Uma saudação do Sol a um dos ícones da cidade, no coração da Praça Sete: primeira capital projetada no período republicano celebra 126 anos com orgulho do passado e esperança em planos para o futuro -  (crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Uma saudação do Sol a um dos ícones da cidade, no coração da Praça Sete: primeira capital projetada no período republicano celebra 126 anos com orgulho do passado e esperança em planos para o futuro

crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press

Uma capital construída do zero, obra do encontro da engenharia com a força do trabalho de brasileiros e imigrantes, pavimentada com os sonhos do Brasil republicano. Belo Horizonte comemora hoje 126 anos, e, para celebrar a data, a equipe do Estado de Minas passeia por uma cidade cheia de contrastes, mas também de afinidades: é terra boa para se viver, fazer amigos, conviver, ser acolhido e descobrir novos tons da vida urbana.


Na palavra de belo-horizontinos e de quem adotou a capital para viver, há sempre diante dos olhos uma paleta de cores diversificadas, com áreas verdes, pôr do Sol de amarelos e vermelhos espetaculares, céu azul inspirador para se contrapor ao cinza-concreto dos prédios... Tudo isso favorece encontros entre pessoas, estreita relações, abre um mundo de possibilidades. E novos horizontes.


Nos caminhos da cidade, como em qualquer metrópole, há muitos desafios, entre eles a necessidade de mais segurança para usufruir com tranquilidade dos equipamentos urbanos e de aprimorar a infraestrutura em espaços públicos, muitas vezes vandalizados ou à espera de reforma.


Um cenário para o qual os ventos da cultura trazem renovação, força e esperança. “A arte é nosso ponto forte. BH é uma fábrica de cultura”, avalia a bailarina Daniele Correia dos Santos, enquanto desfruta da sombra no Parque Municipal. Portanto, “se apropriar dos bens que a cidade oferece se torna fundamental, afinal, só existe vida se tem gente”, acrescenta a colega Ranya dos Santos Silvestre Silva.


Então, está feito o convite para conhecer um pouco mais sobre BH e festejar o aniversário no lugar que escolher. Entre cenários novos, revitalizados e antigos, há opções de sobra para admirar ícones urbanos: a Praça da Liberdade, da década de 1920 e constantemente renovada; a Avenida Afonso Pena do tempo dos bondes ou do trânsito frenético e dos projetos de mudança; os bares que fizeram história na área central, os que ainda fazem e os recém-abertos; prédios simbólicos e os que sumiram do mapa; e o constante vaivém na Praça Sete. Afinal, lugares para celebrar este Belo Horizonte não faltam. 

Onde vamos nos encontrar?

Basta escolher o parque, a praça ou rua para festejar o aniversário de 126 anos de BH. Confira opções

77 parques municipais:
20 na Região Centro-Sul, 16 na Nordeste, 14 na Pampulha, 11 na Oeste, cinco em Venda Nova e cinco na Região Norte, quatro na Região do Barreiro, um na Leste e um na Noroeste.

793 praças:
138 na Região Centro-Sul, 110 na Pampulha, 96 no Barreiro, 85 em Venda Nova, 84 na Nordeste, 83 na Oeste, 77 na Noroeste, 61 na Norte e 59 na Leste.

797 equipamentos esportivos
Incluindo 388 academias a céu aberto, 36 campos de futebol, 31 campos de futebol society, 43 quadras poliesportivas e cinco ginásios

UM LUGAR QUE UNE ORIGENS E GERAÇÕES

As bailarinas Daniele Correia dos Santos e Ranya dos Santos Silvestre Silva vão direto ao ponto – de preferência, na sombra. Na hora de bater um papo ou relaxar, nada como se sentar num banco sob as árvores do Parque Municipal Américo Renné Giannetti, no Centro de BH. Já os amigos Romário Santos e Fernando Fernandes gostam de iniciar o dia, ensolarado ou chuvoso, com um cafezinho no tradicional Café Nice, na Praça Sete, estabelecimento com 84 anos de história. E que tal uma rodinha de conversa em plena esquina da Rua da Bahia com Avenida Afonso Pena? Elas existem e são tipicamente mineiras.


Cada uma dessas e de tantas outras cenas urbanas faz um recorte do cotidiano de Belo Horizonte, cidade inaugurada em 12 de dezembro de 1897 no local do antigo Arraial de Curral del-Rei. Desde então, BH traz no currículo a primazia de ser a primeira cidade no país planejada para se tornar capital, no período republicano.


Hoje com 2,3 milhões de habitantes, a capital dos mineiros tem como característica básica, na palavra de quem entende do assunto – seus moradores, claro –, a hospitalidade, associada à facilidade para o convívio, o encontro, a aproximação. Vamos conferir na prática?


“Aqui, é muito fácil de fazer amigos, e tenho muitos, de longa data. Penso que a cidade, desde o início, recebeu imigrantes, pessoas que vieram do interior, enfim, constituiu-se dessa mistura de origens”, avalia Raul Basílio da Cunha, de 73 anos. Natural de Divino, na Zona da Mata, ele chegou a BH em 1964, e, mesmo estando aposentado, não deixa de ir ao Centro, onde mantém um escritório na Rua Rio de Janeiro.


O comentário é ouvido pelo proprietário do Café Nice, Tadeu de Moura Caldeira, certo de que os braços da cidade estão sempre abertos a que chega. Para provar ele mostra, na parede, uma foto do ex-prefeito de BH, ex-governador de Minas e ex-presidente do Brasil, o mineiro de Diamantina Juscelino Kubitschek (1902-1976), todo sorrisos. “Minha melhor opinião sobre BH está nesse retrato”, resume, sobre a fama de JK de agregar, reunir pessoas.


No balcão, o empresário Fernando Fernandes, casado, dois filhos, diz que trabalha na Praça Sete há 22 anos e se sente em casa. “Estar no Centro da cidade, encontrar amigos, falar de futebol... Tudo isso virou tradição. Aqui há muitos atrativos para turistas e moradores, a exemplo do Mercado Central”, afirma.


Natural do Piauí, o contabilista Romário Santos, casado, pai de uma menina de 9 anos, faz coro às palavras do colega, e, se declarando mineiro de coração, fica atento aos costumes locais e admira uma certa tranquilidade que a capital oferece.


Em apenas um dia, conforme constatou a equipe do Estado de Minas, é possível curtir espaços públicos, provar em plena efervescência da Praça Sete da mais tradicional das bebidas de boas-vindas, o cafezinho, ouvir experiências de vida numa praça, saborear delícias dos mercados Central e Novo, e encontrar recantos “divinos”, muitos quase desconhecidos da maioria da população, em clima tranquilidade, beleza e segurança.


ABRAÇOS AOS PÉS DA SERRA DO CURRAL

Bem aos pés da Serra do Curral, símbolo eleito da cidade, o Parque das Mangabeiras, na Região Centro-Sul, foi o local escolhido pelo comerciante aposentado Balbino Alves Pereira para celebrar o aniversário de 86 anos. “Gosto muito desta cidade, muito mesmo!”, declara-se Balbino, enquanto recebe o carinho dos filhos Héverton Alves, Valéria Mendes e Mara Elizabeth Pereira, da neta Mariane Mendes e dos bisnetos Laila, de 5, e Rafael, de 2.

“Viemos comemorar o aniversário dele em meio à natureza, ao verde”, contou Valéria, dentista aposentada, que destaca um caráter único da cidade. “Meu pai veio de Poço Fundo, no Sul de Minas, e está em BH há 44 anos. Sempre se sentiu acolhido, por isso nos reunimos num lugar que representa bem a capital de Minas.” Entre muitas fotos à beira do espelho d’água, aplausos ao som de pássaros e abraços apertados, a família, com representantes de quatro gerações, não poupa elogios à capital. “Ainda há um certo clima de cidade do interior... E isso é bom”, atesta Valéria.

Dos parques aos mirantes, espaços para o convívio

Localizado na Zona Sul de BH, em trecho da Serra do Curral, o Parque das Mangabeiras é um dos 77 parques municipais existentes em Belo Horizonte, que abriga ainda 793 praças – em ambos os casos, a maioria na Região Centro-Sul –, e outras áreas para convívio da população, entre elas 797 equipamentos esportivos. No quesito lazer, a Prefeitura de BH contabiliza também o programa “A Rua É Nossa”, para jovens, adultos e crianças, com jogos, brincadeiras, atividades circenses, cama elástica, pula-pula, totó, e oficinas esportivas, para atividades como futebol, vôlei, basquete, skate e slackline.


Mas nada desse patrimônio público importa, se não houver gente se apropriando e usufruindo, concordam as amigas Daniele, de 28, e Ranya, de 19, que procuram aproveitar os eventos da cidade, especialmente os gratuitos. Citando como evento excelente o Festival de Arte Negra de Belo Horizonte (FAN), realizado em outubro, Daniele considera essencial que as pessoas, principalmente os jovens, encontrem seus espaços, especialmente para desenvolver sua arte e conviver. Um exemplo está no Viaduto Santa Tereza, com as batalhas de rappers, duelos de MC’s, e o “cinquentão” hip-hop. “A Virada Cultural é outra excelente iniciativa”, completa Ranya.


Exatamente para impulsionar a cena cultural urbana, o prefeito Fuad Noman (PSD) sancionou, na quinta-feira (7/12), lei criando o Programa Municipal de Incentivo à Batalha de Rimas e de MCs, ao Sarau e ao Slam. Assim, segundo a PBH, no ano em que o hip-hop completa cinco décadas de criação no mundo e quatro décadas em BH, a cidade ganha um programa que se soma às políticas públicas, abrangendo uma variedade de expressões culturais.


Nas palavras do prefeito, “o hip-hop é uma realidade, um movimento espontâneo”. “Quero mesmo que a gente tenha uma explosão de hip-hop em BH. Está na hora de mostrar que existe um movimento importante da cultura de jovens e que eles precisam ser valorizados, que precisam ter apoio do poder público e estamos juntos para fazer isso”, disse Fuad Noman.


“A GENTE SE ENCONTRA NAS RUAS OU ONDE DER”

Embora expressivo em seu conjunto, o número de praças na cidade poderia ser maior, observa o arquiteto Flávio Carsalade, professor da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Nada que o jeitinho acolhedor, tão belo-horizontino quanto mineiro, não resolva. “Belo Horizonte é uma cidade de muitas árvores e poucas praças. Na falta delas, a gente se encontra nas ruas ou onde der. No balcão do Café Nice, em clubes de esquina, debaixo dos viadutos, nos bares, na ausência de mares. Em canteiros centrais ou em ruas roubadas aos automóveis. Nos shoppings, embora eu prefira as lojas de ruas. Em parques que vêm abrindo alas. Em volta das lagoas, Pampulha e Nado...”


Na avaliação de Carsalade, cidade é o lugar do convívio. “Mesmo que não tivéssemos essas chances de encontro, daríamos um jeito de nos encontrar nas ruas, tão largas e tão retas, e nas esquinas que abundam em BH. Cidade é o lugar do encontro por excelência. E se tem uma coisa que mineiro gosta é de se encontrar.”


E se a cidade é lugar de encontro, como ensina Carsalade, na Avenida Afonso Pena, esquina com Rua Tamoios, é um dos pontos em que passado, presente e futuro de BH se reúnem. Lá ficava o prédio dos Correios e Telégrafos, que saiu de cena no início da década de 1940, para dar lugar às duas torres Edifício Novo Sul América (Sulacap). Do fundo do prédio, vê-se o Viaduto Santa Tereza, parte do Bairro Floresta, o Parque Municipal e a Rua da Bahia.


Entre retratos em preto e branco e projetos contemporâneos, o endereço é uma das referências do programa “Centro de todo mundo”, pacote de intervenções da administração municipal para deixar a região central da capital mais bonita e com melhores opções de mobilidade, lazer, cultura, desenvolvimento e segurança. Como parte da iniciativa, será demolido o anexo do Edifício Sulacap – repudiado por muitos arquitetos e urbanistas e considerado um corpo estranho no projeto original, para dar espaço à Praça da Independência em integração ao Viaduto Santa Tereza.


O programa de requalificação do Centro de BH contempla ainda a Rua Sapucaí, no Bairro Floresta, de onde se avista grande parte da Região Centro-Sul. Ponto turístico e charmoso, polo gastronômico com bares, restaurantes e lazer da capital, a via, fechada aos domingos, é, agora, alvo de iniciativa da PBH, que está ouvindo a população sobre a implantação de melhorias na estrutura e no espaço de convivência. A proposta prevê que os três primeiros quarteirões da Sapucaí – entre as avenidas Assis Chateaubriand e Francisco Sales – sejam destinados ao uso prioritário de pedestres.


Com o redesenho, a área poderá ganhar espaço de convivência, mobiliário urbano, arborização e paisagismo, arquibancada mirante, quiosques comerciais com banheiro público e outros serviços. A proposta e o formulário da consulta estão disponíveis no portal da PBH.

LUGARES PARA DESCOBRIR, OUTROS PARA CELEBRAR

Em nosso passeio pela cidade que completa 126 anos, algumas paradas para refletir. Já imaginou um lugar bem silencioso, com muito verde, espaço e tranquilidade para passar alguns momentos do dia? Parece impossível encontrar locais assim na Região Centro-Sul de BH, mas basta caminhar um pouco para achar. Para descobrir um quase paraíso na Terra é que a equipe do EM chegou à Estação da Vida, na Igreja Santa Efigênia, de frente para a Avenida Brasil, no Bairro Santa Efigênia.


Dia da semana ensolarado, temperatura elevada, horário do almoço. À sombra, algumas pessoas descansam antes de voltar ao batente, em um “encontro com o relaxamento”. Admirando o jardim, a auxiliar de saúde bucal Mariana Temponi, moradora do Bairro Paraíso, na Região Leste, revela que mantém o hábito sagrado de, após a refeição, caminhar até a Estação da Vida. “Recarrego as baterias”, observa. Ao lado, Jéssica Souza, secretária administrativa residente no Bairro Tupi, na Região Norte, considera um “achado” o espaço, que tem entrada pela Rua Álvares Maciel. “Gosto porque tem muitas plantas.”


Da Estação da Vida para o Memorial à Vida, na Praça João Pessoa, entre as avenidas Bernardo Monteiro e Brasil, na região hospitalar, não são muitos quarteirões. O monumento será inaugurado hoje, como parte das comemorações do aniversário da cidade, pela Prefeitura de Belo Horizonte, em uma homenagem às vítimas da COVID-19 e aos profissionais que atuaram no combate à pandemia na cidade.


A partir da mesma região, no entorno da Avenida Brasil, uma das principais de BH, há um mundo de espaços públicos, lojas e equipamentos urbanos. Uma novidade neste aniversário de BH é que o Conjunto Histórico e Paisagístico da Avenida Bernardo Monteiro, no trecho entre a Brasil e a Praça Hugo Werneck, também será revitalizado, conforme projeto aprovado pela PBH.


A obra, dentro do programa de requalificação da região central, pretende recuperar toda a área acometida pelas infestações de “mosca-branca” causadoras da morte de vários dos exemplares de fícus existentes na Bernardo Monteiro. Segundo a prefeitura, serão plantadas na área outras árvores que atingem grande porte, com copas frondosas para garantir a continuidade da paisagem e das condições de conforto ambiental antes existentes.


Será feita ainda a revitalização geral dos espaços, incluindo não só a vegetação, mas também pisos, iluminação, mobiliário e outros equipamentos, além do retorno das feiras no canteiro central da avenida.


COMIDAS, BEBIDAS E MUITA DIVERSÃO

No meio das andanças e encontros pela cidade, é bom lembrar que BH tem títulos internacionais, como o reconhecimento do Conjunto Moderno da Pampulha como Patrimônio Mundial da Unesco. Deve-se ressaltar que dos 126 anos de BH “mais da metade” está na Pampulha, que, neste ano, celebra oito décadas das edificações projetadas por Oscar Niemeyer (1907-2012) e com marcas notáveis do paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994), do artista plástico Cândido Portinari (1903-1962), do escultor Alfredo Ceschiatti (1918-1989), e de Paulo Werneck (1903-1962), responsável, na parte externa, pelo revestimento em pastilhas.
Outro título internacional da Unesco é o de Cidade Criativa da Gastronomia, podendo o morador ou visitante desfrutar de um leque variado de opções em restaurantes e outros estabelecimentos.


FIM DE TARDE ACOLHEDOR

Da região da Praça Raul Soares para a Zona Sul, outro cartão-postal de BH recebe em um fim de tarde crianças escorregando pelo gramado, casais namorando, grupos de amigos conversando, turistas fotografando, gente e mais gente chegando. A Praça do Papa, no Bairro Mangabeiras, aos pés da Serra do Curral, com visão ampla da cidade, se tornou um dos pontos de visita obrigatória na cidade. O nome oficial é Praça Governador Israel Pinheiro, mas ganhou fama com o “apelido” após a missa campal celebrada, em 1980, pelo então sumo pontífice, hoje santo, João Paulo II.


Mesmo sendo um dos pontos mais visitados de BH, há sempre uma chance a mais de se surpreender com o lugar. “Moro em BH há 45 anos, mas é a primeira vez que venho à Praça do Papa”, diz o potiguar Genival Ferreira de Macedo, ao lado do filho Geneson Martins, psicólogo, de 40. Genival gostou do que viu e fotografou com o celular; Geneson ficou satisfeito com a alegria do pai, neste recanto onde a equipe do EM termina este passeio com uma visão privilegiada da paisagem que batizou a cidade, exaltada e abençoada por São João Paulo II.