A Praça Sete está animada pela 7ª Caminhada Pelas Vidas Trans na tarde deste domingo (28/1). Organizada pelo Movimento Autônomo Trans de Belo Horizonte (MovAT) e com o apoio do poder público, ONGs e aliados, a manifestação faz parte da programação da 7ª Semana da Visibilidade Trans e Travesti e já começou com gritos de resistência - e uma chuva forte, que deu uma trégua ainda durante a concentração.
"Quero lembrar a todes que, apesar de ser Carnaval, ainda estamos na 7ª Caminhada da Visibilidade Trans e Travesti de Belo Horizonte, no bloco MovAT. É bom falar, porque tem muita gente que chega desavisada, achando que é só mais um bloquinho. É, também, mas aqui falamos da Caminhada. Não há lugar para a reprodução de machismo, transfobia, racismo ou qualquer outro tipo de violência", declarou Juhlia Santos, militante do movimento trans e travesti e uma das organizadoras do evento.
Mesmo com a chuva durante a concentração do cortejo, a festa e a celebração pela vida das pessoas trans e travestis promete não ser interrompida.
"A chuva nunca parou o Carnaval de Belo Horizonte, e dessa vez a gente chega, pela primeira vez, como um bloco. Já estamos no nosso sétimo ano da Caminhada, e o Carnaval sempre dialogou conosco, ainda mais por promovermos nossa Caminhada muito próximo desse evento. Estaremos nos manifestando pela condição inegociável de humanidade, que ainda não conquistamos porque nossas pautas ainda são muito frágeis, e o poder público não olha para a gente enquanto cidadãos e cidadãs", disse Juhlia ao Estado de Minas.
O cortejo é comandado pelo MovAT e reúne outros 12 blocos: Abalô-caxi; Truck do Desejo; Os Aflitos Anchieta; Bruta Flor; ClandesTinas; Corte Devassa; Tapa de Mina; A Roda; Lavô, tá Novo!; MineiraSystem; Lua de Crixtal; e Angola Janga.
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"É uma obrigação de todo cidadão bom - e não o cidadão de bem, mas nós, pessoas cisgênero, LGBTQIAPN+ ou não - estar aqui. É o mínimo, porque é o comprometimento com nossa fala, com o que a gente prega e acredita sobre a diversidade, o apoio como aliado, aliada, aliade. Estamos desde a primeira Caminhada e aqui de novo para deixar essa contribuiçãozinha", afirma Rafa Ventura, vocalista do bloco Abalô-caxi.
"A expectativa para hoje é a melhor de todas. É sempre lindo ver essa diversidade, as pessoas desfilando com essa fantasia de ser, de existir, de coexistir de forma natural nesse espaço que é nosso. Mas espero que isso não seja só hoje, e que possamos vestir essa fantasia todos os dias, para além do Carnaval", completa ele.
Além dos blocos parceiros, o MovAT também contou com o apoio de instituições como o Mães pela Diversidade e a Copasa - que trabalham em conjunto para a distribuição gratuita de água ao longo do trajeto da Caminhada.
"A Copasa nos cedeu esse carro, mas não permite que os foliões se sirvam com a água ao longo do bloco, até para não dar problema, então fazemos esse trabalho. Mas a gente faz esse trabalho de distribuição de água e lanche em todos os blocos LGBTQIAPN+ da cidade", conta Clermen Gosling, uma das apoiadoras mais antigas do Mães pela Diversidade.
PBH
Ao Estado de Minas, a diretora de Políticas para a População LGBT da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), Giselle Lima, afirmou que a Caminhada e o bloco MovAT juntaram forças para ocupar a cidade e transmitir uma mensagem importante de existência e resistência.
"Colocar a Caminhada na rua junto a um bloco de Carnaval é um movimento que simboliza a institucionalidade, um diálogo com a sociedade como um todo, e reforça que a visibilidade é para pensar políticas públicas para que possamos ocupar todos os espaços da cidade, inclusive os institucionais", disse ela.
Caminhada Pelas Vidas Trans e Travestis
Iniciada em 2017, a Caminhada Pelas Vidas Trans e Travestis surgiu como atividade de encerramento da Semana da Visibilidade Trans de BH e, com o tempo, passou a assumir um formato mais carnavalesco, sem deixar de lado seu teor político, promovendo a afirmação da existência de pessoas trans e travestis na cena momesca belo-horizontina.
A bateria é composta por pessoas LGBTQIAPN+, e o bloco ainda conta com a participação de ativistas como Cristal Siuves, Gab Lamounier, JoMaka, Juhlia Santos, Nickary Aycker e outras personalidades da cena mineira.
O cortejo conta com intérprete de Libras, que fica no trio durante todo o trajeto.
A concentração começou às 14h na Praça Sete, em frente ao Cine Theatro Brasil Vallourec, e a saída, programada para às 15h, atrasou um pouco. O bloco sai em direção à Rua Aarão Reis, com previsão de chegada para as 18h e um after no Teatro Espanca.