Produtores rurais do setor do café de Varginha, no Sul de Minas; de Caratinga, no Vale do Rio Doce; e de outras cidades mineiras alegam ser vítimas de um golpe por parte da empresa Manga Coffee Corporation, de Varginha. De acordo com o grupo, a exportadora recebeu sacas de café pelas quais nunca pagou. A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) instaurou um inquérito policial, que está em andamento, para investigar o caso.
Um dos advogados que representam um grupo de cafeicultores e de corretores prejudicados pela situação, Daniel Medrado avalia que o tamanho da dívida da empresa “é algo em torno de R$ 450 milhões”, sendo que, desse valor, cerca de R$ 390 milhões seriam destinados somente aos produtores que venderam sua safra e não receberam o dinheiro.
Além do inquérito, na última terça-feira (12/12) uma audiência pública foi realizada no plenário da Câmara dos Deputados para tratar do problema. Os cafeicultores e corretores compareceram e fizeram um protesto na ocasião.
Fábio Arruda, cafeicultor de Piedade de Caratinga, na Região do Vale do Rio Doce, compareceu e disse que ele e o grupo de mais de 300 pessoas que também saíram da região para Brasília passaram 48 horas acordados para protestar em frente ao plenário. “Foi exaustivo, mas a briga é de todos”, ele relata. Também houve protestos em Varginha e em Piedade de Caratinga.
Quanto ao resultado dos esforços empenhados pelos produtores de café, o corretor Paulo Sérgio Miranda diz que a audiência pública foi melhor do que ele esperava: “Muito empenho pessoal envolvido”.
A Manga Coffee Corporation está sob recuperação judicial, e tem 60 dias para apresentar um plano de recuperação financeira ou decretar falência.
O advogado Daniel Medrado explica que a sentença de recuperação judicial é um processo que busca provar a viabilidade da empresa e envolve “um levantamento de quanto deve e a quem deve, movimentações financeiras, e se a empresa é recuperável, financeiramente, ou deve decretar falência”.
Para os produtores, “não existe uma solução proposta pela empresa, não existe um panorama para o pagamento dos débitos em aberto”, explica Medrado. "A situação deles é especialmente complicada, porque se enquadram na situação de créditos quirografários: são os últimos a receber, se sobrar algum recurso”, lamenta o advogado.
A reportagem do Estado de Minas tentou contato com a Manga Coffee Corporation por e-mail e telefone, mas ainda não obteve respostas.
Impactos do problema para o setor da cafeicultura
A falta de pagamento atingiu os cafeicultores que fazem a colheita do café e os corretores, responsáveis por estabelecer o contato entre o produtor rural e as grandes empresas. O pagamento pelas sacas vendidas não foi repassado aos corretores, que, por sua vez, não tiveram como pagar os cafeicultores. “Se o corretor não recebe, a gente não recebe”, Fábio Arruda.
Para o cafeicultor, está sendo muito difícil. “Imagina você trabalhar e no final do mês o salário não entrar. A gente trabalha o ano inteiro para pegar (o pagamento) na colheita, e não pegamos. As coisas primordiais aqui já estão faltando, é uma situação de calamidade”, lamenta.
Ele relata que toda a sua família trabalha com a venda e colheita de café, e que cada familiar deve receber um valor diferente, mas a situação é geral. Além da família, o município de Piedade de Caratinga também sofre com o dilema. “O comércio caiu drasticamente”, conta.
O produtor ainda explica que “a região é sustentada pela cafeicultura, o café compra carro, compra roupa…”. Na visão dele, o que a Manga Coffee Corporation fez se enquadra em “receptação de mercadoria”.
Até que o plano de recuperação financeira seja apresentado pela empresa, o advogado diz que o que os cafeicultores podem fazer é “manter a busca por informações sobre o que aconteceu, procurar movimentações irregulares por parte da empresa e tentar entender as razões para isso”.
*Estagiária com supervisão do subeditor Diogo Finelli.