Em muitas das cidades mineiras vitimadas por assaltos ao patrimônio histórico, a preocupação com seus bens se redobra, mas na mesma intensidade da esperança. No ano que vem, completam-se três décadas que o Museu Regional do Sul de Minas, em Campanha, distante 316 quilômetros de Belo Horizonte, foi arrombado e invadido – a instituição, atualmente fechada, abriga relevante conjunto de bens culturais móveis. De seu acervo, em 7 de março de 1994, foram levadas 28 peças do patrimônio sacro: imagens, oratórios e cálices estão entre os bens desaparecidos, alguns dos séculos 18 e 19.

Do total, foram recuperadas as imagens de Santa Cecília (em 1998), Santa Bárbara (2003), São Vicente Ferrer (2004) e, há dois anos, a de Nossa Senhora da Apresentação. “Confiamos nas investigações e esperamos que possa haver alguma denúncia sobre o paradeiro das peças”, diz Flávia Villamarim Tegon, funcionária da Seção de Cultura e Patrimônio da Prefeitura de Campanha.

Já em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a devoção se multiplica em esperança, por isso as orações são constantes entre os 110 integrantes da Ordem Terceira do Carmo. Na capela-mor da Igreja Nossa Senhora do Carmo, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a priora da irmandade, Maria Dalila Dolabela Irrthum, mostra uma imagem (em gesso) da padroeira, semelhante à peça do século 18 furtada há quase três décadas.

A escultura original, atribuída ao português Francisco Vieira Servas (1720-1811), ficava em um altar colateral da igreja. “Foi um golpe no nosso patrimônio, que perdeu outras peças. Na época, não havia a segurança existente hoje”, diz o conselheiro José Bouzas, ao lado do também conselheiro da Ordem Terceira do Carmo, Luiz Gonzaga Barbosa Silva.


Solidariedade entre vítimas de ladrões

No distrito de Itatiaia, em Ouro Branco, o sentimento é de solidariedade aos moradores do município vizinho de Ouro Preto. E também da necessidade de redobrar a vigilância. “O furto do rosário acendeu o alerta, e nos colocamos no lugar da comunidade, por isso rezamos a Nossa Senhora do Pilar e ao nosso padroeiro, Santo Antônio, para que o bem seja restituído ao Museu de Arte Sacra”, diz Wilton Fernandes Guimarães, da Associação Sociocultural Os Bem-Te-Vis.

Sempre em campanha nas redes sociais e encontros sobre patrimônio, Wilton não se cansa de denunciar o furto de 18 peças na cidade, na madrugada de 16 de novembro de 1994, na Matriz de Santo Antônio. No total, os ladrões levaram 21 objetos de fé, dos quais foram recuperadas as esculturas de São Domingos Gusmão e São João Batista Menino, além de um crucifixo de madeira maciça, com 102 centímetros de altura. “Os assaltos continuam ocorrendo, o que mostra a audácia dos bandidos e a fragilidade dos sistemas de segurança de algumas igrejas e equipamentos culturais”, observa Wilton.


O que dizem os órgãos de proteção?

Diante da situação de vulnerabilidade de muitas construções históricas, cabe a pergunta: Que ações vêm sendo desenvolvidas pelos órgãos federal e estadual na proteção do patrimônio cultural? Em nota, a direção do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) informa que, por meio do projeto “Minas para Sempre”, viabilizado com recursos da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, fez a contratação de prestação de serviço de segurança eletrônica.

Trata-se de sistema de alarme contra intrusão implantado em 57 bens culturais protegidos ou de interesse de preservação pelo estado de Minas Gerais. A contratação contempla ainda a locação de equipamentos, instalação, monitoramento remoto 24 horas, manutenção preventiva e corretiva, com reposição de peças.

Já a Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Minas destaca, em nota, que “a responsabilidade primária pela manutenção e conservação dos monumentos tombados pelo Iphan, especialmente no que diz respeito à segurança de acervos culturais, é de seus proprietários. A atuação do Iphan se configura de forma subsidiária e, em especial, na constante fiscalização e monitoramento dos bens culturais, além de parcerias com órgãos de segurança, para garantir a integridade dos bens”.

“É importante destacar o papel de programas como o Monumenta, o PAC Cidades históricas e, agora, o Novo PAC, como iniciativas que desempenham um papel crucial na execução de obras de restauração e planejamento de intervenções”, acrescenta texto do instituto. Segundo o Iphan, nesses projetos são levados em consideração a restauração arquitetônica e um conjunto de projetos complementares. Entre eles, projetos de segurança e prevenção ao combate a incêndio e pânico e segurança eletrônica.

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