas a ideia também é trabalhar à noite, não interferir na feira aos domingos. O superintendente de Obras, senhor Henrique Castilho, disse que a obra começa na segunda e, na sexta, fecha esse pedaço para a feira ocorrer normalmente no domingo. Algum transtorno vai ter, mas teremos que conviver com isso para termos uma Afonso Pena mais bonita e muito melhor para todos nós.

Como a senhora vê esse papel do comércio a partir do momento que o Centro será recuperado?

Temos um canal direto com a CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) e com as associações. Fizemos reuniões discutindo esses projetos. A gente conta com eles na preparação para o recebimento de novas obras e torce para que o comércio ganhe vida de novo, como foi há 30 anos.

A segurança também é um dos eixos do programa…

As pessoas têm preocupação em sair à noite, serem assaltadas. Estamos instalando mais de 460 câmeras de vigilância nesse perímetro do projeto, será finalizado no fim do ano. É a substituição de câmeras antigas, são cerca de 130. E outras mais de 300 novas câmeras. Todas ligadas ao Centro de Operações da prefeitura, a Polícia Militar terá acesso. Queremos tornar o Centro seguro. A Guarda Municipal já aumentou a presença no Centro, em relação a 2022, em 90%.

Uma das previsões do programa é a reocupação dos edifícios abandonados no Centro, que passariam a abrigar moradias. Como atrair iniciativa privada para isso?

A prefeitura está cuidando do Centro, requalificando a Afonso Pena, reformando praças, plantando árvores. E não é qualquer árvore, é ipê, pau-brasil, jacarandá. Estamos tornando o Centro mais bonito. Vamos implantar wi-fi na Afonso Pena desde a rodoviária até Palácio das Artes; na Amazonas da Praça Raul Soares até a da Estação. Então, venham para cá, empreendedores. Peguem um prédio vazio e façam moradia.

Dentro dessa proposta tem um projeto de lei com incentivos para empreendedores…

Em abril, o prefeito Fuad encaminhou à Câmara Municipal um PL (projeto de lei) com vários incentivos para que prédios antigos sejam reformados. Um prédio de 50 anos, por exemplo, não tinha janela no banheiro, mas hoje exige. Essa lei facilita a ter ventilação no banheiro, dá incentivos a reforma. O PL já foi votado em primeiro turno e prevê como incentivo, dentre outros, a isenção do ITBI para o empreendedor que comprar um prédio para fazer habitação, e vai ter 50% de desconto no IPTU por três anos, e para cada metro quadrado de habitação de interesse social feito no Centro, ele tem essa mesma metragem de construção em qualquer outro lugar da cidade. Há mais incentivos para projetos voltados para baixa renda.

A senhora vê esse projeto como de inclusão social?

As pessoas pensam que quem tem baixa renda tem que morar longe do Centro, e não é assim. Ela tem que morar é perto, onde tem escola, saúde, transporte, onde tem o trabalho dele. As pessoas moram longe e pegam um transporte muito grande para trabalhar na área central. O prefeito Fuad quer incentivar às pessoas morarem no Centro. E tem espaço para todo mundo morar: de baixa, de alta renda.

com um investimento que é de alta monta, de recuperar um prédio antigo, fazer esse retrofit, como se consegue fazer com o preço seja acessível para a pessoa de baixa renda?

A prefeitura tem um programa de compra de imóveis. Pode ela mesma comprar um que está sendo construído, alugar os apartamentos para locação social ou vender para outro cidadão.

Uma coisa que é crítica no arcabouço desse projeto é a questão da população de rua. Como vai ser a abordagem desse tema tão delicado?

É um grande desafio. A prefeitura tem várias ações para dar mais conforto à população. Foram abertos três abrigos, cada um com dez vagas, para populações de rua com deficiência. Aumentaram as ações com relação à saúde, temos consultórios na rua: móvel e fixo. A prefeitura mudou o programa de locação social, porque, às vezes, um morador de rua está no abrigo, onde ele tem lugar para dormir, alimentação, lugar para tomar banho. A gente precisa dar autonomia para ele, porque às vezes ele fala: ‘vou sair para uma locação social?’. Lá ele não tem cama, não tem fogão, então ele não vai. Agora, no programa, a gente vai fornecer fogão, cama, mais um incentivo para ele sair do abrigo e criar autonomia. A gente quer que essa população se ressocialize.

Muitos moradores de rua são por opção. Como a prefeitura vai lidar com essas pessoas?

Na abordagem, no convencimento, no acolhimento. Mas têm pessoas que vão ficar na rua, é opção dela. Isso não é de BH, é no mundo inteiro. Mas não quer dizer que a gente não tem que tratar. É o que o prefeito sempre fala: ‘é problema lá, mas aqui o problema é nosso’.

Aproveitando, vamos falar sobre o Parque de Integração da Lagoinha, que começa perto da Praça Rio Branco e vai até a Praça do Peixe. São áreas bem degradadas, com uma população de usuários de drogas. Como esse projeto do Parque Lagoinha vai ficar?

Vamos recuperar três praças, o edital para as obras deve sair no primeiro semestre de 2024. Será feita uma passarela muito grande, unindo a Lagoinha ao Centro, que a gente chama de ‘praçarela’ porque ela é mais larga, com bancos, jardins. Está sendo feito um trabalho muito grande com a população em situação de rua no local.

É desejável que o cuidado com o Centro seja de todos, que não seja apenas um projeto de um governo, mas seja permanente. Há entraves políticos para isso?

A reforma dos prédios abandonados do Centro, por exemplo, continua ao longo dos anos com os incentivos que a prefeitura está oferecendo. O projeto Centro de Todo Mundo não tem uma data de término, o que se tem é uma data para término das obras que a prefeitura está executando. Mas como projeto, ele continua. Estou entusiasmada com esse programa. A cidade será outra.

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