Uma descoberta inusitada de fósseis em uma casa noturna popular de Belo Horizonte movimentou as redes sociais nesta semana. Enquanto estava em uma festa na Casa Sapucaí, no Bairro Floresta, na Região Leste da capital, a bióloga Beatriz Hörmanseder percebeu que manchas presentes na pedra se tratavam de estruturas fossilizadas chamadas de estromatólitos. “Estava de madrugada, subindo a escada, quando fui pisar eu notei o padrão no chão. Comecei a olhar em volta e vi que os três andares da casa estão cheios de fósseis”, relata a doutoranda em biologia animal, que trabalha com paleontologia há dez anos.

Estromatólitos são colunas de várias camadas de bactérias empilhadas. Considerados uma das formas de vida mais antigas da Terra, esses organismos estão no planeta há 2,4 bilhões de anos e foram um dos principais responsáveis pelo oxigênio na atmosfera, já que realizam fotossíntese. Ainda existem, inclusive, descendentes vivos destes organismos pelo mundo, parecidos com os que estão fossilizados na Casa Sapucaí.

Os fósseis de estromatólitos podem ser vistos no chão, nas paredes, janelas, sacadas e até nas pilastras do casarão, local de festas que fazem sucesso entre jovens belo-horizontinos. O espaço, agora, não somente ganhou um novo significado histórico, como uma onda de popularidade de pessoas que querem o explorar e conferir de perto os desenhos circulares nas pedras que, na verdade, são justamente os fósseis.

Leia também: Fósseis que podem ser de titanossauro são encontrados em Uberaba

Lucas Almeida, proprietário da Casa Sapucaí, relata que não sabia que havia estromatólitos no espaço, apenas que as rochas usadas na construção foram importadas da Itália. Ele espera que o achado ajude no tombamento do imóvel que, até o momento, possui grau de proteção “tombamento Indicado” e está inserido em uma área de proteção Estadual e Federal ao patrimônio cultural. “A gente está no processo de tentar conseguir o tombamento federal da casa, mas não temos muito acesso ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)”, afirma.

O proprietário conta que o laudo do tombamento foi aprovado há cerca de um ano. “Tinha uma escola aqui até 2019, que encerrou as atividades, porque estava embargada, fazendo obras em imóvel indicado para tombamento sem alvará. Eu peguei para assumir esse pepino. A casa passou por uma reforma para voltar ao máximo possível às características originais, aí a gente conseguiu funcionar regularmente na proposta de ser um espaço cultural”, conta Almeida, que detalha que o imóvel foi erguido nos anos 1920.

De acordo com Beatriz, fósseis do tipo podem ser encontrados em construções históricas como a Casa Sapucaí, já que apenas em 1942 foi decretada no Brasil a lei que estabelece que depósitos fossilíferos são propriedade da União e, como tais, a extração depende de autorização prévia e fiscalização.

“Essas rochas são ornamentais, são bonitas e foram usadas por isso. Tem pedreiras que tem fósseis, mas que utilizaram as rochas para fazer casas e prédios. Hoje, o certo a se fazer com a extração dessas pedras é quando se acha um fóssil com valor científico ele seja levado a uma instituição pública de ensino”, pondera a paleontóloga.

Estromatólitos são colunas de camadas de bactérias empilhadas que estão no planeta há 2,4 bilhões de anos

Ana Pisani

Outro local conhecido que tem fósseis na construção é o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro. As rochas de lá, contudo, são provenientes de Ouro Preto, na Região Central de Minas Gerais. “Ouro Preto já teve esses organismos vivos há 2 bilhões de anos atrás, porque antes lá era mar. Esses organismos se fossilizaram, se transformaram em pedra e foram usados 100 anos atrás na ornamentação de prédios”, explica a bióloga.

Repercussão e festa

Beatriz afirma que esperava uma repercussão alta, mas se surpreendeu com a proporção que a história tomou na internet. A postagem original feita no X, antigo Twitter, sobre o achado ultrapassa 25 mil curtidas e 4 milhões de visualizações. “Sabia que ia chamar atenção, porque é uma coisa que ninguém conhece, mas que está num lugar que várias pessoas frequentam, em um ponto famoso de BH. Mas não sabia que ia chamar essa atenção toda”.

Já Lucas aproveitou o gancho da descoberta e o interesse do público para promover um evento temático, chamado “Festa Mais Antiga do Mundo”, nesta sexta-feira (8/12). “Entrei em contato com a Beatriz e bolamos tudo. A gente vai botar dinossauros infláveis pela casa, fantasias de dinossauros, decoração de fósseis”, conta o proprietário.




compartilhe