Com o tema "Marias, Marias", uma ode às mulheres e um pedido de liberdade, equidade e respeito, o Bloco da Esquina toma as ruas do Bairro Pompéia, em Belo Horizonte, no segundo dia oficial de carnaval. A concentração começou às 8h. Criado em 2013 pelos músicos Renato Muringa e Mário Jaymowich, o bloco transforma em formato carnavalesco os sucessos do Clube da Esquina. A origem do grupo, inclusive, é uma homenagem, à época, aos 40 anos do movimento artístico belo-horizontino, que eternizou as composições de Lô Borges, Milton Nascimento, Beto Guedes, Flávio Venturini, Toninho Horta, e tantos outros, no bloco interpretadas em nova roupagem.
O Clube da Esquina agora passa dos 50 anos de fundação e o bloco lembra que sonhos não envelhecem. Uma das músicas-tema que regem o cortejo desse ano faz alusão a diversas referências contidas nas músicas do Clube, como o Bairro Santa Tereza, o trem azul, a janela lateral, as montanhas das Gerais e o tão emblemático girassol.
A banda do Bloco da Esquina é integrada por nove músicos e a bateria Fé Cega, Faca Amolada tem 180 ritmistas, que tocam os mais variados instrumentos de percussão, entre caixas, surdos, xequerês, agogôs, timbaus, tamborins, tambores, patangomes e ganzás. No desfile deste domingo, os músicos vestiam roxo e enfeites com girassóis, elemento presente no desfile como um todo, dando o tom da identidade do bloco. A novidade de 2024 é o coral de 80 vozes. As releituras das criações do Clube da Esquina aparecem como marchinhas, samba, axé, funk, frevo, maracatu, congado, rastapé e ijexá.
No discurso de abertura do desfile, os organizadores lembraram que o tema, além de homenagear as mulheres, também é uma reflexão, ainda mais no contexto de um país onde o machismo e a misoginia matam, excluem, em um país colonialista e racista, como declaram.
"Seguimos em busca de diversidade racial, diversidade de gênero, cultural, porque não adianta falar de feminismo sem problematizar raça e classe. Olhemos ao redor. Mulheres e pessoas que se sintam como, cuidemo-nos. Homens, aprendam a dividir o cuidado e seus filhos. Sejam responsáveis, assumam minimamente o que seria só o básico. Sejam aliados, abrindo alas para sua família, amigas, companheiras, para que possam estar em lugares que deveriam ser para todas, todos, todes. Que possamos tocar nosso tambor. Carnavalizar é viver a vida sem ter que trabalhar em turnos diversos, cuidar de tudo em casa e da família. Mãe, casada, solteira, bi, sapatona, mina, mana, foliona, mulher. Quem assim se sentir, que possamos saber o real sentido da palavra sororidade e fortalecer os corres umas das outras. Como trouxe Bell Hooks, que sigamos com educação, como prática de liberdade. Bom cortejo para nós".
Gritos de "fora Zema" também marcaram o cortejo, que teve a presença de Toninho Horta e Duca Leal, inspiradora da música Um girassol da cor do seu cabelo, de Lô e Márcio Borges, que este ano apresenta o livro Histórias de outras esquinas, anunciando o lançamento no desfile em BH. A obra autobiográfica relata as histórias do Clube da Esquina sob o ponto de vista de uma mulher. Duca Leal se casou com Márcio Borges em 1971. Viveram juntos por mais de uma década e tiveram dois filhos. “Ele compôs ‘Girassol’ quando acabamos de nos casar. Eu participei apenas como inspiração. Quando ele cantou para mim, achei lindo demais. Ele disse: ‘É para você’”.
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No meio da folia, Duca contou que está absolutamente em êxtase. "É uma homenagem maravilhosa. Eu tive essa emoção na época dos shows, quando a gente estava começando, mas nunca vi tanta gente, tanta alegria, e nesse ritmo maravilhoso. Estou muito feliz de estar aqui", declarou.
"É lindo ver todo mundo cantando com a gente, se emocionando, chorando, sendo feliz. Em nosso cortejo não tem lugar para desrespeito, assédio, preconceito, racismo, homofobia, etarismo, capacitismo. Colocamos o bloco na rua para todo mundo ser feliz do jeito que é", dizem os organizadores.