Três tremores de terra em menos de sete horas, na madrugada desta terça-feira (16/1), deixaram moradores de Sete Lagoas, na Região Central de Minas Gerais, assustados. De acordo com informações do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB), o primeiro tremor aconteceu por volta das 2h30, com magnitude de 2.8 na escala Richter. O segundo, às 4h40, mas com menor intensidade, de 2.5mR (intensidade medida pela escala Richter), e o último já pela manhã, às 8h40, com 2mR.
Eles já haviam relatado ao menos um abalo na noite do último domingo (14). Segundo dados do Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP), o tremor, que ocorreu por volta das 23h20, teve magnitude de 2.3mR.
A empresária Iracema da Glória Soares, moradora do Bairro São Cristóvão, relata que sentiu o tremor da madrugada de hoje quando estava dormindo. “Foi o suficiente para acordar com o tremor. Faz muito barulho, é como se fosse um estouro. As janelas tremem, as portas tremem e o barulho é estrondoso”, conta.
Ela diz que o bairro é um dos que mais sentem os tremores na cidade. “Além do meu bairro, tem a Mata Grande, Ipiranga, Santo Antônio, São Geraldo, Santa Rosa e também o centro da cidade”, afirma.
O primeiro tremor durante a madrugada é o terceiro maior já registrado na cidade, se igualando ao de 28 de dezembro de 2022, quando foi registrado à 0h42 um abalo da mesma magnitude (2.8). Os tremores em Sete Lagoas são recorrentes e assustam os moradores.
Em 29 de abril de 2022, foi registrado um tremor de 3.0 de magnitude, o maior na cidade. Em 28 de julho do mesmo ano, outro abalo foi registrado, dessa vez com magnitude de 2.9, o segundo da história.
Qual a explicação?
O sismólogo da USP, Bruno Collaço, diz que os dados do boletim sísmico brasileiro mostram que esses eventos ocorrem na região desde a década de 30. Em 2022, houve mais de 20 registros.
De acordo com ele, a maior magnitude já registrada na região foi de 3.3, um sismo ocorrido em abril de 2016, em Prudente de Morais, a apenas 12km de diatância de Sete Lagoas. “A Região Sudeste, principalmente o interior de São Paulo e todo o estado de Minas Gerais, é uma das áreas com maior atividade sísmica no país. A grande maioria dos tremores tem causas naturais e se deve a grandes pressões geológicas atuando na crosta terrestre. O tremor que as pessoas sentem é resultado de uma movimentação repentina em alguma falha ou fratura, que 'escorrega' por causa das pressões geológicas”, explica.
Bruno diz que, apesar do desconforto causado pelos tremores, é muito pouco provável que eles venham ocasionar maiores consequências.
Em entrevista ao Estado de Minas na época dos abalos sísmicos de 2022, o professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Allaoua Saadi disse que os terremotos acontecem ao longo da borda oeste da Serra do Espinhaço devido a um sistema de falhas. "Um grupo de falhas geológicas que rasgam a crosta terrestre e permitem o escape da energia acumulada na crosta", explica.
Ainda conforme o professor, abalos semelhantes também são sentidos na região de Montes Claros, no Norte do estado, uma vez que a cidade se encontra em um contexto geológico similar. "Terremoto não se evita, ele chega de repente, sem avisar. O contexto que o gera é que deve ser monitorado", afirma.
Como funciona a medição
De acordo com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a Escala Richter vai até 9. No entanto, nunca foi registrado um terremoto acima desse nível. Além disso, os especialistas afirmam que a escala não tem limite.
"Para se ter uma ideia mais exata do que representa um terremoto muito forte, se ele atingir magnitude 9 na Escala Richter, provocará uma rachadura que cortará a crosta terrestre numa distância igual à que separa o Rio de Janeiro de São Paulo, com cada bloco se afastando 10m em relação ao outro", segundo explicações do CPRM.
Em 90% dos casos, a magnitude de um terremoto não ultrapassa 7,0 graus.
O maior terremoto registrado no país ocorreu em 1955 e teve seu epicentro a 370km ao norte de Cuiabá (MT). A magnitude atingiu 6,2 graus na Escala Richter.
Maiores tremores registrados em 2023
A Rede Sismográfica Brasileira (RSBR) ranqueou os maiores tremores registrados no Brasil em 2023. Os maiores tremores ocorreram nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste. Confira:
1 - Tarauacá (AC)
Magnitude: 4.4
Data do registro: 17/01/2023
2 - Rorainópolis (RR)
Magnitude: 4.1
Data do registro: 27/05/2023
3 - Miracatu/Iguape (SP)
Magnitude: 4.0
Data do registro: 16/06/2023
4 - Canaã dos Carajás (PA)
Magnitude: 3.9
Data do registro: 23/01/2023
5 - São Félix do Coribe (BA)
Magnitude: 3.5
Data do registro: 27/02/2023