Vanessa Freitas da Silva trabalha como gari em Manhuaçu há 10 anos. Na última quinta-feira, se tornou bacharel em direito.  -  (crédito: Arquivo pessoal)

Vanessa Freitas da Silva trabalha como gari em Manhuaçu há 10 anos. Na última quinta-feira, se tornou bacharel em direito.

crédito: Arquivo pessoal

Vanessa Freitas da Silva, de 30 anos, realizou na última quinta-feira (1/2) o sonho de receber o diploma da faculdade de direito em Manhuaçu, na Zona da Mata Mineira. A emoção da conclusão do curso compartilhada com os colegas na colação de grau foi ainda maior para a estudante que, das 6h às 16h, trabalha como gari no Serviço Autônomo Municipal de Limpeza Urbana (SAMAL) da cidade.

Vanessa começou a trabalhar como gari quando ainda tinha 20 anos. Antes disso, havia trabalhado em uma padaria e atuado como guarda mirim em Manhuaçu. “Eu tinha vontade de passar em concurso público, por causa da estabilidade da carreira. Mas toda vez que tinha um concurso, nunca podia participar justamente por causa da idade. Em 2014, surgiu a oportunidade de fazer esse para gari, e falei com minha mãe que ia agarrá-la.”, conta.

Mesmo após alcançar o sonho de ser servidora pública, Vanessa possuía outro desejo ainda mais profundo: a vontade de se tornar advogada. “Desde que sou adolescente queria isso, via os advogados e mexia com o meu coração. Já tinha isso em mente desde muito nova”, afirma. Foi em 2019 que a oportunidade de alcançar esse objetivo surgiu, quando a estudante prestou vestibular para a primeira turma de direito da Faculdade do Futuro, localizada em Manhuaçu.

De acordo com Vanessa, os desafios foram muitos durante a tarefa de conciliar a antiga carreira com a nova. Além da questão financeira, a estudante possui um filho que demandava atenção que ela nem sempre conseguia dar. “Não foi fácil; foi muita luta e responsabilidade. Meu filho almejava por carinho e atenção. e a muito difícil, mas sempre persisti, sempre fui determinada”, conta. 

Quanto às mensalidades, a gari afirma que, em muitas ocasiões ao longo da formação, conseguia pagar a faculdade apenas semestralmente. Ela lembra: “Tinha que administrar a casa, meu filho, a faculdade... Os boleto venciam, e eu não tinha dinheiro para pagar entre tantos outros gastos”. Além do trabalho e das aulas durante a semana, ela ainda faz horas extras no SAMAL aos sábados; nos feriados e finais de semana é auxiliar de arbitragem em jogos de futebol na várzea e futsal.

Apoio foi fundamental

Vanessa conta que o apoio dos amigos e da família foi essencial durante a jornada, que foi desafiadora.

Vanessa conta que o apoio dos amigos e da família foi essencial durante a jornada, que foi desafiadora.

Arquivo pessoal

Cinco anos depois, no dia 1º de fevereiro, Vanessa vestiu a beca e recebeu mais uma vez o apoio de quem a acompanhou durante toda a jornada: a mãe, o filho e os três irmãos. “O apoio da minha família foi a base de tudo, porque se não fosse eles em minha vida, não sei o que seria de mim. Então eles foram a coluna de tudo”, afirma. A nova bacharel em direito ainda acrescenta: “Além deles, me ajudaram meus amigos, os antigos e os novos que fiz na faculdade. Às vezes, a classe social gera uma diferença, mas, graças a Deus, todo mundo me amou e me recebeu”.

Com o diploma em mãos, o sonho ainda não acabou. Vanessa afirma que o próximo passo é passar no exame da Ordem dos Advogados, quando conquistará a carteira de advogada e poderá exercer a profissão do jeito que deseja. Até chegar lá, ela mantém o trabalho de gari, que, segundo a estudante, é o que vai possibilitar a realização completa do sonho.

* Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata