Após mais de dez anos da devastação dos fícus que adornavam e refrescavam a Avenida Bernardo Monteiro, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) finalmente promoverá, em janeiro de 2024, a licitação do projeto de revitalização do conjunto histórico e paisagístico da região. O projeto foi fruto de um concurso cujo vencedor foi anunciado em maio de 2021, mas sua aprovação só aconteceu em julho deste ano.
A proposta vencedora recebeu um prêmio de R$ 150 mil para o desenvolvimento do projeto, conforme edital lançado em 2018, e o orçamento estimado para a sua execução, segundo o estudo técnico preliminar da contratação, é de R$ 2.631.911,23. O prazo da execução da obra é de 240 dias corridos contados a partir da emissão da ordem de serviço; e o prazo de vigência do contrato é de 420 dias corridos contados a partir da assinatura do contrato.
Dentre as atividades descritas na revitalização, estão demolição e reinstalação de pisos e bancos; paisagismo, incluindo a remoção e plantio de espécies arbóreos; irrigação e drenagem; mobiliário urbano e sombreamento com implantação de toldos; além da instalação de travessias elevadas atendendo às normas de acessibilidade; demolição de edificação; instalação de iluminação, câmeras de segurança, placas informativas e de identificação de árvores, lixeiras, paraciclo e balizadores
O objetivo do projeto é valorizar o espaço de fruição pública de valor histórico e cultural da Avenida Bernardo Monteiro, levando em consideração a viabilidade e a sustentabilidade para a implantação, a implementação e a manutenção da proposta. O projeto integra o Programa de Requalificação do Centro de Belo Horizonte, “Centro de Todo Mundo”, desenvolvido com o objetivo de qualificar a região central da capital, aumentando as oportunidades de moradia, trabalho e lazer.
De acordo com o secretário municipal de Meio Ambiente, Zé Reis, “assim como todas as ações contempladas pelo programa de requalificação do Centro, o projeto de revitalização da Bernardo Monteiro visa devolver as riquezas do nosso eixo central e a dignidade à comunidade que vive e transita pela região. Do ponto de vista ambiental, o resgate dos ecossistemas em áreas de intensa urbanização é, além de um desafio, um legado importante que podemos deixar à nossa capital”.
Para além dos benefícios ecológicos de se manter as florestas urbanas de pé, os fícus da Avenida Bernardo Monteiro, no trecho entre a Avenida Brasil e a Praça Hugo Werneck, na Região Centro-Sul da capital mineira, compreendem um importante corredor ecológico dentro da cidade, conectado com o Parque Municipal Américo Renné Giannetti.
O projeto da Av. Bernardo Monteiro foi validado pela DPCA - Diretoria de Patrimônio Cultural e Arquivo Público, possui aprovação da Comissão de Mobiliário Urbano – CMU, e foi validado pela BHIP e pela BHTRANS.
Promessa de revitalização é antiga
A promessa de um concurso para a revitalização do conjunto já existia desde 2014, mas aconteceu apenas em 2018, quando foi lançado o edital. Em 2016, a reportagem do EM já publicou que o edital para o concurso estava em fase final de elaboração. “A solução final vem se arrastando há pelo menos dois anos, já que em março de 2014 havia sido prometida providência semelhante, que incluía até mesmo proteção dos espécimes”, publicou o EM na época.
O objetivo do projeto é valorizar o espaço de fruição pública de valor histórico e cultural da avenida Bernardo Monteiro, tendo em vista a viabilidade e sustentabilidade para a implantação, implementação e manutenção da proposta e permitir o retorno das feiras.
O vencedor do concurso para a revitalização do Conjunto Histórico e Paisagístico da avenida Bernardo Monteiro – considerado patrimônio protegido pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte – foi anunciado em maio de 2021. Ao todo, foram sete propostas candidatas e a vencedora foi a da equipe ASA, do escritório paranaense Pagus Arquitetura Ltda.
A aprovação do projeto se deu em julho de 2023, e a licitação está prevista para o dia 17 de janeiro de 2024. O encerramento das obras deve acontecer até o final do ano que vem.
Feira local
A avenida Bernardo Monteiro, adicionalmente à avenida Barbacena, compõe o conjunto hospitalar tombado, que, além de abrigar por décadas as feiras típicas, é também espaço de circulação e permanência de trabalhadores, pacientes e familiares, que encontram no canteiro central um espaço agradável de permanência e fruição.
A Feira de Artesanato da região precisou mudar de local por conta da praga da mosca branca nas árvores da Avenida Bernardo Monteiro em 2013, e só voltou à região em abril de 2019 – ainda que com algumas complicações.
Irani Batista, proprietária de uma das mais de 100 barracas ativas na região da Feira Espaço da Cidadania – realizada toda sexta-feira das 8h às 17h –, conta que integra o quadro de expositores desde 2010. Desde a poda das árvores e a volta à Avenida Bernardo Monteiro, ela afirma sentir falta da sombra e da proteção das árvores contra o sol e a chuva.
“Se a Prefeitura tivesse plantado outras árvores na época em que deu problema com os fícus, as novas árvores já estariam num tamanho bom para nos fazer sombra. Essa avenida precisa ser reformada e cuidada, e já até nos passaram o layout de como vai ficar. Nós que escolhemos qual seria melhor e se adequaria bem para a gente. As árvores serão replantadas e nós teremos nosso espaço de feira, e isso vai ser muito bom para nós”, celebra ela.
Rafaela Teixeira, uma transeunte que passava pelo local nesta sexta-feira, reforça: “Eu gosto muito de natureza, ar livre e lugares arborizados, mas se as árvores estão ficando doentes, tem que tirar mesmo. Só que já era pra terem plantado outras árvores na época em que aconteceu, que aí já estariam grandes. O mundo precisa disso e a gente agradece”.
Histórico do fícus em Belo Horizonte
Os fícus foram plantados em Belo Horizonte no início do século XX em regiões planejadas do centro do município, mas na década de 1960, as árvores começaram a adoecer por falta de cuidado. Nos anos 1980, a área da Avenida Bernardo Monteiro recebeu um tratamento com aeração das raízes subterrâneas, troca de piso e implantação da Feira das Flores – que, hoje, acontece na Avenida Carandaí às sextas-feiras, das 6h às 17h.
Os primeiros sinais da mosca-branca-do-fícus foram detectados nas árvores de BH em julho de 2012. A praga causa ressecamentos de galhos e ramos, além de comprometimento severo dos estados fitossanitário e vegetativo das árvores atacadas, pois suga a seiva e retira nutrientes das plantas, injetando toxinas que provocam desfolhamento intenso. Como relata a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a princípio a árvore rebrota, tentando uma reação, mas, com o tempo, acaba por se exaurir. É quando os ramos secam e a planta morre.
Em 2013, o trecho da avenida Bernardo Monteiro, entre avenida Brasil e a Praça Hugo Werneck, região Centro-Sul da cidade, foi severamente acometido por infestações do inseto conhecido como “mosca-branca-de-ficus”, que causaram a morte de vários dos exemplares de fícus existentes na via. A praga chegou a matar, de uma vez, 20 dos 51 exemplares de fícus existentes no trecho..
Como forma de prevenir acidentes por conta da queda de ramos e galhos, a PBH promoveu uma poda massiva das árvores.
Agora, com a revitalização, ainda não foi informado se os fícus voltarão à Avenida Bernardo Monteiro, mas o planejamento é de que sejam plantadas árvores de folhagens verdes perenes para restabelecer o visual arbóreo com sombras, ainda considerando o piso em calçada portuguesa existente.