Avenida Amazonas, onde já há pistas prioritárias, vai ganhar corredor segregado para dar agilidade aos ônibus com objetivo de reduzir tempo de viagens e o transporte individual -  (crédito: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

Avenida Amazonas, onde já há pistas prioritárias, vai ganhar corredor segregado para dar agilidade aos ônibus com objetivo de reduzir tempo de viagens e o transporte individual

crédito: Edésio Ferreira/EM/D.A Press

Belo Horizonte se aproxima dos 126 anos com um fluxo de trânsito bem diferente do imaginado na construção da capital. As ruas e avenidas projetadas por Aarão Reis – e as que surgiram depois – ficaram pequenas diante do aumento da frota de veículos e, hoje, o arranca e para do trânsito consome 103 horas do belo-horizontino, segundo a pesquisa internacional “TomTom Traffic Index” referente ao ano passado. Faixas exclusivas e obras de prioridade para o transporte público, espinha dorsal do sistema de mobilidade urbana na cidade, estão entre as apostas para atuar em problemas crônicos em vias marcadas pelo trânsito sobrecarregado, como a Avenida Amazonas.

No corredor, um dos mais importantes da capital, a principal aposta da prefeitura é tirar do papel uma proposta que vem sendo discutida há quase 10 anos: o corredor BRT/Move da Avenida Amazonas, cujas obras têm previsão de começar em 2025. Depois da mudança da rotina do transporte nas regiões de Venda Nova, Pampulha e Nordeste, as próximas rotas do sistema traçam mais de 24 quilômetros de pistas de ônibus no vetor Oeste e Barreiro.

O projeto prevê dotar principalmente a Avenida Amazonas de estrutura para o trânsito dos ônibus articulados desde a Praça Sete, no Centro de BH, até as estações de integração no Barreiro. Com as mudanças, a via, que já conta com faixas exclusivas e preferenciais demarcadas, terá corredores separados para o transporte coletivo, como ocorre nas avenidas Antônio Carlos e Cristiano Machado, com estações de transferência e um canteiro central.

Sem intervenções viárias e urbanísticas de maior porte desde 2006, quando o asfalto foi trocado para a reunião do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), um dos principais gargalos da Avenida Amazonas é o trânsito. Diariamente, 835 mil passageiros em média passam por esse corredor, que conecta a capital a cidades da região metropolitana e se torna um ponto crítico de congestionamento.

“Para se ter uma ideia, hoje são 400 ônibus fazendo esse trajeto lá do limite com a cidade de Contagem até o Centro de BH, no horário de pico. O resultado é a ineficiência. Além de otimizar o uso do espaço, nós vamos resolver essa questão com a priorização total no canteiro central”, detalha o responsável pela Superintendência de Mobilidade (Sumob) da Prefeitura de BH, André Dantas.

Integração com a Grande BH é desafio

O investimento demanda ainda a integração do sistema de transporte municipal com o metropolitano, meta descrita pelo chefe da Sumob como um dos principais desafios do projeto. “Isso abre uma discussão que transcende Belo Horizonte e exige um debate sobre a mobilidade na região metropolitana. A gestão do transporte é pulverizada. Mas o passageiro não quer saber se o cartão é BHBus ou Ótimo, se o ônibus é metropolitano ou municipal. Ele quer usar o sistema”, aponta Dantas.

O processo vai exigir um longo diálogo, já iniciado, segundo Dantas, envolvendo o estado e prefeituras da Grande BH. “Além de ganhar tempo, os usuários do BRT ganham confiabilidade no sistema, com a certeza de que os ônibus farão o percurso no tempo previsto”, acrescenta o superintendente da Sumob.

Os recursos para as obras no BRT Amazonas já estão garantidos: US$ 80 milhões virão de um empréstimo internacional com o Banco Mundial (Bird), aprovado pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado no ano passado. Outros US$ 20 milhões sairão dos cofres da Prefeitura de Belo Horizonte.

Diretriz é favorecer o transporte público

Os investimentos previstos pela Prefeitura de BH na Avenida Amazonas fazem parte de um pacote de projetos para o transporte público. Desde julho, com a sanção da Lei 11.458/23, que prevê o pagamento de subsídio às empresas de ônibus na capital, tendo como contrapartida a manutenção do preço da passagem em R$ 4,50, há um esforço concentrado para dar prioridade ao transporte coletivo, bem como para melhorar sua qualidade, facilitando a troca do carro por outras formas de deslocamento.

De lá para cá, foram acrescidas 1.543 novas viagens ao sistema de ônibus da capital: 949 nos dias úteis e 594 nos fins de semana. Até o fim do ano, as concessionárias terão que fazer um incremento de 10% nas viagens, saltando das atuais 21.700 para 23.808.

Além disso, quatro itinerários foram criados atendendo demandas específicas de usuários. É o caso da linha 721 (Estação São Gabriel/Maria Teresa via Parque Cerrado), reivindicação antiga da comunidade, especialmente para o deslocamento até o posto de saúde às margens da MG-020. “Se não tivéssemos implantado a lei, a discussão seria outra, estaria travada. Isso é uma conquista. Nos próximos passos, nós vamos priorizar os casos mais graves, mais urgentes”, ressalta o superintendente de Mobilidade da Prefeitura de BH, André Dantas. Para o futuro, além dos incrementos previstos para o próximo ano, a prefeitura prevê um trabalho contínuo para aprimorar itinerários e adicionar linhas ao sistema.

GANHO DE RAPIDEZ: O TRUNFO DO COLETIVO

Congestionamentos e aumento de tempo gasto no trânsito é o preço que se paga quando não há prioridade para o transporte público, avaliam especialistas no setor. Sem disputar espaço com os carros, os ônibus ganham velocidade, grande trunfo para incentivar o uso do transporte público em cidades como Belo Horizonte.

O sistema BRT/Move da Avenida Cristiano Machado, por exemplo, o primeiro implantado na capital, reduziu o tempo médio dos deslocamentos, segundo a prefeitura da capital. A velocidade dos 20 corredores da via subiu para 26 km/h, mais rápido do que o sistema anterior, de 15,24 km/h, conforme dados da BHTrans. “As vias dedicadas ao ônibus são capazes de transportar dez vezes mais passageiros por hora do que uma pista de tráfego misto”, diz o superintendente da Sumob.

As faixas exclusivas e obras com intuito de dar prioridade ao transporte coletivo, além de aumentar a velocidade de circulação dos ônibus, são uma carta na manga para incentivar a troca do carro pelo transporte público. Isso ocorreu, por exemplo, nos dois corredores que fazem conexão com o Centro de BH, pelas Avenidas Antônio Carlos e Cristiano Machado, que atraíram ex-adeptos do carro.

Na prática, o sistema reduziu pela metade o tempo gasto nos deslocamentos até o Centro de BH, chegando a até 30 minutos, em média. Pesquisa realizada em 2015 mostra que, na época, 15% dos passageiros do corredor da Cristiano Machado haviam migrado do transporte individual para o coletivo.

O problema da mobilidade em Belo Horizonte é também consequência de um planejamento urbano insuficiente ainda na época da construção da cidade, que se desenvolveu de forma orgânica e transbordou para além do traçado original, antes circunscrito à Avenida do Contorno, que, hoje, limita apenas a região central. Atualmente, vias estreitas e com estrutura insuficiente dificultam o tráfego do elevado número de veículos.

Para André Dantas, o debate sobre a mobilidade de BH, além de envolver a sociedade, precisa ir além e questionar paradigmas. “Quanto a pessoa deve pagar pelo uso do espaço viário em um determinado modo de transporte? Eu fiz deslocamento a pé, não fui responsável pela emissão de nenhum poluente, enquanto outra pessoa pegou o carro para se deslocar 800 metros. Qual o preço disso?”, questiona, citando exemplos como o de Singapura, cidade-Estado da Ásia, onde se cobra uma taxa pelo uso de automóvel. “Agora, se o discurso for ‘todo mundo tem o direito de usar carro e ninguém tem que pagar por isso’, a sociedade precisa ver as consequências. Cada modelo leva um resultado.” 

Obras na Cabana do Pai Tomás

Parte dos US$ 100 milhões de investimento estimado para o BRT Amazonas serão destinados à Vila Cabana do Pai Tomás, na Região Oeste de BH, comunidade com histórico de luta por obras viárias. A principal delas será o alargamento e abertura de vias para ligar a Avenida Amazonas à Avenida Tupã, via que corta a comunidade no sentido sudeste/nordeste. O projeto também fará uso do atual percurso das ruas Sete de Setembro e VVP-01, na qual há ainda projeto de um viaduto para facilitar a fluidez.

Na roleta

Os números do transporte coletivo por ônibus em BH, incluindo impactos da lei que instituiu o subsídio ao sistema

- 23.808 viagens por dia útil

- 963,4 passageiros em média por dia útil

- 1.543 novas viagens diárias de ônibus em 2023

- 949 em dias úteis

- 337 aos sábados

- 257 aos domingos


As novas linhas


- 721 Estação São Gabriel/Maria Teresa via Parque Cerrado

- 5034 Urca/Centro via Confisco

- 5035 Zoológico/Hospitais via Serrano

- 5036 Celso Machado/Centro