Folia de Reis é tradição da cultural popular brasileira e enfeitou a Praça da Liberdade neste sábado (6/1) -  (crédito:  Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press)

Folia de Reis é tradição da cultural popular brasileira e enfeitou a Praça da Liberdade neste sábado (6/1)

crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press

Belo Horizonte recebeu, no comecinho da noite deste sábado (6/1), a Folia de Reis na Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul da capital mineira. Com participação de Maurício Tizumba e Pereira da Viola, oito cortejos de BH e Região Metropolitana desfilaram na Alameda Central da praça e animaram a região, que terá a decoração retirada ainda no sábado.

Apesar do atraso inicial e organização que deixou a desejar – as vias ao redor da Praça da Liberdade só foram bloqueadas quando as folias saíram e o trajeto foi sendo aberto entre o público quando já desfilavam –, o momento foi recebido pelo público com palmas acompanhando o ritmo dos batuques e muita beleza. Não à toa, o cortejo começou quando as luzes da Praça da Liberdade já estavam acesas e enfatizavam um momento etéreo – mas lotado de gente.

As folias marcaram o encerramento do Natal da Mineiridade, período de 36 dias que contou com uma agenda cheia de atrações em Belo Horizonte e em cidades do interior. As folias se reuniram no prédio do Instituto Estadual o Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) – o Prédio Verde – e seguiu até o Palácio da Liberdade, onde foi realizado um ato simbólico.

A programação contou com participação do cantor e compositor Maurício Tizumba, que receberá o violeiro Pereira da Viola, além de oito folias da capital e do interior, que são: Folia de Santos Reis (Conjunto Paulo VI), Pastorinhas da Tapera, Folia de Santos Reis e São Sebastião com Proteção de São José, Folia de Reis de Dona Guidinha e Folia de Santos Reis (Vespasiano).

“É um momento de muita felicidade e de alegria. Que esse encontro seja bem proveitoso para resolver algumas demandas da nossa religião de matriz africana e da nossa comunidade, além de resolver os preconceitos de discriminação e racismo. Isso está sendo muito importante, porque com essa idade que eu estou, quase 80 anos, nunca vi uma coisa tão maravilhosa”, declara Mametu Muiandê, a Mestra Efigênia Maria da Conceição, sacerdotisa do Candomblé e da Umbanda.

Para as pessoas que compareceram ao evento, a realização da Folia de Reis em Belo Horizonte é o reforço da persistência de tradições mais interioranas.

“A Folia dos Reis é uma das coisas mais tradicionais de Minas, então quando a gente vai para cidades do interior, presenciamos isso muito vivo, e trazer isso para a capital é de uma riqueza muito grande. Então, é uma alegria poder compartilhar com todo mundo de Belo Horizonte esse momento tão especial”, conta a socioambientalista Christiane Carvalho Uchoa.

“Está tudo maravilhoso. Amo essa manifestação cultural e sou acostumada a acompanhar há muitos anos, até em outras cidades: Sabará, Caeté, todas essas cidades que têm esse costume. Esse é um momento de ouro para os mineiros, e quem não conhece, está tendo essa oportunidade de conhecer agora”, complementou a servidora pública Maria da Conceição.

O que é a Folia de Reis

Celebrado neste sábado (6/1), a Folia de Reis ou Reisado marca uma tradição centenária na cultura popular brasileira de origem ibérica e trazida ao país durante o período colonial. Em diversas cidades brasileiras, cortejos passam de casa em casa performando danças e cantorias com múltiplos instrumentos de corda, sanfonas e percussão.

Alguns grupos contam com personagens – reis, palhaços e bastiões – que chegam a visitar as casas de devotos, distribuindo bênçãos e recolhendo donativos para variados fins. Apresentam características regionais e as indumentárias variam de grupo para grupo, a exemplo de trajes militares, vestes de palhaço, máscaras ou mesmo roupas comuns.

As folias pelas ruas reúnem grupos de cantadores e instrumentistas que entoam versos em homenagem aos três reis magos: Baltazar, Belchior e Gaspar – convertidos em santos pela Igreja Católica. Eles teriam saído do Oriente, guiando-se por uma estrela e levando três presentes: ouro, incenso e mirra, simbolizando realeza, imortalidade e espiritualidade.

Assim, o dia 6 de janeiro marca o momento em que os três reis magos visitam o recém-nascido Jesus Cristo, em Belém, cidade milenar, atualmente localizada na Palestina.

Para os devotos, a chegada dos reis magos ao destino é quando se encerram os festejos natalinos, iniciados quatro domingos antes do 25 de dezembro. Também é no dia da Folia de Reis que são desarmados os presépios, as árvores e os demais enfeites natalinos.

Os instrumentos que conduzem os cantos são as violas, violão, cavaquinho, pandeiro, bumbos, sanfona e caixas. O principal elemento simbólico é a bandeira e os grupos se organizam a partir de ritos, como giro ou jornada, encontros, festas e cumprimento de promessas.

Ao longo dos anos, a manifestação foi se tornando componente de considerável importância na construção do imaginário, identidade e memória individual e coletiva dos mineiros. As folias reúnem em torno de si diversas práticas culturais, saberes, formas de expressão, ritos e celebrações afro-mineiras e representam uma parte importante do patrimônio cultural mineiro.

“Eu participo de Folia de Reis desde criança, quando aprendi a tocar, cantar e dançar com um preto velho chamado Seu Evaristo, da região de Mucambeiro. Foi com ele que aprendi que essa cultura católica teve sua origem na Europa, mas hoje faz parte da nossa tradição, tomada principalmente pelos povos de origem negra, que foram responsáveis pela inserção dos tambores, batuques, sapateados, da dança e da alegria. Ao mesmo tempo, expressa a fé enquanto leva um pouco de alegria ao povo brasileiro”, destaca Maurício Tizumba.

“A folia é das manifestações populares mais legítimas da nossa cultura. Ela exalta a arte, a religiosidade, o regionalismo e o nosso reconhecimento como ser humano enquanto celebra uma tradição universal”, complementa o músico Pereira da Viola.

Atualmente, a tradição perdura em diversos estados do país, especialmente nas regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. Em Minas Gerais, o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) já cadastrou mais de 1,6 mil grupos de cortejo em cerca de 400 municípios, e a prática é considerada, desde 2017, patrimônio cultural de natureza imaterial.

Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), existem três pedidos de reconhecimento abertos no Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI): Reisados de Pernambuco; Folias de Reis Fluminenses; e Folias de Reis do Estado de São Paulo.

Natal da Mineiridade

A iniciativa é do Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), em parceria com a Cemig, e tem realização da Casulo Cultura e Full Produções.

De acordo com Danusa Carvalho, diretora artística do projeto Luzes de Natal, o grande destaque e mérito desta edição, considerada uma das mais exitosas desde a criação do projeto, é a conexão histórica entre os temas e personagens que integram a celebração universal juntamente com a valorização da história e das riquezas de Minas Gerais.

O projeto recebeu, em média, cerca de 12 mil pessoas por dia entre segunda e sexta-feira e cerca de 18 mil pessoas aos finais de semana – quase 600 mil pessoas circularam pela Praça da Liberdade.

A proposta, tanto de decoração quanto de programação, destacam riquezas e personagens que integram o Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Estado. Ela evidencia o espírito criativo e libertário do povo mineiro e lança luzes, temas e conceitos inovadores e contemporâneos ao Circuito Liberdade.

A Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) estima que R$ 2,5 bilhões foram injetados na economia da capital no período de Natal e Réveillon.