
Carnaval para todos: folia em BH está atenta à inclusão
Com intérprete de libra a cadeirante na bateria, a palavra de ordem no Carnaval de Belo Horizonte é democracia e acolhimento de todos
Mais lidas
compartilhe
Siga noPara muitos, Carnaval é sinônimo de subversão da ordem, dias em que a vida ganha outras cores, caminhos, e, temporariamente, as pessoas se entregam às festas e aos prazeres carnais para, em seguida, iniciarem a Quaresma, em preparação para a Semana Santa. Essa é a visão histórica, tradicional. E Carnaval também significa liberdade e inclusão, uma festa do povo para o povo. E em Belo Horizonte, a folia do Momo é retrato de democracia, e todos são convidados a participar e invadir as ruas da capital.
Neste domingo (14/1), no segundo dia do Ensaio Geral, na Avenida dos Andradas, com concentração na altura do número 4.000, a programação seguiu o roteiro, ainda que a tempestade da noite desse sábado (13/1) tenha feito o dia acordar um pouco instável, com nuvens. Mas nada que atrapalhasse o ritmo para os ajustes finais.
13/01/2024 - 20:17 Carnaval de BH: ensaio geral termina com atraso de blocos 14/01/2024 - 11:00 Presidente da Belotur: ‘Carnaval é uma potência que gera emprego e renda’ 14/01/2024 - 10:22 Carnaval BH 2024: polícia registra um baixo número de furtos no Ensaio Geral
A atenção foi capturada pela presença de um intérprete de libras, a Língua Brasileira de Sinais, no Bloco da Esquina, que abriu o segundo dia com o cortejo testando a nova estrutura de sonorização da folia.
Gigi Favacho, da curadoria e coordenação de comunicação do Ensaio Geral, explica que a presença da inclusão no Carnaval de BH é um propósito: "Existe uma frase de Marcelo Xavier, um artista visual de Belo Horizonte, fundador do bloco Todo Mundo Cabe no Mundo, que é um bloco de representatividade PCD (pessoas com deficiência), sobre inclusão: 'O direito à alegria é irrevogável'. E isso serve de norte para a produção do Ensaio Geral. Temos intérpretes de libras em todos os cortejos, um trio elétrico adaptado, inclusive, com elevador para a entrada de cadeirantes ou pessoas com mobilidade reduzida, e, claro, estamos também na comunicação atendendo à demanda de aparelhos com aplicativos que têm leitura para pessoas com deficiência visual".
Gigi destaca que todos os intérpretes são escalonados de acordo com a legislação. "É uma forma de contribuição para o acesso à alegria e à folia para mais pessoas. Todos temos direito a sermos alegres e felizes."
E completa: "Estamos falando em todas elas (pessoas), sobre o respeito à diversidade, de corpos, de gêneros, de etnias, de uma classificação etária e, até mesmo, de classe, já que a proposta do Carnaval de Belo Horizonte, em si, é de horizontalidade e de atender a todos os públicos e recortes sociais, de estarmos com os movimentos periféricos e de identidade de todas elas".

Intérprete de libras presente no segundo dia do Ensaio Geral do Carnaval no Bloco da Esquina
Outro destaque na festa foi Gabriela Carvalho Lemos, de 19 anos, presença das mais animadas na bateria do Bloca da Esquina, no comando do surdo: "Toco bateria, oficialmente, desde 2020 e participo de cinco blocos, o Bloco da Esquina, Volta Belchior, Queixinho, Mimosas Borboletas e Sexta Ninguém Sabe".
Gabi Lemos teve a cadeira adaptada para viver seu sonho de tocar surdo. "Para isso tudo acontecer, sempre tive o sonho de tocar, e o melhor instrumento é o surdo, porque ele descarrega energia. Jogo energia para fora. Descobri uma pessoa para fazer um surdo adaptado. È um caminho sem volta, que amo muito."
Quanto os obstáculos da inclusão no Carnaval, Gabi sabe bem o caminho das pedras. "O melhor lugar de estar no Carnaval hoje é na bateria, porque aí você está seguro. Nas ruas, o asfalto é melhor que passeio, já que todos os passeios são aquela beleza irônica. Aos trancos e barrancos, busco estratégias não só para mim, mas para todo mundo. Há pessoas que carregam instrumentos maiores do que eu."
Entre as várias interpretações do bloco, com megafones em mãos e dando um gás a mais no som, os componentes cantaram "Quem sabe isto quer dizer amor", canção interpretada por Milton Nascimento e composta pelos irmãos Borges, Lô e Márcio. Como bloco convidado, o Filhas de Clara teve a presença de Aline Calixto, que cantou Clara Nunes, ao lado da cantora Tia Elza.

Abre alas da Banda da Cemig
Renda extra
Diferentemente do primeiro dia de Ensaio Geral, neste domingo (14/1), vendedores ambulantes não podem ficar no meio da Avenida dos Andradas. Desde o inicio da manhã, fiscais da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) estão orientando os vendedores a se posicionar no passeio da pista sentido bairro. Isso porque, ao chegar ao fim do percurso, na altura do número 3.560, o trem elétrico faz o retorno na avenida. No sábado, a manobra foi dificultada por ambulantes e foliões.