Alerta para quem vai pegar a estrada nesta segunda quinzena de janeiro, mês de férias escolares. A imprudência de motoristas se acelera, viaja de mãos dadas com multas e, pior, com o risco de acidentes, nos dois primeiros meses do ano, indicam dados levantados pelo Estado de Minas nos registros da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Nas estradas mais movimentadas de Minas Gerais, as multas aplicadas por agentes da corporação tiveram alta, respectivamente, de 93,1% e 82,2% em janeiro em fevereiro do ano passado e depois caíram até outubro, no comparativo com iguais períodos de 2022.
A velocidade acima do permitido pelos trechos de rodovias, de longe a infração mais cometida, é um componente sempre destacado como crítico para acidentes. De 6.706 multas anotadas pela PRF nas estradas mineiras em janeiro de 2023, 6.463 (95,7%) foram por alta velocidade. O total de infrações em janeiro foi 93,2% maior que no mesmo mês de 2022 (3.470), mas até outubro, o somatório do ano encolheu 38,6% no estado.
O abuso da alta velocidade em janeiro passado foi dividido em três níveis. Transitar até 20% acima do estabelecido pela sinalização viária respondeu por 5.955 registros (92,1%) de alta velocidade da PRF. A multa é de R$ 130,16 e quatro pontos são anotados na Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Outras 484 (7,4%) penalidades aplicadas a condutores passar entre 20% e 50% do limite permitido valem cinco pontos na CNH e R$ 195. Apesar de menos volumosas, as infrações por exceder o patamar dos 50% renderam sete pontos na CNH de 28 condutores, multa (de R$ 293,47) multiplicada por três (R$ 880,41) e suspensão do direito de dirigir.
A rodovia que mais registrou as penalidades financeiras dentro do estado no início do ano passado foi a BR-040, nos dois sentidos (Brasília e Rio de Janeiro). Foram 2.842 no primeiro mês de 2023, o que representou 54,3% de aumento ante os registros do ano anterior e uma concentração de 44% das multas emitidas por alta velocidade. Em seguida, aparece a BR-365, uma opção muito utilizada entre os estados do Nordeste e São Paulo para evitar pedágios. Foram 2.315 infrações (36%). Logo após aparece a BR-050, no Triângulo, com 900 anotações (14%).
Isso não significa que nas demais rodovias a alta velocidade não seja um problema. Mas em algumas dessas vias, como a BR-381 (Fernão Dias e BH-Governador Valadares), por exemplo, o monitoramento é realizado em diversos pontos críticos por radares fixos. Essa conta, então, vai para as estatísticas do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) ou para as concessionárias e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). O monitoramento da PRF é feito por radares móveis, em sua maioria.
A mais alta velocidade detectada pelos policiais rodoviários federais em Minas Gerais no mês de janeiro foi registrada às 17h do dia 2. Um Volkswagen Polo Classic com placas de SP, atingiu 193km/h no Km 148 da BR-050, em Uberaba, no Triângulo Mineiro. Naquele mesmo mês, a rodovia BR-050 computou também as duas mais altas velocidades em sequência. Um Toyota Corolla com placa de Minas Gerais foi pego pelos radares dos policiais a 162km/h, também no Km 148 da estrada, às 11h no dia 14, quase na virada para a segunda quinzena de férias. O terceiro infrator que excedeu mais o limite conduzia um Hyundai Creta com placa de São Paulo e foi multado a 157km/h, às 10h, no Km 192 da BR-050, em Uberaba, em 7 de janeiro.
A maioria dos veículos flagrados e multados por trafegar em alta velocidade tinha placas de Minas Gerais, com 4.313 (66,7%) infrações. Mas condutores de outros estados também desrespeitam a sinalização e aceleram fundo nas rodovias mineiras. Em segundo lugar estão carros, motos, caminhões e ônibus licenciados em São Paulo, com 790 infrações (12%) e em Goiás, com 615 (9,5%).
A quebra de limite detectada no segundo dia de 2023 não foi superada, mas acabou igualada em 7 de abril, às 9h, quando uma BMW 320I Gran Turismo de placa mineira registrou 193km/h no Km 45 da BR-050, em Araguari, no Triângulo. Em 7 de maio, outro abuso grave flagrado pela PRF. Uma caminhonete Volkswagen Taos de placas de Minas Gerais foi multada a 177km/h, no Km 840 da BR-381 (Fernão Dias), em São Sebastião da Bela Vista, no Sul de Minas.
De acordo com o Centro de Pesquisas de Trânsito de Austin, no estado norte-americano do Texas, a velocidade interfere em toda a dinâmica da circulação e na distância de frenagem – tempo gasto para o seu carro parar completamente depois de os freios serem acionados –, que pode ser afetada pelo piso molhado. "Quando você dobra a velocidade do seu carro, a distância de frenagem quadruplica. Em condições de chuva essa razão se amplia dependendo do volume de precipitações, fator de escoamento da via entre outras variáveis". Em outras palavras, quanto mais rápido estiver o carro, maior é a distância percorrida a até que ele possa parar completamente, ou seja, o risco de batida com veículos à frente também é bem maior.
DOCUMENTOS E SEGURANÇA
Uma atitude prudente deve ser adotada antes mesmo da partida para a viagem de férias. Checar documentos e condições de segurança do veículo pode evitar muita dor de cabeça. Os números da PRF falam por si só. No primeiro mês de 2023, por exemplo, 68 condutores foram multados por dirigir veículos sem o licenciamento completo. De janeiro a outubro, esse número chegou a 432.
Também os documentos do condutor são imprescindíveis e estão entre os primeiros itens que os agentes da PRF conferem em qualquer blitz nas estradas. Em janeiro do ano passado, 40 motoristas tiveram que interromper suas viagens ao serem flagrados com carteiras nacionais de habilitação (CNH) suspensas, vencidas ou mesmo por não estar sequer portando o documento. Entre o primeiro dia do ano e 31 de outubro, os registros de pessoas trafegando nas vias federais com carteiras vencidas ou suspensas chegaram a 109. Outros 275 não levavam a CNH quando foram abordados ao volante.
Já o desleixo com a segurança custou R$ 195,23 e cinco pontos na CNH de 29 condutores e passageiros que não estavam usando o cinto de segurança no momento da abordagem da PRF, em janeiro de 2023. O número chegou a 149 no acumulado até outubro.
Rodovias cheias e chuvas exigem cuidado redobrado
Na ordem de medidas para evitar acidentes nas estradas, a conscientização dos motoristas para circular dentro das normas e as campanhas educativas são as primeiras linhas de atuação, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF). “A multa é o último momento educativo. Se, mesmo sabendo, o condutor optar por desrespeitar as regras de circulação, esse instrumento entra em cena. No caso, com a fiscalização feita em pontos críticos, com rondas, uso de radares (fixos ou estáticos) e até mesmo pelas câmeras das concessionárias de rodovias. Se a pista tiver sinalização que alerte para o monitoramento e um policial for colocado na central da concessionária, ele pode emitir a multa pelas câmeras”, explica o porta-voz da PRF em Minas Gerais, inspetor Aristides Amaral Júnior.
O policial rodoviário federal considera que o período de férias escolares, como outros recessos, é crítico para os motoristas. Entre os fatores que contribuem para isso ele elenca as vias mais cheias, fortes chuvas, além de carros mais pesados com bagagem e ocupantes. “A rodovia mais cheia já aumenta os riscos para quem conduz sem se arriscar. Se o motorista se arriscar mais, a chance de acidente com outro veículo é ainda maior. Historicamente, as chuvas tornam esse período mais violento. Comprometem a visibilidade, fazem o asfalto ficar escorregadio. O brasileiro tem hábitos de piso seco. Quando se depara com a chuva, age da mesma forma. Tem de reduzir a velocidade, aumentar a distância para outros veículos, redobrar a atenção”, pontua o inspetor Júnior.
As infrações causadoras de acidentes que mais se destacam, segundo análise do porta-voz da PRF, são o excesso de velocidade e as ultrapassagens proibidas. "Essas são as causas principais do tipo mais grave de acidente, que é a colisão frontal entre veículos que trafegam em sentidos opostos. Infelizmente vimos nos últimos feriados (Natal e Ano-Novo) que uma quantidade significativa de motoristas continua a transitar com excesso de velocidade. Ele potencializa o risco de acidentes, especialmente nesses meses, com a rodovia mais cheia".
Para o inspetor Júnior, a atitude do condutor é essencial na prevenção de acidentes. “O motorista é o principal componente para o trânsito seguro. Se falarmos de condições das rodovias, a Fernão Dias (BR-381 MG-SP) está bem conservada e todos os dias tem acidentes. Problemas de postura do condutor. Às vezes, porque acha que o acidente só ocorre com os outros. Ou pensa que dirige bem e por isso se garante. Mas se o outro motorista errar, você e sua família vão acabar pagando. Acidente é isso, alguém errou e um inocente acaba pagando. E o pior, pode ser com a vida”, destaca.
Uma outra postura de desrespeito à segurança que vem aumentando nas estradas é a falta de utilização do cinto de segurança. “Antes, essas infrações eram mais relacionadas aos passageiros, mas, ultimamente, os motoristas têm deixado de adotar esse procedimento imprescindível para a sua segurança. E isso tem aumentado muito entre os caminhoneiros. Temos visto muitas mortes entre esses profissionais do trânsito, que acabam sendo projetados para fora do veículo de carga nos acidentes por falta de uso do cinto”.
O caso das crianças também é grave e um flagrante de não adoção das normas pode até interromper a viagem. “A criança não pode viajar no colo. Dentro do carro é como um adulto. Se não tiver idade para o cinto, precisa usar o bebê-conforto, cadeirinha, assento elevado (...) Imagine no meio da estrada ter de sair para comprar uma cadeirinha. É preciso pensar nisso antes”, alerta o policial rodoviário federal.
Outro problema que pode acabar com a viagem é a documentação. “O condutor tem de ter o licenciamento em mãos, impresso ou digital. Não adianta comprovante de pagamento, mostrar pagamento no celular. Tem de ter o documento 2023, ou o veículo é apreendido e removido para um pátio. Ali, a viagem acaba. Outra coisa é rodar com o exame médico vencido além do prazo de 30 dias dado para renovação. Passado isso, a pessoa não pode mais dirigir, é multada e precisa de um condutor habilitado para seguir viagem”, reforça o inspetor Júnior.
Sobre as condições dos veículos antes de seguir viagem nas estradas, as recomendações da PRF são para fazer revisão em mecânico de confiança ou concessionária. “Por causa da chuva, vários equipamentos elétricos foram acionados, como faróis, para-brisas, ar-condicionado. Tudo isso pode gerar uma sobrecarga. É importante verificar o óleo, freios e pneus. Outra coisa que muitos esquecem, se estiverem ressacadas, as palhetas dos limpadores de para-brisas não limpam”.