O sofrimento de uma mulher mineira, que durou quatro anos - período em que se tornou escrava sexual de um empresário baiano - chegou ao fim. O autor foi identificado como Dario Andrade Salomão, 34 anos, que trabalhava no ramo de cosméticos em Camaçari (BA). Ele, que pode ter enganado 40 vítimas, está preso na Bahia e passou, nesta quinta-feira (25/1), por uma audiência de custódia, que determinou que ele continue detido.

 

 




Tudo começou, segundo a delegada Larissa Mascotte, da Delegacia Especializada Contra a Violência Sexual da Polícia Civil de Minas Gerais, em 2020, quando vítima se divorciou. Precisando se sustentar financeiramente, decidiu ir para Camaçari, onde havia uma oportunidade de emprego. Lá, ela recebeu, via mensagem de celular, uma proposta do empresário, que se passava por uma figura feminina.

O conteúdo da mensagem dizia que, se ela fizesse fotos eróticas, sem mostrar o rosto, poderia receber pelo “serviço”. Ela, que hoje tem 38 anos, aceitou.

Alguns dias depois, o homem ligou para a mulher, fazendo ameaças de que iria colocar as fotos nas redes sociais caso ela não se encontrasse com ele. A vítima foi ao encontro e, na ocasião, foi estuprada pelo homem, que filmou o acontecido. Esse vídeo foi colocado em uma rede de prostituição, da qual o homem fazia parte.

Escravizada

A delegada conta que, a partir do estupro, o homem transformou a mulher em sua escrava sexual. “Ele instalou em seu celular um sistema conhecido por 'espião', que possibilita obter todas as informações da vítima (para quem ela ligou, filmagens que tenha feito e até mesmo conversas privadas eram ouvidas). Ele obtém, assim, mais formas de controlar a vítima”, explica.

O homem, então, passou a marcar encontros sexuais para a vítima. “O absurdo é tanto, que o homem recebia o dinheiro desses encontros. A vítima nos contou que nunca recebeu nada dele, que ficava com todo o dinheiro. Pior, pois ele ainda exigia dinheiro dela, para não revelar suas fotos e o filme que tinha feito. Ameaçava mandar para sua família. A vítima passava parte dos seus ganhos ao seu dominador”, diz a delegada Larissa.

Depois de dois anos em Camaçari, a mulher decidiu retornar a Belo Horizonte. Mas, mesmo assim, ainda era controlada pelo empresário. Ela não tinha ideia de que seu celular continuava servindo como espião. Enviava parte do seu pagamento, como profissional, para o homem.

No último dia 12 de janeiro, a mulher procurou a delegacia. “Ela contou a uma parente, que a estimulou a fazer uma denúncia. Então, veio acompanhada de uma advogada e contou o que havia acontecido e o que tinha passado”, afirma a policial.

A partir da denúncia, segundo a delegada Larissa, o celular da vítima foi fundamental para ajudar a encontrar o criminoso sexual.

Em menos de 15 dias, os policiais mineiros conseguiram localizar o homem. Primeiro, foram para Camaçari, onde permaneceram por quatro dias. O criminoso, que foi preso em casa, não reagiu, diz a delegada.

Nessa captura, os policiais mineiros tiveram ajuda da polícia baiana. Na casa foram apreendidos dispositivos eletrônicos e um celular, que foram trazidos para Belo Horizonte, para serem periciados.


Ficha extensa


Uma vez preso, foi feito um levantamento sobre a vida de Dario na Delegacia de Camaçari. Na sua ficha, um crime semelhante, cometido por ele, em 2016, quando tinha 27 anos.

Além disso, a partir de investigações feitas anteriormente, Dario passou a ser suspeito de ter cometido o mesmo crime contra 40 mulheres. “Ele aliciava mulheres para prostituição. Desconfiamos que haja outra vítima mineira”, afirma a delegada Larissa.

Dario, segundo ela, será indiciado por 12 crimes, que podem resultar numa pena de 58 anos. Os crimes são indução ao suicídio; perigo a vidas por doenças da pessoa ou a outrem; extorção; estupro; perseguição; violência psicológica; registro não autorizado de atividade sexual; divulgação de sexo pornográfico; mediação para servir à lacividade de outrem; favorecimento com prostituição e rufianismo.

Como denunciar

A delegada Renata Ribeiro, do Departamento de Família, da Polícia Civil de Minas Gerais, destaca a rapidez da investigação. “A denúncia chegou até nós no dia 12, e ontem, quarta-feira (24/1), o autor estava sendo preso.”

A vítima nos procurou e mostrou que estava num momento de fragilidade, estava sob intimidação. “Sua integridade foi ferida. Isso demonstra, que é um ato de masculinidade tóxica, de uma pessoa que não respeita a mulher, que tem aversão a ela”, diz a Delegada Renata.

E ressalta a importância de que as denúncias sejam feitas. “É a melhor maneira de combater esse tipo de crime e as denúncias podem ser feitas em qualquer delegacia ou através da Polícia Militar. Tem ainda os telefones 180 e 181.”

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