Missa pela alma dos escravizados, alforriados e negros livres, no Cemitério dos Escravos, em Santa Luzia -  (crédito:  Gustavo Werneck/EM)

Missa pela alma dos escravizados, alforriados e negros livres, no Cemitério dos Escravos, em Santa Luzia

crédito: Gustavo Werneck/EM

O Cemitério dos Escravos, importante sítio arqueológico de Minas Gerais, localizado em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, conquistou um marco significativo ao ser oficialmente reconhecido por lei, pela sua relevância cultural. A legislação, sancionada nessa quarta-feira (10/01), ressalta a importância histórica do local e reforça a necessidade de preservação e conscientização sobre o legado da população negra na cidade.

O reconhecimento legal visa não apenas proteger o patrimônio histórico-cultural, mas também fomentar pesquisas e educação acerca da herança africana na região. A proposta da lei foi encaminhada à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) pelo Movimento Salve Santa Luzia e acolhida pelo mandato da deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT).

O sociólogo Glaucon Durães, membro do Movimento Salve Santa Luzia, explica que a motivação para a busca do reconhecimento do cemitério foi o atual cenário de risco sofrido pela região, devido a projetos imobiliários.

Histórico de lutas

O pequeno cemitério, construído pelos escravos no século XVIII, está localizado a 7 km do Centro de Santa Luzia, dentro da propriedade dos irmãos Álvaro Moreno Diniz e Séptimo José Diniz, e a conquista faz parte de uma antiga luta travada pela comunidade quilombola de Pinhões desde o início dos anos 2000. Este quilombo tem mais de 300 anos de histórias e tradições culturais. A comunidade foi fundada por negros escravizados, enviados para a região a fim de cuidar das propriedades e suas divisas.

Segundo a prefeitura da cidade, “houver sepultamentos em meados do século XIX no local, onde o cemitério foi erguido, por ocasião do número de escravos nas fazendas, bem como dos ritos católicos com respeito à morte, presentes na estrutura de pensamento das casas-grandes”.

A região em que se encontra o cemitério foi alvo também da mineração de ouro de aluvião, na bacia hidrográfica do Rio das Velhas. Além disso, conflitos como a construção do Rodoanel destacam a necessidade de proteger o espaço. “Frente a esses conflitos de interesse, o Salve Santa Luzia recorreu ao instrumento legal e proteção para resguardar o direito ao patrimônio da comunidade quilombola, para assegurar que esse espaço de memória seja preservado, cuidado e protegido”, destaca Glaucon.

Tombado pelo município de Santa Luzia em 3 de novembro de 2008, a construção, erguida em alvenaria de pedra, não possui lápides e túmulos, como nos cemitérios convencionais, mas apenas um cruzeiro em madeira e um caminho cimentado. Hoje, o principal evento do sítio arqueológico é o dia de finados (2 de novembro), quando é celebrada uma missa às 17h pelas almas dos escravos ali enterrados.


Serviço

Localização: Rua Damaso José Diniz, S/N, Estrada da Igreja Nossa Senhora da Conceição - Santa Luzia, MG

O cemitério funciona todos os dias 24h, inclusive feriados.

A entrada é franca e é aberta a visitações não guiadas e eventos religiosos.

* Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata