Uma recente descoberta botânica movimentou a biodiversidade nacional. A Stachytarpheta meninii P.H. Cardoso, uma nova espécie de planta, foi encontrada na vegetação da Cadeia do Espinhaço, no município de Serro, na Região Central de Minas Gerais. A espécie, que vem sendo alvo de admiração, foi descrita em uma publicação do periódico científico “Nordic Journal Of Botany”. Apesar de sua singularidade, ela está classificada como 'criticamente ameaçada de extinção'.
A planta apresenta apenas dois registros de coleta conhecidos até o momento. Em novembro de 2019, por uma equipe de pesquisadores do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, e em fevereiro de 2023, durante uma expedição do Plano de Ação Territorial (PAT) Espinhaço Mineiro para conservação de espécies ameaçadas de extinção, pelos pesquisadores Pedro Cardoso da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em colaboração com Diego Rafael Gonzaga, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), e Marcelo Trovó, também da UFRJ.
A Cadeia do Espinhaço, onde a nova planta foi encontrada, apresenta uma flora exuberante, e muitas espécies endêmicas são descobertas nesta região. O pesquisador Pedro Cardoso conta que reconheceu a planta como uma espécie nova ao analisar um espécime depositado no herbário RB, acervo do Jardim Botânico do RJ. “Encontrei uma amostra muito diferente e fui investigar se existiam mais coletas e registros, fiquei com aquele exemplar, que é um comprovante que me dá indício de que é uma espécie nova”.
Pedro Cardoso conta que a descoberta de uma nova planta é uma tarefa complexa e requer sempre um estudo minucioso e aprofundado sobre o grupo botânico. “Para você descobrir uma espécie nova, tem que conhecer todas as outras já descritas para a ciência”.
Ele explica que reconhecer a planta em meio à vegetação está atrelado ao seu processo de formação e estudo. Os pesquisadores da área tendem a se especializar em grupos específicos, geralmente famílias ou gêneros. ”O especialista aprimora o entendimento dos limites das espécies a cada dia para aprender a diferenciá-las umas das outras e identificá-las corretamente, hoje, com oito anos de estudo, eu já consigo reconhecê-las”.
A descoberta leva consigo um sentimento gratificante dos especialistas. Pedro revela que em cada missão de descrever uma nova planta, sente o carinho e o amor pela flora. Ele exprime sua satisfação ao gerar conhecimento de base, contribuindo pro aprendizado da riqueza biológica ainda desconhecida no Brasil.
Segundo os pesquisadores, a Stachytarpheta meninii P.H. Cardoso é uma espécie de planta aromática, com folhas pegajosas e predominância da cor azul. Mesmo habitando uma área formalmente protegida, ela sofre interferências da ação humana. O especialista ressalta a criação de gado como principal impacto, e relembra um fato ocorrido na expedição. “A gente estava lá tentando encontrar a planta e de repente escutamos um barulho e não sabíamos o que era, de repente passaram dois bois bem grandes, tivemos que correr. Não só eu e os outros especialistas, mas as plantas também correm risco de vida”.
Os pesquisadores encontraram galhos quebrados, e indivíduos adultos e jovens caídos no chão, resultado da ação do gado na região. “Temos uma área no Brasil com vegetação muito rica, mas carente de planos de preservação”, salienta Pedro Cardoso.
Projeto Pró-Espécies: Todos contra a Extinção
A descoberta da Stachytarpheta meninii P.H. Cardoso ressalta a importância contínua da pesquisa científica na conservação da biodiversidade, enquanto também destaca os desafios enfrentados pelas espécies raras e endêmicas.
Os Planos de Ação Territoriais (PATs) são ferramentas nacionais para a conservação das espécies ameaçadas de extinção em cumprimento a metas nacionais e internacionais de biodiversidade. Estes planos consideram as espécies encontradas na categoria de risco Criticamente em Perigo (CR) e atualmente não contempladas por nenhum instrumento de conservação oficial.
O território do PAT Espinhaço Mineiro abrange uma área com 105.251 quilômetros quadrados, e perpassa os biomas Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica. São alvo desse PAT 24 espécies, sendo 19 espécies da flora, três espécies de peixes e dois espécies de invertebrados, entretanto, os efeitos positivos das ações do plano também serão refletidos em pelo menos 1.787 outras espécies ameaçadas presentes no território.
“Tudo que a gente quer, como cientista, é que as espécies sejam preservadas, isso é uma questão política. Eu gero dados de base, mas não sou responsável pelas ações de proteção. O Brasil tem poucas unidades de conservação, como parques ecológicos. Ali a espécie está mais protegida, não teria o impacto da ação humana. É mais raro de acontecer. O Brasil precisa da criação de parques e de planos de ação”, enfatiza o pesquisador Pedro Cardoso.