As obras de ampliação da rodovia entre João Monlevade e Governador Valadares, que devem ser suspensas nas épocas de viagem, mas que ainda assim deixam canteiros e trechos alterados, são um problema, na visão do professor e especialista em transporte e trânsito Raphael Lúcio Reis dos Santos. Com as chuvas de novembro de 2023, parte da pista foi afetada pela queda de barreiras e erosão na área de obras dos túneis Piracicaba, em Antônio Dias, Região do Vale do Rio Doce, causando bloqueio total do trecho e depois liberação parcial do tráfego.
“Por mais que haja a paralisação dos trabalhos, toda intervenção que é feita em uma rodovia constitui um obstáculo, uma vez que os canteiros de obras continuam instalados. É preciso que essa área de intervenção seja muito bem sinalizada e que o motorista esteja ciente de que atravessa uma área que está sofrendo alterações, tendo mais prudência. Ao visualizar esses canteiros ou a sinalização de obras, é preciso adotar uma postura mais defensiva, reduzir a velocidade e assim evitar possíveis acidentes”, detalha o professor Raphael Lúcio.
Nos contratos de concessão rodoviária lançados pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), os cuidados com os canteiros de obras são uma das medidas para a prevenção de acidentes, que deveriam nortear também as obras na BR-381. Entre a precauções citadas estão “evitar as interrupções de tráfego desnecessárias e tomar medidas para não confundir os condutores e permitir que acessem o canteiro”. “Visibilidade do canteiro, dos trabalhadores e equipamentos é fundamental para evitar acidentes. É preciso conhecer as rotinas e os horários de pico das estradas para programar as intervenções e bloqueios. Cuidados com a movimentação de solos e drenagem”, recomenda o texto.
Condições de 'regulares' a 'péssimas' predominam
A Pesquisa CNT de Rodovias 2023 definiu uma classificação do “Estado geral” das estradas com três principais características: o pavimento, a sinalização e a geometria da via. Levam-se em conta variáveis como condições do pavimento, das placas, do acostamento, de curvas e de pontes. Em 2023, em todo país, a avaliação Regular, Ruim e Péssimo dessas características foi de 56,8% para pavimento, 63,4% para sinalização e 66,0% para geometria da via.
As inspeções das estradas foram feitas pelos pesquisadores no deslocamento ao longo das rodovias, em um veículo trafegando à velocidade constante de 60 quilômetros por hora. Os dados são coletados e registrados em um tablet, em aplicativo desenvolvido pela equipe técnica da CNT especificamente para esse fim. Na avaliação de cada trecho de rodovia, é feita a inspeção visual das características em segmentos quando há luz natural e condições adequadas de visibilidade.
A má condição do pavimento das rodovias, marcada por afundamentos, ondulações e buracos, pode levar à instabilidade do veículo e dificultar a manutenção da trajetória desejada, aumentando o risco de acidentes. As irregularidades na superfície afetam o conforto e a segurança do tráfego, além de reduzirem a durabilidade dos componentes veiculares.
Sinalização e traçado também são precários
A condição da sinalização nas rodovias brasileiras foi destacada no levantamento da CNT como preocupante. A sinalização inadequada, que inclui falhas em placas de velocidade, indicações de curvas, e alertas de perigo, representa um risco direto para os motoristas que dependem dela para se orientar e antecipar reações.
As rodovias brasileiras apresentam também problemas na geometria da via, segundo as avaliações da CNT. Essas deficiências, que incluem alinhamento inadequado, faixas de rolamento irregulares e acostamentos mal projetados, aumentam a probabilidade de acidentes, representando um perigo para os motoristas.
Piso feito para tráfego de meio século atrás
Em trabalho do Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Extrema, a avaliação de informações do Dnit desde a concessão da BR-381 (Fernão Dias), no leilão de 2007, mostra que a manutenção de uma rodovia desse porte demanda alto investimento. Os levantamentos apontam que os impactos sobre o pavimento da média de 200 mil veículos por dia exigem vários cuidados e ações preventivas. Uma indicação de que o asfaltamento comum pode não ser a solução para durabilidade com menor manutenção em estradas de fluxo tão intenso, o que abre a possibilidade de utilização de soluções como o pavimento concretado.
“O pavimento pelo qual trafegam os veículos longos e pesados, como carretas bi-trem abarrotadas de carga, ou caminhões-baú em que a tecnologia ajuda a atingirem altas velocidades mesmo com a carga acima da máxima, é o mesmo pavimento estruturado há cerca de 50 anos para suportar Fuscas, Brasílias e caminhões Ford. O que vem acontecendo, em muitos segmentos, é claro: a estrutura do pavimento não foi feita para suportar tanto peso em altas velocidades como vem acontecendo no presente”, destaca o estudo da faculdade de Extrema.