Bruno Nogueira, Mariana Costa, Alessandra Mello, Clara Mariz, Silvia Pires e Lucas Lanna
Os dias mais intensos do carnaval de Belo Horizonte ficaram para trás. Pelo menos 228 blocos desfilaram pelas ruas e avenidas da capital mineira entre o último sábado, dia 10, até ontem. A festa, é verdade, dura “o ano todo”, como costumam descrever os produtores dos maiores grupos da folia (que começam a se preparar para o próximo cortejo assim que o trio elétrico “da vez” é estacionado na avenida). Porém, enquanto o último tambor ainda há de ser tocado até o encerramento oficial no próximo domingo (18/2), é preciso refletir sobre o que deu certo e os ajustes necessários para a edição de 2025.
Segundo o prefeito Fuad Noman (PSD), que ontem fez um balanço parcial da festa do Rei Momo, “o saldo é positivo”. O gestor também aproveitou para ressaltar que o carnaval é feito do povo para o povo – os verdadeiros “donos da festa”. “Nós precisamos agradecer aos foliões, aos blocos e às Escolas de Samba que estão fazendo o carnaval de Belo Horizonte. São eles que estão dando a grandeza a tudo. Cabe à prefeitura se mobilizar para criar uma infraestrutura suficiente para atender os foliões”, disse Fuad.
O prefeito também revelou os números de ocorrências registradas pelo Centro Integrado de Operações (COP). Foram 249 destaques. Entre os dados, estão os atendimentos de saúde (102), fiscalização (78) e segurança pública (29). “Os números que nós vemos hoje são extremamente positivos. Tivemos pouquíssimas ocorrências ”, reforçou o prefeito.
Igualmente, analisa Leônidas Oliveira, Secretário de Estado da Cultura e Turismo de Minas Gerais: “Missão cumprida. Acho que a união de todo mundo – foliões, artistas que prepararam essa festa bonita e a imprensa – fez uma diferença muito grande, sobretudo, no que se refere ao acolhimento de turistas. E eu tenho um dado muito interessante a respeito de sábado: 31% das pessoas entrevistadas eram de fora de Belo Horizonte. Ou seja, turistas efetivamente”, celebrou.
Segurança
Parece uma opinião majoritária de que a segurança evoluiu. De acordo com a prefeitura, foram 15.922 empenhos de agentes de segurança, sendo pouco mais de 6 mil da Guarda Civil Municipal. A técnica de enfermagem Joyce Aparecida Alves, de 28 anos, contou à reportagem que ficou “abismada” com o esquema de segurança. “Tinha muita polícia na rua e não tive medo de pegar no celular como em outros anos. Me senti muito segura”, comemorou, Porém, a limpeza dos banheiros foi, em sua avaliação, um ponto fraco.
De acordo com um balanço inicial da PMMG, o furto de aparelhos celulares caiu em 40% no período de folia. No entanto, apesar do esquema reforçado, um homem de 45 anos morreu após ser esfaqueado na noite de segunda. Ele teria sido linchado por foliões após supostamente ter roubado um celular.
A importunação sexual contra mulheres e os casos de assédio também parecem ter tido uma queda acentuada. Segundo a PM, o número é 60% menor do que no último ano. Já o Plantão Integrado Acolhe Minas, montado pelo governo do estado para atender mulheres vítimas de violência, até segunda-feira havia registrado apenas uma denúncia, mas o balanço atualizado será divulgado apenas no final da ação.
BLOCOS E VIAS SONORIZADAS
Outro ponto positivo destacado pelos foliões é a diversidade de blocos para curtir. Ao final do dia 18, mais de 500 grupos terão desfilado em Belo Horizonte, número maior do que o Rio de Janeiro. Teve bloco de Funk, Sertanejo, Rock, e os tradicionais axé baianos figurando entre os principais trios elétricos.
No meio tempo, nesta edição ainda foi inaugurado uma estrutura de avenida sonorizada, na Avenida dos Andradas e Amazonas, com um investimento de R$ 4,5 milhões da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult) em parceria com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e a Companhia de Desenvolvimento (Codemge).
O circuito foi muito elogiado pela engenheira Patrícia Schettini, que curtiu o som nas andradas como uma forma de evitar uma aglomeração exacerbada de foliões. “Muito bom. As pessoas ficam mais espalhadas porque conseguem ouvir melhor a música”, frisou. Morador de Belo Horizonte, Wellington Alves, 17 anos, foi na mesma linha e destacou a boa condição de captar, à distância, a música tocada nos trios. “Esse ano melhorou muito, com muitos trios e sonorização. Tomara que permaneça assim nas próximas edições. Porém, preços de bebidas e comidas estão salgados”, afirma o estudante.
Menção honrosa
Ainda vale uma menção honrosa ao bloco da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU). Com milhões de pessoas nas ruas é um desafio manter a cidade limpa, mas o que foi visto pela manhã antes dos cortejos e após a dispersão, foi uma força-tarefa para manter a capital com um aspecto agradável e higiênico. Foram 13.645 empenhos de agentes de Limpeza, segundo a prefeitura. Em média, foram recolhidos 160 toneladas de lixo das ruas de BH por dia de folia.
E o aposentado Aluísio Pires, de 80 anos, diz que não consegue citar pontos negativos no carnaval da capital. Aluísio ressalta o esmero das ruas e avenidas como uma das coisas que funcionaram na folia deste ano. “Vi muitas pessoas jogando o lixo no lugar certo também, além da competência da turma da limpeza”, elogia..
ASPECTOS A SEREM SUPERADOS PARA 2025
No geral, a festa teve mais pontos positivos do que negativos. Só que pelo tamanho que se tornou o carnaval de BH, é preciso ponderar que problemas estruturais devem ser corrigidos. Os banheiros químicos, por exemplo, foram 13.482 diárias disponibilizadas aos foliões, um acréscimo de apenas 140 unidades em relação ao ano de 2023, sendo 99 pontos fixos espalhados pelas cidades.
Apesar da prefeitura argumentar que não haveria mais banheiros para serem alugados, é preciso pensar numa logística diferente de distribuição e limpeza. André Silva, de 40 anos, disse que o carnaval foi “muito gostoso”, mas sugeriu a descentralização dos sanitários. “Podia, no lugar de concentrar tudo em um mesmo lugar, colocar um em cada esquina e evitar as filas gigantes”, defendeu.
A quantidade de ambulantes também é uma questão que precisa de reflexão para os próximos anos. Foram quase 21 mil profissionais credenciados para trabalhar, sendo a grande maioria de caixeiros novatos. A concorrência é grande e faz com que a margem de lucro para quem precisa da renda proveniente da maior festa do ano, seja pequena.
No mesmo sentido, o preço do que era vendido foi alvo de reclamação dos foliões. O tradicional tropeiro foi encontrado por até R$ 25 com alguns ambulantes, preço impulsionado pela alta na inflação dos alimentos. As bebidas favoritas dos foliões, como a cerveja e o Xeque-Mate, subiram entre R$ 2 a R$ 5 e o latão foi encontrado em valores superiores ao do mercado.
Também vale mencionar os gargalos no trânsito. Com grande parte das vias bloqueadas no centro de BH, a prefeitura recomendou rotas mais próximas à Avenida do Contorno, porém, até em locais que deveriam estar liberados, a concentração de foliões atrapalhou o fluxo.
No final das contas, são problemas logísticos de uma festa gigante. São transtornos esperados, mas que precisam ser ajustados para que a festa continue crescendo de forma sustentável e atrativa para os turistas e até para os moradores locais. Afinal, Belo Horizonte hoje vive uma folia pulsante, mas já viveu fevereiros vazios. É pensar em soluções para que o ritmo não caia em 2025 e a festa se torne maior, mas principalmente ainda melhor.
PONTOS POSITIVOS
Segurança - A sensação de proteção na rua cresceu com o efetivo elevado de agentes.
Vias sonorizadas - A estrutura de som instalada nas avenidas dos Andradas e Amazonas foi um ponto alto dos foliões.
Limpeza das ruas - O bloco da limpeza brilhou. Segundo a prefeitura, foram recolhidos 160 toneladas de lixo das ruas de BH por dia de folia.
Diversidade de blocos - Pelo menos 228 desfiles ocorreram nos quatro dias de carnaval. Teve Funk, Sertanejo, Axé, Rock e os clássicos da tradição mineira e nacional.
PONTOS NEGATIVOS
Ambulantes - Mais de 20 mil credenciados criaram uma concorrência grande. Os mais experientes reprovaram. E o preço das bebidas e comidas subiu, o que desagradou o público. O latão de cerveja foi encontrado entre R$ 8 e R$ 15.
Banheiros - A distribuição dos banheiros causou filas e reclamações de poucas unidades disponíveis ao público.
Trânsito - O carnaval é "do transporte público", mas quem saiu de carro enfrentou transtorno até mesmo na Avenida do Contorno.