Primeiro trecho a passar por obras, ao lado do viaduto sobre a Via Expressa, confluência com a BR-040 é um dos gargalos do corredor que corta Belo Horizonte e que combina tráfego rodoviário e urbano -  (crédito: @estev4m/Esp. EM/D.A Press)

Primeiro trecho a passar por obras, ao lado do viaduto sobre a Via Expressa, confluência com a BR-040 é um dos gargalos do corredor que corta Belo Horizonte e que combina tráfego rodoviário e urbano

crédito: @estev4m/Esp. EM/D.A Press

Inaugurado em 1963, o Anel Rodoviário de Belo Horizonte foi construído para desviar o tráfego de veículos pesados da área central. Sessenta anos depois, se tornou a via de trânsito urbano mais movimentada da cidade, palco de congestionamentos e acidentes quase diários. Para enfrentar um problema que se agravou à medida que a estrutura planejada ficou obsoleta, a prefeitura da capital aposta alto em um pacote de R$ 1,5 bilhão em obras nos oito elevados ao longo do corredor de tráfego. A primeira delas, nos trechos sobre a Via Expressa e também sobre a BR-040, no Bairro Califórnia, Região Noroeste de BH, tem licitação com início previsto ainda para este ano.


Orçado em R$ 62 milhões, o projeto, já pronto e aprovado, prevê a construção de um novo viaduto, alças viárias e uma passarela no trecho próximo à Arena MRV. A operacionalização das obras, no entanto, ainda depende da assinatura de um acordo de gestão compartilhada entre o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), atual responsável pelo Anel Rodoviário, e a Prefeitura de BH. O convênio deve ser firmado nesta semana, adiantou o responsável pela Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), Henrique Castilho, em entrevista ao Estado de Minas.


O município já apresentou a documentação necessária para a licitação e aguarda a aprovação da União. Por ser uma rodovia federal, o órgão vinculado ao Ministério dos Transportes precisa autorizar qualquer intervenção no Anel Rodoviário. “O valor já está garantido. Estamos esperando só as aprovações necessárias para licitar e começar a obra. Nada melhor do que sermos nós os responsáveis pelos serviços. Eles mandam o dinheiro, nós executamos. Isso será possível com a gestão compartilhada”, detalha Castilho. De acordo com o cronograma previsto, as obras no primeiro trecho do corredor começam em abril de 2024, depois do período chuvoso. A previsão é de 18 meses de execução.


Promessa de maior fluidez

A expectativa é que, quando concluídas, as obras nos viadutos do Anel Rodoviário com a BR-040 e a Via Expressa – consideradas apenas uma intervenção, devido à proximidade entre elas – melhorem o trânsito e o acesso em dias de jogos ou shows na Arena MRV. A obra chegou a constar nas contrapartidas para construção do estádio, inaugurado em abril deste ano, mas foi retirada da lista durante as negociações entre o Atlético, dono do empreendimento, e a Prefeitura de BH. “Ali, o tráfego ficou mais intenso. Exatamente para dar fluidez serão criadas essas alças nos dois sentidos”, detalha o superintendente da Sudecap.


Vale lembrar que a Via 040, concessionária responsável pela gestão do trecho da BR-040 entre Brasília e Juiz de Fora, decidiu devolver a administração da rodovia ao governo federal. Com a relicitação ainda em discussão, Castilho avalia o cenário como um reforço à urgência do convênio entre a União e a Prefeitura de BH. “Essa concessão está para ser passada e, quando isso ocorrer, há possibilidade de que ela pare no Anel e continue só depois dele. Então, estamos nesse esforço para trazer o Anel Rodoviário para a gestão de BH”, afirmou.


Durante as obras no Anel Rodoviário, os motoristas que trafegam pelo corredor devem redobrar a atenção, já que por alguns meses o trânsito ficará mais lento nesses trechos. “Imagine um lugar em que passam 120 mil veículos por dia, o planejamento que temos que fazer para não piorar a situação quando começarem as obras... Isso tudo será feito por partes. Não tem como fazer de uma vez, senão a gente para o Anel”, explica o superintendente da Sudecap.


O projeto envolve todo um estudo para remodelagem do tráfego na região, com foco em mitigar os congestionamentos. “Foi contratada uma empresa de engenharia para avaliar o trânsito hoje, onde está agarrando, onde tem mais trânsito e, assim, começa a modelar, a desenhar, para verificar as intervenções necessárias em cada sentido”, explica Henrique Castilho. 

O raio-x do corredor


27 quilômetros de extensão

120 mil veículos trafegam diariamente pelo Anel

R$ 1,5 bilhão em verbas federais previstas para obras em oito viadutos

A primeira intervenção será nos viadutos da BR-040 e sobre a Via Expressa

R$ 62 milhões será o custo dos trabalho

Expectativa de início das obras em abril de 2024

Iluminação agora em LED

Com objetivo de corrigir as deficiências de iluminação no Anel Rodoviário, a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da concessionária BHIP, substituiu as antigas lâmpadas de vapor de sódio por modernas luminárias LED. Foram trocadas 2.140 luminárias. Em toda a cidade, a BHIP trocou 180 mil lâmpadas, com investimento total de R$ 400 milhões.

Confira as oito obras previstas para o Anel Rodoviário


1- Viaduto da BR-040 / Viaduto da Via Expressa (licitação deve ser aberta até o fim deste mês)

2- Viaduto sobre a Avenida Amazonas

3- Viaduto sobre a Avenida Presidente Antônio Carlos

4- Viaduto sobre a Avenida Tereza Cristina

5- Pontilhão ferroviário Bairro Betânia

6- Viaduto da Praça São Vicente

7- Viaduto sobre a Avenida Pedro II

8- Viaduto sobre a Avenida Cristiano Machado

Desafio histórico para a capital

O prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), afirma que a luta por melhorias no Anel Rodoviário, com modernização e reforma, é histórica e que o gargalo se agrava nos trechos próximos aos elevados. “O grande problema do Anel são os viadutos. É exatamente onde fecha; estamos brigando com isso há 20 anos. Esse é um trabalho de longo prazo. A gente não consegue fazer tudo de uma vez”, afirma, referindo-se ao fato de os outros sete viadutos não terem entrado no programa de obras deste ano. “À medida que os projetos forem apresentados e aprovados, os recursos serão liberados”, afirmou o prefeito ao Estado de Minas.


O chefe do Executivo municipal avalia ainda que, além dos viadutos, muitas obras ainda precisam ser feitas. “O Anel Rodoviário é um desafio grande para Belo Horizonte, talvez o maior que nós temos. Fizemos no ano passado uma área de escape que já evitou 22 acidentes, certamente com mortes, mas o problema maior é estrutural”, avalia. Por ora, a estratégia de intervenções é dividida em três etapas. “É uma obra muito cara e complexa, e o recurso do município não seria suficiente. Com o anúncio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), apresentamos um projeto e o governo federal entendeu o tamanho da demanda e do problema”, afirmou Fuad.


As intervenções nos viadutos da BR-040 e Via Expressa serão a primeira etapa de um total reformas em oito viadutos. O alívio para o estrangulamento do trânsito no Anel Rodoviário, na avaliação da prefeitura, está na melhoria de acesso nesses pontos críticos, que prevê interferir positivamente no também no tráfego de outros importantes corredores da capital. As intervenções, tratadas como prioridade, incluem a construção e alargamento de elevados e novas alças. Os próximos na lista são os viadutos sobre as avenidas Amazonas e Antônio Carlos, que também já foram apresentados ao governo federal.


A sobrecarga que se vê atualmente no Anel Rodoviário, principalmente nos horários de pico, é resultado também da falta de alternativa de tráfego. A via une, em pouco mais de 27 quilômetros, as BRs 381, 262 e 040 no perímetro urbano de BH, cortando importantes vias da capital, como as avenidas Cristiano Machado e Carlos Luz, ligando bairros e cidades vizinhas.


Com seu uso modificado, em especial, devido ao crescimento da região metropolitana, essa característica híbrida da via é, na avaliação de Henrique Castilho, superintendente da Sudecap, um de seus maiores gargalos. “O objetivo era tirar os caminhões de dentro da cidade e, na verdade, se transformou em uma grande avenida de Belo Horizonte, uma junção do fluxo de uma via urbana com uma rodovia”, descreve o superintendente da Sudecap. 

Rotina de acidentes

Com estrutura que se tornou superada e com o traçado cheio de armadilhas, o Anel Rodoviário começou a registrar uma sucessão de batidas e mortes que passaram a fazer parte de sua história. De acordo com dados da Polícia Militar Rodoviária, mesmo com a área de escape que evitou acidentes mais graves na temida descida do Bairro Betânia, na Região Oeste de BH, o número de mortes na via cresceu no primeiro semestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2022, subindo de 12 para 17 óbitos. Também houve aumento no número de desastres. Além do risco à vida, o corredor é um dos grandes gargalos do trânsito de Belo Horizonte. Qualquer acidente é capaz de causar quilômetros de congestionamento, já que hoje trafegam por lá diariamente 120 mil veículos, 23% deles caminhões. “Nós nos preocupamos com vidas. O Anel Rodoviário e as enchentes são, hoje, os grandes problemas que BH enfrenta”, avalia o superintendente da Sudecap, Henrique Castilho.