Empresário baiano está preso preventivamente em Camaçari -  (crédito: PCMG)

Empresário baiano está preso preventivamente em Camaçari

crédito: PCMG

Um projeto social chamado “Justiceiras”, que tem representantes em todos os estados brasileiros, foi determinante no caso da mulher transformada em escrava sexual por um empresário baiano, Dario Andrade Salomão, de 34 anos, em Camaçari (BA). A revelação foi feita pela advogada mineira Clara de Moura Peixoto, que vive no Mato Grosso do Sul.

 

O “Justiceiras” foi fundado por uma ex-promotora de Justiça, Gabriela Mansur, que hoje atua como advogada, tendo como objetivo o acolhimento e instrução de vítimas em todo o país. O grupo conta com assistência social, psicólogas e advogados, que servem para orientar juridicamente as vítimas. A rede de apoio existe em todo o Brasil.

 

 

“Sempre temos conversas com vítimas, procurando orientá-las e, principalmente, com a preocupação de que não sejam vitimizadas. Temos conversas e fazemos, também, o acompanhamento”, diz a advogada.

 

Leia: Homem suspeito de fazer 40 mulheres de ‘escravas sexuais’ é preso

 

O caso da mulher, vitimada pelo empresário de Camaçari, segundo advogada, chegou até o "Projeto Justiceiras" em setembro de 2023, levado por uma amiga dessa mulher.

 

Clara conta que foi um trabalho difícil até que conseguissem convencer a vítima a registrar uma queixa. “Durante todo esse tempo, a nossa intermediária foi essa amiga. A vítima não conseguia conversar com a gente. Só falava com ela, com quem tinha confidenciado o que lhe acontecia”.

 

Para se ter uma ideia, segundo a advogada, nem mesmo o nome da vítima o projeto tinha acesso, mas seguia orientando a amiga, que era o único contato. “Só sabíamos que era uma situação em Camaçari”.

 

Depois de algum tempo, as "Justiceiras" conseguiram os áudios e mensagens da chantagem que a vítima vinha sofrendo. Foi montada uma estratégia, que fez com que a mulher que se tornara escrava sexual, passasse a confiar no grupo.

 

“Foi quando conseguimos com que ela fosse à polícia e, finalmente, o caso pôde ser investigado e o autor, preso.

 

Entenda o caso

O sofrimento dessa mulher durou quatro anos - período em que se tornou escrava sexual de um empresário baiano. Tudo começou, segundo a delegada Larissa Mascotte, da Delegacia Especializada Contra a Violência Sexual da Polícia Civil de Minas Gerais, em 2020, quando a vítima se divorciou.

 

Precisando se sustentar financeiramente, decidiu ir para Camaçari (BA), onde havia uma oportunidade de emprego. Lá, ela recebeu, via mensagem de celular, uma proposta do empresário, que se passava por uma figura feminina.

 

O conteúdo da mensagem dizia que, se ela fizesse fotos eróticas, sem mostrar o rosto, poderia receber pelo “serviço”. Ela, que hoje tem 38 anos, aceitou.

 

Alguns dias depois, o homem ligou para a mulher, fazendo ameaças de que iria colocar as fotos nas redes sociais caso ela não se encontrasse com ele. A vítima foi ao encontro e, na ocasião, foi estuprada pelo homem, que filmou o acontecido. Esse vídeo foi colocado em uma rede de prostituição, da qual o homem fazia parte.


A partir do estupro, segundo a delegada, o homem transformou a mulher em sua escrava sexual. “Ele instalou em seu celular um sistema conhecido por 'espião', que possibilita obter todas as informações da vítima (para quem ela ligou, filmagens que tenha feito e até mesmo conversas privadas eram ouvidas). Ele obteve, assim, mais formas de controlar a vítima”, explica.


O homem, então, passou a marcar encontros sexuais para a vítima. “O absurdo é tanto que o homem recebia o dinheiro desses encontros. A vítima nos contou que nunca recebeu nada dele, que ficava com todo o dinheiro. Pior, pois ele ainda exigia dinheiro dela, para não revelar suas fotos e o filme que tinha feito. Ameaçava mandar para sua família”, diz a delegada Larissa.

 

Depois de dois anos em Camaçari, a mulher decidiu retornar a Belo Horizonte. Mas, mesmo assim, ainda era controlada pelo empresário. Ela não tinha ideia de que seu celular continuava servindo como espião. Enviava parte do seu pagamento, como profissional, para o homem.

 

No último dia 12 de janeiro, a mulher procurou a delegacia. “Ela contou a uma parente, que a estimulou a fazer uma denúncia. Então, veio acompanhada de uma advogada e contou o que havia acontecido e o que tinha passado”, afirma a policial.


A partir da denúncia, segundo a delegada Larissa, o celular da vítima foi fundamental para ajudar a encontrar o criminoso sexual.


Em menos de 15 dias, os policiais mineiros conseguiram localizar o homem. Primeiro, foram para Camaçari, onde permaneceram por quatro dias. O criminoso, que foi preso em casa, não reagiu, diz a delegada.


Nessa captura, os policiais mineiros tiveram ajuda da polícia baiana. Na casa, foram apreendidos dispositivos eletrônicos e um celular, trazidos para Belo Horizonte para serem periciados.


A ficha do empresário mostra um crime semelhante, cometido por ele em 2016, quando tinha 27 anos. No total, estima-se, ele teria feito 40 vítimas.