Ofensas são frequentes desde novembro de 2023, de acordo com advogado da vítima -  (crédito: Google StreetView/Reprodução)

Ofensas são frequentes desde novembro de 2023, de acordo com advogado da vítima

crédito: Google StreetView/Reprodução

Um recruta da Capitania Fluvial de Minas Gerais (CFMG), organização militar da Marinha do Brasil, relatou ter sofrido racismo e injúria racial por parte de outros oficiais na sede localizada na Avenida Raja Gabáglia, no Bairro Cidade Jardim, região Centro-Sul de Belo Horizonte. Um boletim de ocorrência foi registrado na noite dessa terça-feira (30/1).

De acordo com Gilberto Silva, advogado da vítima, as ofensas começaram em novembro de 2023, quando foi transferido da unidade do Belvedere para a da Cidade Jardim. Na época, o recruta teria questionado a um sargento quais seriam suas atribuições na nova localidade, ao que lhe foi respondido que seria um “escravo”.

Colegas de farda também foram autores. Silva afirma que o maior volume de ofensas se deu em grupos do WhatsApp, onde foi chamado de “primata”, “macaco” e “macumbeiro”. Lá também teriam afirmado que ele seria tratado “na chibata” e que estaria recebendo bananas, além de realizarem uma enquete para expulsá-lo do grupo – o que ocorreu na última quinta-feira (25/1) e foi o estopim para que a vítima procurasse um advogado.

“Ele sofreu com várias questões discriminatórias, como racismo religioso, racismo recreativo e injúria racial. Com a expulsão dele do grupo, procurou o meu escritório juntamente com o pai, analisamos as provas, que incluíam até áudios de dentro da corporação. Trata-se de uma denúncia grave, então pedi que me enviasse as provas e, aí sim, pude orientá-lo sobre como proceder”, explica Silva.

“Fomos fazer o boletim de ocorrência já na delegacia de crimes sociais e agora temos a expectativa da abertura do inquérito para apurar os fatos, levando todo o conteúdo probatório. Dentro dessas medidas, serão tomados todos os atos na esfera da justiça criminal e cível, ou seja, após o inquérito e, havendo indiciamento, haverá a ação penal e a reparação de danos”, complementa.

Segundo o advogado, estar na Marinha, para a vítima, era a realização de um sonho que, infelizmente, foi interrompido pela violência. Devido à agressividade dos colegas, o recruta desenvolveu distúrbios alimentares e tinha choros repentinos com frequência.

“Ele resolveu denunciar para que não aconteça mais com ele e com outras pessoas pretas. Inicialmente, ele ficou com muito medo de perder a oportunidade na Marinha porque era o sonho dele estar lá, mas teve a consciência de que lutar pelos direitos seria a melhor solução”, afirma o advogado.

A Marinha do Brasil em Minas Gerais afirmou em nota que, "por intermédio da Capitania Fluvial de Minas Gerais, informa que tomou conhecimento, nesta quarta-feira (31), sobre o caso. A Força permanece à disposição dos órgãos responsáveis para colaborar com as investigações e ressalta que serão realizados todos os procedimentos necessários à apuração dos fatos". Além disso, "a Marinha do Brasil (MB) lamenta o ocorrido e reafirma o seu compromisso com a ética e com o respeito à dignidade da pessoa humana e reitera seu firme posicionamento contra condutas que afetam a honra e o pundonor militar".


Já a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) esclarece que, "por se tratar, em tese, de crime militar as investigações ficarão a cargo da Corregedoria da Corporação, cujo órgão é competente para apurar os fatos conforme previsão legal".