A frota conta com cinco helicópteros e dois aviões que operam em quatro bases, localizadas em Belo Horizonte, Montes Claros, Varginha e Uberaba -  (crédito:  Jair Amaral/EM/D.A Press)

A frota conta com cinco helicópteros e dois aviões que operam em quatro bases, localizadas em Belo Horizonte, Montes Claros, Varginha e Uberaba

crédito: Jair Amaral/EM/D.A Press

 O Suporte Aéreo Avançado de Vida (Saav) realizou, em 2023, mais de 1.200 atendimentos. O serviço presta suporte inter-hospitalar, aqueles nos quais há necessidade de transferir um paciente de um hospital para outro, geralmente realizados por aviões, e atendimentos rápidos diante de ocorrências como acidentes em rodovias, transplantes de órgãos, resgates em quedas d’água, incêndios e desastres naturais – situações que exigem salvamentos em um curto tempo de resposta e uso de helicópteros para transferências imediatas a hospitais.


A frota conta com cinco helicópteros e dois aviões, operando em quatro bases localizadas em Belo Horizonte, Montes Claros, Varginha e Uberaba. Segundo a Secretaria de Saúde de Minas Gerais (SSMG), a previsão é que mais quatro aeronaves sejam entregues neste ano, e outras duas bases sejam inauguradas na Região Leste do estado e na Zona da Mata.


Desde o seu início, em meados de 2006, foram registradas mais de 19 mil horas de voo, com 7.780 pacientes transportados e 9.249 atendimentos. Integram a estatística eventos trágicos como a pandemia de COVID-19 e o rompimento da barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG) – que completou cinco anos na última quinta-feira (25/1). “A ocorrência de Brumadinho vai ser guardada na cabeça e nos corações de todos os bombeiros militares. Foi muito emblemática”, revela o capitão Wilker Tadeu Alves, piloto e comandante de aeronaves de asas rotativas e helicópteros do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais.


Na época, Wilker estava afastado devido ao nascimento do seu filho – que tinha apenas 20 dias de vida. Ele relembra, emocionado, do dia em que o rompimento aconteceu e como ele e outros agentes atuaram diante da urgência do fato. “Estava no finalzinho da licença paternidade e ainda estava apoiando minha esposa e meu filho recém-nascido. No dia do rompimento, acompanhei pela televisão, e nos dias seguintes, fui atuar em apoio à sociedade e ao cidadão mineiro. Não tinha jeito de ficar em casa. Tanto eu quanto os outros bombeiros (que estavam em casa) vestiram a farda e foram atuar.”


Já o sargento Welerson Gonçalves Silgueiros relata que estava de plantão no dia e, por volta do meio-dia, os bombeiros receberam a ocorrência. “Desloquei-me junto à equipe no Arcanjo 4 para fazer o atendimento. Durante todo o período em que o Batalhão de Operações Aéreas (BOA) esteve envolvido, fiz parte das operações de busca, do suporte às equipes de solo, transporte de equipamentos e efetivos.”


A palavra “arcanjo” significa anjo principal, que atua como mensageiro em missões especiais. Segundo o tenente-coronel Peterson José Paiva Monteiro, quando o BOA foi criado, era necessário dar um nome às aeronaves, e “arcanjo” foi o escolhido para simbolizar a proteção às pessoas e a missão cotidiana do grupamento.

CRIANÇAS ENVIAM CARTAS

Ambos fazem parte da corporação há aproximadamente 17 anos, tendo participado de diversos socorros e resgates. E tratando-se do rompimento da barragem, em um cenário de exaustão e urgência, os bombeiros relembraram o momento em que as crianças de Brumadinho escreveram cartas para a equipe. As mensagens, carregadas de sentimento, simbolizavam a confiança e o respeito com aqueles que trabalhavam incessantemente. À época, foram intitulados os “heróis de Brumadinho”.


“Ficou muito marcado para mim as cartinhas das crianças que deixavam para lermos. Isso dava muita força e muita energia para ajudar aquelas crianças”, relembra o capitão Wilker.


“Tinham várias cartinhas e eram bem emocionantes para a gente. Algumas com mensagens de apoio e outras com pedidos de ajuda para que procurássemos e encontrássemos os seus familiares. As cartas ficavam dispostas em murais nos nossos pontos de parada”, relata o sargento.

ROTINA DE TRAGÉDIAS

As missões do grupamento são árduas e exigem um cuidado prévio e posterior dos salvamentos – principalmente devido ao contato direto com pessoas em seu estado mais vulnerável. E ainda que os profissionais mantenham o rigor de atender de forma técnica os chamados, eles prezam por um serviço humanizado.

Capitao Wilker , comandante de aeronaves ,que atuou na tragedia de Brumadinho, que esta semana completa  5 anos arios integrantes desta equipe participaram dos salvamentos ,busca e resgate na regiao de Brumadinho

'A ocorrência de Brumadinho vai ser guardada na cabeça e nos corações de todos os bombeiros militares. Foi muito emblemático', revela o capitão Wilker Tadeu Alvez

Jair Amaral/EM/D.A Press


“Eu costumo dizer que, infelizmente, todos os dias acontece uma tragédia. O que me marca muito são todas as ocorrências que envolvem crianças. Eu acho que, na minha memória, se eu pegar um papel para anotar, consigo registrar todas as ocorrências que eu atendi que envolveram de forma grave alguma criança”, comenta Wilker, que complementa relembrando casos que não viraram notícias, mas “que foram igualmente importantes, pois conseguimos levar algum conforto e alívio para os socorridos. Temos dias de tristeza, mas também no nosso dia a dia, nós carregamos muitas alegrias”, pontua.


Por isso, nos cursos de formação e de aperfeiçoamento, são utilizadas técnicas para que os bombeiros saibam administrar o controle psicológico. Além disso, os bombeiros contam com um sistema de saúde psicológica como suporte posterior às ocorrências atendidas, incluindo sessões de apoio psicológico durante os exames periódicos anuais e avaliações psicológicas. “Eles também dão a oportunidade de, a qualquer momento que a gente sentir necessidade de uma intervenção psicológica, procurar ajuda”, complementa Welerson. 

* Estagiária sob supervisão do subeditor Rafael Rocha