O resgate de 16 pessoas ilhadas na Cachoeira de Braúnas, uma das mais conhecidas do Parque Nacional da Serra do Cipó, em sua parte localizada em Jaboticatubas, na Região Metropolitana de BH, no último domingo (7/1), evidencia a necessidade de se redobrar a atenção diante da possibilidade da chegada de uma surpresa indigesta: a cabeça d’água, fenômeno meteorológico caracterizado pelo aumento momentâneo do nível da água em rios durante, principalmente, o período chuvoso, que, em Minas, sempre tem início em outubro e segue até meados de abril.

Na operação de resgate mais recente, os militares retiraram o grupo da situação de risco com o apoio da aeronave Arcanjo da corporação. Vale lembrar que, em 2021, uma cabeça d’água arrastou 19 pessoas em Capitólio. Três delas morreram. Embora o grande volume de água possa surpreender os banhistas, o fenômeno dá sinais claros de que está prestes a ocorrer. O início do ano, cabe dizer, é marcado por férias escolares, o que potencializa as chances do fenômeno vitimar aqueles que buscam se refrescar em meio ao calor.



Em entrevista ao Estado de Minas, o meteorologista da Climatempo Ruibran dos Reis explica que todas as regiões montanhosas, onde há a presença de córregos, têm potencial para a formação de uma cabeça d’água. Logo, segundo conta, não há como mapear locais com risco mais acentuado, mas é possível citar alguns destinos no estado onde existe maior fluxo de visitação de banhistas, como a Serra do Espinhaço, situada na Região Central do estado e que abrange 1.000 km de extensão até a Bahia. Outros pontos compreendem, por exemplo, as serras do Cipó e Caparaó.

“Tudo começa com um temporal na cabeceira do morro. Essas chuvas de forte intensidade são formadas por dois processos meteorológicos. Um deles, nós chamamos de orográfico – ou seja, quando o ar quente é forçado a subir a montanha, condensa e vai esfriando à medida que ele está subindo. Com isso, há a formação de nuvens, o que pode ocasionar a chuva (segundo processo meteorológico)”, detalha.

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Logo, tratam-se, ainda segundo Ruibran, de chuvas do tipo convectivas, características, principalmente, no verão e no período da tarde. “O aumento de nebulosidade observado no local já indica um risco muito grande da chegada da cabeça d’água. Por outro lado, cabe dizer que a possibilidade dela acontecer no período da manhã é baixíssimo. Diante da mudança das condições do tempo, deve-se deixar o local ou buscar um ponto mais elevado”, finaliza.

O 'tsunami dos rios' 

Também em entrevista à reportagem, o sargento do Corpo de Bombeiros Allan Azevedo aponta que a cabeça d'água é como se fosse um tsunami dos rios. “Quando um temporal acontece na cabeceira de um rio, o volume de água pode subir vários metros em poucos segundos. O mesmo ocorre em cachoeiras. Existe uma falsa sensação de segurança por não estar chovendo no local onde as pessoas estão”, inicia.

O militar orienta que os banhistas fiquem atentos ao aumento repentino do nível ou à força da água. “A chuva pode, inclusive, começar a quilômetros de distância onde as pessoas estão se banhando, mas rapidamente se acumular e, em seguida, descer de forma violenta levando tudo pelo caminho. Os banhistas também podem identificar que uma cabeça d’água está a caminho por meio de uma grande quantidade de pássaros sobrevoando o local, pois são animais que abandonam pontos de risco. Outro indício é que a água também costuma mudar a coloração, ficando mais barrenta, com a presença de galhos e folhas”, conclui.

Governo emite alerta

O governo de Minas divulgou um alerta nesta quarta-feira (10/1), em decorrência da possibilidade de aumento das ocorrências de cabeça d’água no período chuvoso. “Os lugares mais recorrentes são os trechos do rio com encostas íngremes e afastadas das nascentes, onde o nível da água tende a aumentar com maior vazão. Caso o local já possua sinalização de alertas para possíveis cabeças d’água, redobre a atenção e, diante de qualquer indicativo de chuva, jamais se arrisque”, alerta em comunicado.

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