Em 1º de fevereiro, Millena Xavier foi ao Rio de Janeiro para receber R$ 30 mil depois de participar do Prêmio Jovens Visionários, da Prudential -  (crédito: Divulgação)

Em 1º de fevereiro, Millena Xavier esteve no Rio de Janeiro para participar do Prêmio Jovens Visionários, da Prudential, quando ficou em primeiro lugar e levou R$ 30 mil para casa

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Medalhista de ouro em olimpíadas nacionais dentro do universo da ciência e tecnologia, a estudante mineira Millena Xavier, de 17 anos, está na edição brasileira da 'Forbes Under 30' de 2023, que, desde 2014, reconhece empreendedores de até 30 anos que revolucionam os negócios. Natural de Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, a adolescente garantiu seu nome na lista, na categoria Ciência e Educação, depois de desenvolver uma Inteligência Artificial (IA) para auxiliar alunos que querem se engajar em olimpíadas científicas. No futuro, Millena diz que quer fundar e dirigir a própria empresa de tecnologia.

 

A ferramenta, chamada de Prep AI, é dedicada ao ensino de história e matemática. Por lá, os alunos tiram dúvidas e ainda obtêm informações sobre olimpíadas nessas duas áreas de conhecimento. A invenção impactou mais de 60 mil jovens em vulnerabilidade social. O reconhecimento na Forbes leva em conta também a criação da ONG Prep Olimpíadas, em novembro de 2020, por meio da qual a invenção foi difundida e mais de 200 escolas receberam palestras sobre o tema. Em dezembro do ano passado, ela foi surpreendida com a indicação para integrar a seleta lista da revista.

 

“Ser uma Forbes Under 30 é um grande marco na minha carreira acadêmica, não só pelo nome que a premiação carrega, mas pelo networking que obtive com tal conquista”, avalia Millena. Com o prestígio da publicação, a estudante passou a fazer parte da “International Research Olympiad” - IRO (Olimpíada Internacional de Pesquisa), que é organizada por estudantes das universidades de Stanford, Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

 

“No cenário internacional, participei de alguns eventos em algumas universidades, o que me possibilitou criar conexões. Uma delas foi com um estudante de Harvard, que é diretor da IRO e me convidou a participar." Ela também é a única brasileira no Comitê Internacional da Olimpíada de Robótica, que conta com professores seniores das melhores universidades do mundo.

 

Filha de funcionários públicos, Millena se mudou em 2022, aos 15 anos, para Viçosa, onde hoje cursa o terceiro ano do ensino médio em um colégio federal. Lá, ela teve a oportunidade de se desenvolver academicamente por meio de feiras e eventos científicos. Em entrevista ao Estado de Minas, a estudante conta que o interesse sobre o assunto surgiu depois de assistir, por curiosidade, a uma cerimônia de premiação de uma olimpíada em uma escola onde a mãe trabalhava em Juiz de Fora.

 

“Conversei com um medalhista e descobri o mundo das olimpíadas científicas, que antes eu não sabia nada. Pesquisei mais e vi as diversas oportunidades, como bolsas para faculdades no Brasil e no exterior, além de bolsas de iniciação científica. Resolvi, então, participar de olimpíadas e pedi para minha professora, lá pelo meu oitavo ano, para me inscrever. Só que ela achava que isso ia tirar o foco dos vestibulares. Por isso, ela não aceitou. Porém, com a pandemia, consegui participar de várias olimpíadas sem apoio e vínculo escolar”, conta.

 

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A jovem diz, inclusive, ter percebido que sua realidade era igual a de outros jovens que também não tinham apoio da escola e acesso a materiais de estudo de qualidade. “Eles nem sabiam como fazer inscrição. Foi aí que resolvi criar a ONG”, completa Millena, que coleciona a participação em 70 olimpíadas, sendo premiada em 38. Entre as diversas medalhas de ouro, destacam-se duas na Olimpíada Nacional de Ciências (2022 e 2023); duas na Olimpíada Brasileira de Tecnologia (2022 e 2023); uma na Olimpíada Brasileira de Inteligência Artificial (2023); e uma na Olimpíada Brasileira de Informática (2021).

 

IA para diagnóstico do autismo será apresentada na Turquia

 

No fim de abril, Millena bate ponto na Turquia, quando representará o Brasil na Conferência Internacional de Jovens Cientistas para apresentar seu software desenvolvido por meio de inteligência artificial com o objetivo de diagnosticar pessoas do espectro autista. Para isso, o usuário responde uma série de perguntas com a finalidade de apontar tal probabilidade.

 

A jovem ganhou uma bolsa integral para pesquisar sobre o assunto pela BRASA, uma organização sem fins lucrativos de estudantes brasileiros no exterior. 

 

“Minha mãe, hoje, não atua mais como professora, mas ela, quando trabalhava nessa área, sempre teve alunos autistas. Eu era bem novinha e ia, às vezes, assistir algumas aulas dela para o pessoal do quinto ano do ensino fundamental. Na época, eu estava no segundo ano. Comecei a notar que os traços de comportamento das pessoas que tinham autismo nem sempre eram os mesmos. Daí, fiquei muito curiosa para saber mais a respeito. O acesso ao diagnóstico, às vezes, acontece muito tarde, o que traz prejuízos de interação social e pode atrapalhar a inserção no mercado de trabalho. Tenho um amigo, por exemplo, que só descobriu ser autista aos 18 anos porque uma psicóloga da escola falou para ele”, lembra.

 

Palestra na bolsa de valores e viagem aos EUA

 

Em 7 de março, Millena irá palestrar na B3, a bolsa de valores brasileira sediada em São Paulo, sobre a tecnologia no mundo das mulheres. A participação da jovem integra o “Women Tech Day” (Dia da Tecnologia Feminina). “A B3 está querendo se posicionar mais como uma empresa de tecnologia, além de finanças. Vou abordar em um painel, junto com outras mulheres que trabalham na B3, as vivências com minhas criações na área de tecnologia e inteligência artificial”, pontua.

 

Em 1º de fevereiro, ela esteve no Rio de Janeiro para participar do Prêmio Jovens Visionários, da Prudential. Trata-se de um programa de reconhecimento internacional que premia jovens por soluções inovadoras capazes de transformar suas comunidades. Com a ONG Prep Olimpíadas, Millena ficou em primeiro lugar e ganhou R$ 30 mil.

 

Agora, em abril, a estudante viaja para Nova York com todas as despesas pagas pela organização para representar o Brasil no “Emerging Visionaries Prize” (Prêmio Visionários Emergentes). O valor, segundo conta, será investido no livro “Eles Fazem o Futuro: os 30 jovens que estão mudando o Brasil pela educação”. “Além disso, vamos investir em uma plataforma para conectar escolas, alunos e professores no ecossistema de olimpíadas científicas”, acrescenta.

Futura fundadora e diretora de empresa de tecnologia

 

Millena, que pretende cursar engenharia biomédica em Stanford, nos EUA, diz já ter planos a longo prazo. “Desejo ser fundadora e diretora de uma empresa que seja de tecnologia e traga soluções para a área da educação ou saúde. Planejo também continuar meu trabalho na Prep Olimpíadas, impactando cada vez mais vidas por meio das olimpíadas científicas, porque, sem elas, eu não estaria na Forbes e não teria conseguido toda essa visibilidade. Então, acredito que mais jovens merecem essa oportunidade”, conclui.