A vocalista do bloco, Vi Coelho, foi acompanhada do filho Benjamim e a sobrinha -  (crédito: Leandro Couri/EM/D.A Press)

A vocalista do bloco, Vi Coelho, foi acompanhada do filho Benjamim e a sobrinha

crédito: Leandro Couri/EM/D.A Press

O bloco Havayanas Usadas desfila na Avenida dos Andradas, Região Leste de BH, nesta segunda-feira (12/2). Os foliões começaram a concentração às 8h e o cortejo teve início pouco depois das 10h, com a introdução de Ponta de Areia, de Milton Mascimento. A música faz referência à estrada que liga Minas à Bahia, seguindo o tema deste ano, "Axé da Montanha”. A ideia de um dos blocos mais conhecidos do carnaval de BH é promover uma conexão cultural entre os dois estados. Pouco depois das 11h, já eram 1,2 milhões de pessoas na avenida acompanhando o bloco.

Uma das fundadoras do Havayanas Usadas, Débora Mendes abriu o desfile homenageando a Serra do Espinhaço e lembrou dos povos que vivem nessa região, alvo de disputas de terra. “Salve a Serra do Curral”, declarou. O vocalista e também fundador do bloco, Heleno Augusto, disse que a expectativa para o desfile deste ano é maravilhosa. “A gente está desde que acabou o 'Coração de Batuqueiro' (tema do ano passado) se preparando. As experimentações, as coisas que a gente vem trabalhando desde março, abril do ano passado, os convidados.”

Ele explica que o tema deste ano surgiu de conversas entre os organizadores. “No contexto de trabalhar no repertório, várias ideias vieram e a gente falou do denominador de falar da conexão. Minas Gerais sempre foi o estado que mais consumiu música baiana.” Ele acredita que essa ligação tem a ver com os tambores de Minas e a percussão baiana. Ele diz que o repertório mistura músicas baianas com toque mineiro e vice-versa.

A Bateria Chinelada é composta por 170 integrantes e a ala Dança Chinelada, tem 70 integrantes. Fundado em 2016, o bloco é um dos mais conhecidos de BH e esperava um público de 300 mil pessoas, o que foi superado.

Primeira vez e desde a primeira vez

A fotógrafa Marina Cunha, de 34 anos, tocou pela primeira vez no bloco. “Até perdi o sono esta noite. Acordei às 4h de tão nervosa.” Ela disse que já participa do cortejo há alguns anos e, no desfile do ano passado, decidiu que iria participar da bateria. “Quero tocar só pra saber como é. A expectativa está muito lá em cima. Foram meses de ensaio. Começamos em julho do ano passado.” A fotógrafa diz que escolheu o xequerê como instrumento. “É o mais difícil", brinca. “Mas os professores são ótimos. Preparamos um cortejo muito especial pra este ano.”

Esquenta da bateria

Esquenta da bateria

Leandro Couri/EM/D.A Press

Já a arquiteta Fernanda Saraiva, de 42 anos, acompanha o bloco desde o primeiro ano. “É uma turma animada a bateria. Tem a nostalgia dos carnavais de alguns anos atrás. É um bloco que marcou a volta do carnaval de BH. É um bloco bem representativo.” Ela diz que o trânsito para chegar ao local estava melhor que no primeiro dia, no sábado (10/2).

Neste ano, a arquiteta foi acompanhada dos amigos Gustavo Amantea e Lucilla Brandão. O trio também trouxe um regador de glitter para não deixar faltar brilho.

A vocalista do bloco, Vi Coelho, foi acompanhada do filho Benjamim, de seis anos. “Ele sempre vem comigo. Faço carnaval desde 2015, estava grávida em 2017 e ele veio na barriga comigo. Pra mim é maravilhoso porque o carnaval é uma forma muito potente de transformação, de construção de vida e de resgate da nossa ancestralidade preta. Quero que meu filho cresça vendo essas histórias que ele talvez não veja nos livros de escola.”

Perto do final do desfile, o Havayanas Usadas tocou um áudio em que afirma que o carnaval não pode ser apropriado e terminou com um fora Zema. "O carnaval é uma criação coletiva, que só se sustenta na força dos grupos que o fazem. Logo, nem a festa, nem este trio elétrico, são de propriedade do estado. O carnaval é do povo."

A crítica acontece em um circuito que tem investimento de sonorização feito pelo governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult). Com um investimento de R$ 4,5 milhões, com patrocínio da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e da Companhia de Desenvolvimento (Codemge), a estrutura funcionou sem problemas ao longo do dia e foi bem avaliada pelos foliões.

Mais cedo, os integrantes do bloco haviam feito também discursos contra a mineração predatória, o assédio, o racismo e a homofobia. No encerramento, o vocalista e fundador do bloco, Heleno Augusto, agradeceu os foliões e pediu que as pessoas se vacinem.