"Quase tudo é celebração no carnaval gratuito e inclusivo das ruas de Belo Horizonte. O folião, entretanto, não encontra motivo para sorrir quando o assunto é o preço de comidas e bebidas, que sofreu aumento em relação ao valor do ano passado. O produto mais impactado foi o tropeiro, almoço de muitos mineiros que estão nos cortejos - com alta de R$ 5. O tradicional prato mineiro era vendido por R$ 15 a R$ 20 e hoje chega a atingir R$ 25 com alguns ambulantes.
A explicação é a inflação dos alimentos. De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), os valores do grupo alimentação e bebida aumentaram 0,42% só em janeiro deste ano, acumulando 4,51% nos últimos 12 meses. O arroz (24,54%) e o feijão (13,2%) registraram aumentos expressivos de 2023 para 2024.
"Tivemos que elevar por causa da questão da inflação do feijão e do arroz, isso pesou muito. Não tem como não repassar no preço, mas a gente não encareceu muito, não. O valor da comida de rua ainda é muito mais barato se comparado com alimentação em restaurante, por exemplo", disse o vendedor Francisco Januário Gonçalves, de 62 anos. Seu Xico, como é conhecido o comerciante de Venda Nova, vende comida de rua desde 1990 e conta com três funcionários, os quais acordaram às 3h para chegar cedo ao bloco Beiço do Wando, no bairro Funcionários, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, na manhã de ontem.
Outros produtos também ficaram mais caros, como o churrasquinho, que passou de R$ 10 em 2023 para R$ 12 neste ano. Em relação às cervejas, o aumento foi entre R$ 2 a R$ 5. O custo da bebida sofreu alta acumulada de 5,29% nos últimos 12 meses por causa do aumento no preço do milho, segundo o IPCA.
Queridinho do público mineiro, o Xeque-Mate é um dos produtos mais vendidos pelos ambulantes nas ruas da capital. Assim como a cerveja, o preço da bebida alcoólica feita com erva mate, rum, suco de limão e extrato de guaraná subiu entre R$ 2 a R$ 5.
Por causa da forte concorrência, a elevação do preço neste ano foi menor, acredita a vendedora Talita Silva, de 29 anos. Ao todo, 20.899 ambulantes se cadastraram para trabalhar no carnaval de Belo Horizonte em 2024, quatro mil a mais que no ano passado, de acordo com dados da prefeitura de Belo Horizonte.
"Eu tinha uma expectativa de vender mais, mas tem muito ambulante, um do lado do outro. Acho que cada um vende um pouquinho", disse. "No sábado, a gente vendeu R$ 800, mas pensamos que renderia o dobro. Tem muito vendedor e não tem para onde correr, porque eles estão em todos os lugares", completou.
A foliã Maria Lobato, engenheira de 25 anos, disse que encontrou preços variados nos blocos da capital. "É preciso muita lábia para não perder dinheiro. Ao ser perguntado, o ambulante passa o preço mais elevado. Você tem que pedir desconto e pesquisar com outros vendedores", afirmou.
Fantasias
Se beber e comer está mais caro, vestir uma bela fantasia também requer um investimento um pouco maior. A comerciante Carine Costa, de 44 anos, dona da loja Pura Luxúria, no bairro Santa Efigênia, disse que houve aumento nos preços do tecido e das pedrarias, o que encare a maioria das vestimentas. Ele pegou peças da sua butique e levou para vender na folia. "O material subiu, mas consegui segurar o valor porque já tinha muito em estoque e eu produzo toda a fantasia que vendo. Um conjunto da mulher-maravilha, por exemplo, eu vendia a R$ 50 no ano passado, e agora vendo a R$ 70", disse.
"A gente ficou um mês e meio produzindo para este carnaval, e vendemos muito. Já vendi quase tudo e estou retomando a produção", disse Carine, que faz fantasias há dez anos. "Este ano foi o melhor ano do carnaval, espero ganhar três mil líquidos apenas com as fantasias nestes dias de festa", destacou. Entre as peças que se destacam no carnaval estão: mulher-maravilha, pirata, diabinha, bailarina, marinheiro e marinheira, policial e palhaço
A administradora Aline Matos, de 40 anos, se fantasiou de sol. Ela pagou uma costureira R$ 25 para fazer uma saia e um top e desembolsou R$ 18 no tecido, além de R$ 7 em um brinco. "Aumentaram um pouco o que gastamos com tecido, porque no ano passado eu orcei para fazer a fantasia e vi que mudou
Amiga de Aline, a psicóloga Carla Oliveira, de 40 anos, pesquisou e não viu tanta diferença nos preços. "Comprei saia de tule por R$ 30, mesmo preço do ano passado. Acho que tem pouca variedade de produtos nas lojas de Belo Horizonte, mas se procurar é possível achar preços parecidos com o ano passado".
Pesquisa de preço para poupar o bolso
A saída que o folião encontra para economizar é procurar e procurar. Não há mistério. No carnaval de BH, os preços não são tabelados, e os vendedores mudam o valor do produto de acordo com a lei de oferta e demanda, diminuindo ou aumentando o lucro conforme a procura. "O valor oscila muito com a concorrência. Às vezes, você começa vendendo por um preço, mas outros vendedores ficam impacientes porque não estão vendendo e reduzem o lucro na mercadoria. A depender disso, a gente tem que reduzir também e começar a fazer promoção", disse o ambulante Patrick Costa, de 33 anos, que é promotor de vendas.
Preços no Carnaval de 2024
• Cerveja Latão -
Brahma R$ 8 a R$ 10
Heineken R$ 12 a R$ 15
•Água R$ 4 a R$ 5
•Guaraná e Coca-Cola R$ 5 a R$ 6
•Xeque-Mate R$15 a R$ 20
•Tropeiro R$ 20 a R$ 25
•Churrasquinho R$ 12
•Macarrão na chapa R$ 15 a R$ 20
X
Preços no Carnaval de 2023
•Cerveja Latão -
Brahma R$ 7 a R$ 10
Heineken (R$ 10 a R$ 15)
•Água R$ 5
•Guaraná R$ 3 a R$ 5
•Coca-Cola R$ 5
•Xeque-Mate R$15 a R$ 18
•Tropeiro R$ 15 a R$ 20
•Churrasquinho R$ 10
•Macarrão na chapa R$ 12 a R$ 15