A hidratação constante é a regra número um para driblar os riscos do calor intenso para a saúde -  (crédito: Leandro Couri/EM/D.A – 23/9/23)

A hidratação constante é a regra número um para driblar os riscos do calor intenso para a saúde

crédito: Leandro Couri/EM/D.A – 23/9/23

Cansaço que é relacionado a mal-estar. Náusea rotulada de dificuldade digestiva. Tonteira apontada como pressão baixa. Prostração que é tachada de preguiça. Os sintomas de que o corpo humano está em dificuldades para dissipar o calor interno têm histórico de ser menosprezados. Mas com a recorrência de ondas de calor impulsionadas pelo aquecimento global, esses alertas de aumento exagerado da temperatura do organismo precisam ser tratados para não chegar a um quadro de hipertermia e até levar à morte.

“Muitas vezes, as pessoas não entendem os sintomas graves de hipertermia e simplesmente hidratam a outra um pouco. Os amigos negligenciam. Acham que é pressão baixa ou mesmo comportamental. Isso é ainda mais agravado com a frequência cada vez maior das ondas de calor”, destaca o médico Luciano Prado, pesquisador do Laboratório de Fisiologia do Exercício da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele faz um alerta claro: “O calor nunca foi tão extremo. Até agora, as pessoas conviviam com o clima quente. Mas nunca de uma forma tão intensa. Vai ser preciso mudar hábitos e políticas públicas ou teremos repercussões preocupantes na qualidade de vida”.

De acordo com o médico, toda vez que o corpo excede temperaturas por volta de 37°C se iniciam ajustes para resfriamento. “Primeiro aumenta o suor, que quando evapora dissipa o calor. Depois a circulação do sangue na pele aumenta para exteriorizar os vasos, que se dilatam. Por isso, as pessoas mais claras ficam com o rosto vermelho. O organismo tenta entregar calor para o meio ambiente”, descreve Prado. “O problema é que isso leva a sobrecargas do sistema cardiovascular. A pessoa pode também se desidratar com a perda de líquido para o suor. Isso tudo é agravado pelo calor e umidade mais altos, esforço físico e exposição à radiação solar”, afirma o pesquisador da UFMG.

A dificuldade de dissipar o calor traz sintomas ainda mais agravados ao se instalar. “A pessoa começa a ter o pulso acelerado. As náuseas pioram. Pode apresentar dor de cabeça muito forte e começar a dar sinais de confusão. Não sabe mais o que está fazendo, não entende onde está. Nesse ponto, já se tem um quadro dramático, no qual se deve intervir imediatamente. Levar a pessoa para repousar à sombra, em local arejado. Tirar a maior quantidade de roupa, molhá-la com água fria enquanto a abana e chama o atendimento médico”, recomenda. Se a temperatura corpórea chegar acima de 40°C se caracteriza um quadro de choque hipertérmico. “Nesse ponto, aparecem graves cãibras, muita confusão e fadiga. A pele fica seca, porque o corpo já não interpreta mais bem o que está acontecendo, até que o indivíduo tem uma síncope. Perde os sentidos. Precisa ser levado imediatamente ao pronto-socorro”, alerta.

Os efeitos das ondas de calor reforçadas pelo aquecimento global afetam até mesmo os organismos mais saudáveis, trazendo uma piora no bem-estar de forma geral, afirma o médico infectologista, especialista em medicina preventiva e social, Carlos Starling. “Os organismos de todos acabam afetados pelas ondas de calor e situações de elevação das temperaturas. Não são só pessoas com doenças infecciosas ou relacionadas à hipertermia. Ultrapassa e muito a esses pontos mais óbvios. Esse desgaste provocado pelo calor traz influências neurológicas e psiquiátricas que geram até acidentes de trânsito, brigas, falhas no trabalho e impaciência. Também transtornos cardiovasculares, respiratórios, oculares, cutâneos, de metabolismo, entre outros. Impacta praticamente todos os órgãos, além de ser agravado nas situações específicas da saúde infantil, materna e geriátrica”, cita Starling.

Antes de fazer exercícios ou de se expor ao calor, as pessoas devem tomar algumas medidas condizentes com as temperaturas do ambiente. “É preciso se hidratar bem. Usar roupas leves e claras, mais arejadas, que permitam que o suor evapore. Tecidos sintéticos muito fechados podem dificultar isso. Alguns hábitos também devem ser evitados, como fazer exercícios muito pesados em certas horas do dia. Provavelmente, as pausas de trabalho devem mudar se a situação se agravar. E tem de lembrar aos esportistas que suar não é igual a emagrecimento. Isso os expõe à desidratação.”