Bruno Nogueira
O secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas Oliveira, faz um balanço positivo do carnaval em Belo Horizonte e no interior de Minas Gerais, ressaltando que a folia é uma “grande ópera” que reúne todas as manifestações culturais. Em entrevista ao EM Minas, programa da TV Alterosa, Estado de Minas e Portal UAI, que foi ao ar ontem, ele afirma que o investimento do governo estadual é fundamental para manter o evento, ao mesmo tempo em que não se pode interferir na dinâmica popular, a não ser que seja uma demanda dos blocos. “Muito feliz com os números de foliões do estado inteiro. A liberdade e a diversidade das expressões devem ser preservadas. Não há namoro, nem flerte, o papel do poder público é isso: apoiar a economia da criatividade”, avalia. A seguir, os principais pontos da entrevista.
Os números do carnaval foram muito robustos, o senhor ficou feliz com os resultados?
Muito feliz com os números de foliões do estado inteiro e muito feliz com os números da segurança pública, que foi o grande diferencial desse carnaval. Registramos mais de 12 milhões de foliões no estado, e na capital foram 5,5 milhões nas ruas. Esses 5,5 milhões são durante o período do carnaval, tem dia que na rua a gente viu 1 milhão e 200 mil, por exemplo, no sábado. Ou seja, aquelas pessoas que saem de casa, que estão em BH, na região metropolitana e os que vêm de fora, todo mundo junto. Não significa que é o número de turistas que vieram de outros lugares, são coisas completamente diferentes. São foliões - aqueles que aproveitaram a festa.
Ou seja, é uma soma das participações de foliões em cada bloco. Por exemplo, se você foi a 18 blocos, eu fui a dois, nós temos 20 pessoas. Porque 5,5 milhões não cabem e, por exemplo, a taxa de ocupação de hotéis ainda não chegou ao limite.
Exatamente, ainda temos que avançar nos hotéis. O nosso carnaval está se transformando agora no carnaval nacionalizado e internacionalizado. Devido às campanhas e a própria dinâmica, ele tem se firmado no Brasil. Antes houve quase um apagão, entre 2013 e 2014, do carnaval do interior de MG. Todo mundo saía e vinha para capital e acontecia que as pessoas iam pra casa do primo, da tia. E em Minas a gente gosta de receber quem é de fora dentro de casa, então, a taxa de ocupação de hotéis ficava muito ruim. Agora melhorou, mas ainda temos muito a fazer. Ainda temos muita gente, e isso não é ruim, na casa de parentes. Temos muitas pessoas que estão no Airbnb e alugam para a temporada, mas é difícil a gente contar porque é particular, o que a gente tem são os dados da rede hoteleira. Outro fator que dificulta os hotéis é um carnaval eminentemente jovem. As pessoas vêm e dormem dez em uma casa. Isso não é ruim, mas por isso o esforço de atrairmos mais turistas nacionais e internacionais.
Então esse número está subestimado? Por que tem uma hospedagem na cidade que não se consegue contabilizar?
Não consegue medir. Para o próximo ano, vamos fazer uma parceria com o Airbnb que é o principal meio de hospedagem de particulares, mas temos o booking, outras plataformas que não conseguimos calcular. Chegamos ao número de turistas por outras vias, pela pesquisa que a gente faz em campo, pela rodoviária, pelo Buser, aplicativos e aeroporto. Aí a gente chega nesse número que soltamos.
Qual foi o número de turistas que vieram para BH e para o interior?
Em Belo Horizonte foram 307 mil turistas. Tivemos um incremento de mais de 30% com relação ao ano passado. No interior, somando com a capital, foram 545 mil turistas.
Quais cidades mais mandaram turistas?
Incrivelmente, foi o Distrito Federal. Temos os dados dos ônibus, por exemplo, que começaram a vir na quinta-feira, e não só para Belo Horizonte, mas também outros destinos. Paracatu foi uma cidade que lotou de gente de Brasília. Nós tivemos outros de Salvador vindo para o nosso carnaval e também de São Paulo, é claro. O Rio de Janeiro é o segundo emissor e a grande revelação foi a procura da Bahia.
Quanto o governo investiu no carnaval?
Investimos, de aportes e lei de incentivo, R$ 27 milhões. Isso no que se refere ao fomento da atividade carnavalesca via lei de incentivo ou direto pela Codemge (Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais). E, com a Belotur, R$ 4 milhões. No entanto, tivemos, por exemplo, os gastos com a Polícia Militar. Para pagar a hospedagem de policiais que vieram do interior, destinamos R$ 1 milhão, que não está contabilizado. Mas no fomento à arte, foram R$ 27 milhões. O que veio do cofre foram R$ 8,5 milhões da Codemge, e o restante via lei de incentivo.
Esse valor da lei de incentivo traz algum prejuízo para os projetos culturais que vem ao longo do ano?
Não, porque ainda temos um teto de captação. Ano passado, colocamos R$ 155 milhões e foram captados R$ 130 milhões em média. Ou seja, sobrou. Este ano, teve até uma mudança na lei que fizemos para aumentar essa captação e esperamos atingir o teto. Serão R$ 165 milhões, mas não afeta. É preciso entender também, costumo dizer isso, que a maior expressão cultural do Brasil é o carnaval. Esta folia é uma grande ópera. Você tem o teatro, dança, música, figurino e praticamente todas as manifestações populares na rua.
O interior consome a maior parte dessa verba ou é a capital?
Neste ano, houve um equilíbrio. Tivemos 17 cidades apoiadas, que são barrocas e coloniais, o que denominamos de cidades históricas. Divinópolis foi um município fora desse eixo. Algumas cidades tiveram aporte via lei de incentivo do estado. No entanto, o maior carnaval é ainda Belo Horizonte, e o restante vai para os blocos. Isso é o grande diferencial, porque os blocos, se você observar no ensaio geral da avenida dos Andradas, produziram aquela festa inteira via lei de incentivo. A maior parte deste dinheiro ficou neles ou nos produtores, porque a lei de incentivo não financia prefeitura - ela financia um projeto que tem, por exemplo, em Ouro Preto. Há o edital que a Cemig fez e seleciona as cidades e os projetos dos blocos, então quase a totalidade dos incentivos foram para eles.
Uma pausa no carnaval para falar de semana santa. Vamos ter programação oficial com o apoio do governo?
Vamos ter uma programação. Pedimos aos municípios e ao Instituto do Patrimônio Histórico que enviassem a programação nas cidades, mais de 700 municípios enviaram. Ano passado, não foi em absoluto nem o carnaval, nem a festa junina, nem o réveillon, que fizeram com que o turismo crescesse; o que cresceu em abril, foi a semana santa. A ascensão, segundo dados do IBGE, foi de 730% acima da média nacional na semana santa com o "Minas Santa 1", trazendo as pessoas para conhecer a maravilha que é nosso barroco e a teatralidade que temos.
Vamos voltar no carnaval. O dinheiro deste ano foi suficiente ou o ano que vem tem mais?
Dinheiro nunca é o bastante, mas a gente pretende incrementar. As avenidas sonorizadas são um pedido. A questão das escolas de samba também. Acho que o estado, como em outros lugares, precisa apoiar, porque são manifestações culturais muito legítimas. Há, por exemplo, os blocos caricatos, que inclusive são candidatos a Patrimônio Histórico. Então pretendemos, obviamente com o saldo positivo que tivemos esse ano, incrementar os patrocínios tanto direto, como também o patrocínio incentivado.
O modelo atual de carnaval nasceu como um protesto dos blocos, e tradicionalmente sempre rechaçavam a participação da prefeitura, governo do estado, autoridades públicas em geral. Mas agora parece que tem esse início de um namoro, como é que você analisa esse cenário?
A cultura é também um ato político, como tudo na vida. Quando o carnaval renasce - vamos usar esse termo porque ele já existia antes - renasce como protesto e com a virada cultural. Só que ele cresce e cai no gosto popular muito rapidamente. Tanto que no primeiro ano é preciso que o poder público interfira, ou seja, coloque infraestrutura para os foliões. Tivemos, em 2013, 400 mil pessoas, na época eu era secretário de Cultura de Belo Horizonte. É impossível o poder público fechar os olhos para 400 mil pessoas, imagina para 12 milhões. Os cidadãos estão na rua, então é muita obrigação. Eu acho que o cuidado é de não interferir na dinâmica, a não ser que os blocos peçam, como foi o caso da sonorização que vem sendo demandada há muito tempo. A liberdade e a diversidade das expressões devem ser preservadas. Eu acho que não há um namoro, nem flerte. O papel do poder público é isso: apoiar a economia da criatividade. É um fenômeno e os blocos e escolas pedem isso, não todos, mas tem um grande grupo de blocos que estão compreendendo o carnaval como negócio. Ou seja, entendem a economia da criatividade carnavalesca como um negócio, e festas acontecem o ano inteiro com alguns blocos. Algo que dá R$ 5 bilhões, R$ 4,7 bilhões, é realmente um negócio. Então, não tem como o poder público fechar os olhos para isso.
O carnaval de BH está se transformando também no destino preferido do público LGBTQIA+?
Ficou comprovado. Na nossa pesquisa, 30% das pessoas entrevistadas se declararam LBTQIA+. Olha que isso ainda é muito incipiente em certas camadas da sociedade. Vamos dizer que de 1 milhão e 200 mil pessoas que estavam na rua, 30% são 300 mil pessoas. Então, é um carnaval que tem, e não é pontual, porque nós temos festivais o ano inteiro e eu cito de exemplo o Sarará, que já tem formado um público LGBTQIA+ durante todo o ano. Então, essa pesquisa comprova o carnaval como um destino. E tem aquela pesquisa Atlas, com 150 milhões de impressões. São Paulo é o estado mais acolhedor, com Minas em segundo para esse público.
Qual o balanço das avenidas sonorizadas?
Foi uma experiência bem-sucedida, e olha que tivemos delay em alguns momentos. É preciso agora continuar estudando como vai ser isso, porque o trem elétrico, que é essa transição do trio elétrico para o trem, é um caminhão mais próximo das pessoas. O trem é baixo, dá a altura de um caminhão, então as pessoas têm mais proximidade, para que o carnaval não se afaste das pessoas. Teremos ajustes, mas 97% das pessoas gostaram e aprovaram a sonorização. Para a segurança, segundo o comandante da PM, foi fundamental, porque há uma grande aglomeração em volta do trio, então a avenida sonorizada dilui. Foram 16 blocos que usaram a estrutura esse ano.
O samba na Praça da Liberdade e o "Atrium" na Praça Duque de Caxias funcionaram bem?
Funcionaram bem. Na Praça da Liberdade, por exemplo, passaram 300 mil pessoas que foram lá tomar água, descansar. A praça não pode receber um grande fluxo de pessoas ao mesmo tempo, mas pode receber pessoas. O chuveiro fez sucesso absoluto, mas disso tudo eu acho que o mais bonito foi o Palácio dos Samba. Quando cheguei e vi o samba originário de Minas Gerais naquele palco, realmente fiquei enlouquecido.
Os editais do carnaval precisam ser alterados ou eles são bem formatados?
A Secretaria tem aberto edital o ano inteiro, para todas as manifestações artísticas. Nós não delimitamos o carnaval ou o teatro, ele é aberto para todas as áreas. Tivemos 66 projetos aprovados para o carnaval, sendo que 33 foram captados, isso é um índice excelente (50%). Ano passado, tivemos 22% de captação, então melhorou muito. As pessoas estão percebendo a importância dos recursos. São valores para cultura e o carnaval, claro, é uma das grandes expressões culturais.
Como é que estão outros projetos culturais? Estão extintos ou tão ativos?
O 'Circula Minas' está paralisado este ano. Vamos abrir editais para que os artistas saiam. Temos uma grande oferta da Lei Paulo Gustavo e agora é a hora de circular, isso é muito importante para o audiovisual. O 'Musica Minas' ainda acontece, mas é muito pequeno. Temos conversado muito com o setor para que a gente amplie para as diversas manifestações musicais. Então, é um desejo nosso também que ele seja ampliado. É um dos mecanismos para nacionalizar e internacionalizar a nossa arte.
A gente ainda sabe que a infraestrutura de turismo precisa de um incremento grande. Quais os pontos que devem ser atacados prioritariamente?
Precisamos de sinalização. Vou dar o exemplo da Serra da Canastra, que ainda não tem estabilização turística efetiva, mas grande fluxo de visitantes. A Pampulha, até hoje, não tem sinalização como Patrimônio da Humanidade e é a única que eu acho que não tem, porque as outras cidades barrocas têm patrimônio do mundo. Temos problemas nas rodovias, sobretudo no Norte, em algumas cidades da Zona da Mata e no Centro. É preciso melhorar imensamente a infraestrutura rodoviária, porque é o nosso principal meio. É uma das principais queixas das pessoas. Em centenas de cachoeiras, ou de lugares na natureza, não temos uma definição clara de acesso. Precisa ser um turismo rural, que hoje é o que mais cresce em Minas Gerais.
Como é que o senhor vislumbra o turismo de Minas Gerais no final do ano, considerando tudo que está sendo feito?
Temos uma meta de gerar mais de 50 mil empregos este ano. Em 2023, geramos 50,2 mil empregos. Cultura e Turismo foram os maiores geradores segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) em Minas Gerais - considerando o núcleo de cultura e turismo juntos. Temos a meta de mais turistas, e temos 50 projetos estruturantes, dos quais faltam 31 para serem finalizados. A gente quer se manter na liderança de destino que mais cresce. Pretendemos que isso seja mantido, ampliado e ainda internacionalizado. Estou falando de um grande fator de incremento e que espero acontecer, até o final deste ano (o crescimento), e aí vamos nas feiras buscar turistas e negociar, porque temos um barroco maravilhoso, uma natureza maravilhosa. Então, precisamos fazer muito marketing, muita promoção do destino para que tenhamos ainda essa essa curva ascendente e cada vez mais.