A chuva do final de semana voltou a evidenciar a estrutura deficitária de escoamento de água da rua Ibituruna, no bairro Santo Antônio, em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas. Essa é a segunda vez em menos de 15 dias que a água invade uma academia no local. Mesmo com o problema, que se arrasta há anos, a prefeitura disse, nesta terça-feira (20/2), não ter dinheiro para a obra.
Diante do problema antigo, a empresária Fabiana Martins chegou a entrar no meio da água para chamar a atenção de autoridades no dia 5 de fevereiro. Menos de duas semanas depois, neste sábado (17/2), ela voltou às redes sociais pedir socorro. “Quem vai arcar com esse prejuízo”, disparou. Em outubro do ano passado, a água da chuva também transformou a rua em um rio.
O estrutural atual não comporta o volume de água para o devido escoamento, provocando o alagamento. Em 2022, a prefeitura realizou intervenções com limpeza de bueiros, minimizando o problema. Porém, elas ainda não foram suficientes a ponto de resolver totalmente a situação.
Sem respostas e solução definitiva, Fabiana cansou de esperar e resolveu expor. “Com o passar dos anos, ao ver que nada seria feito, tive coragem para expor o que eu não expus em sete anos”, afirmou.
A água já chegou a atingir 1,8 metro de altura. Com as chuvas de sábado, esgoto chegou a voltar nas casas de moradores.
Além de lidar com alagamento, ela e moradores também assumem para si a responsabilidade do trabalho pós-inundação. “É sanitário, humanitário, que é a higienização. Até agora ninguém chegou aqui para limpar. Nós que limpamos todos os bueiros da Ibituruna, e os moradores é que limparam os bueiros próximo à rua Minas Gerais”, afirma.
Para ela, não se trata mais de “esperança” por uma solução, mas “competência para planejar” por parte do poder público.
“Até o momento, houve um descaso com essa região, porque falava que o projeto estava pronto. Houve mentiras, porque agora fala que ele não está pronto e leva-se tempo para elaborar”, critica.
Sem dinheiro
A Prefeitura de Divinópolis diz que solicitou a realização de estudos para verificar o custo da obra. Estima-se que são necessários R$ 2,2 milhões para contemplar a via, assim como algumas transversais, fundamentais para correção do problema. “A prefeitura não dispõe desse recurso no momento, seria necessário o apoio de emendas parlamentares para execução da obra”, comunicou.
A deputada estadual Lohanna França (PV) usou as redes sociais para se comprometer a enviar emenda. Ela, contudo, cobrou a elaboração do projeto e a contrapartida do município.
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Em ofício respondido à parlamentar, a prefeitura disse que, em virtude da alta demanda da Secretaria Municipal de Obras Públicas e em razão do baixo número de técnicos, só elaborará projetos se houver a previsão de recurso financeiro no município.
“O Estado não paga nenhuma verba sem projeto e a prefeitura sabe disso. Quando eles apresentarem orçamentos, estou disposta a enviar emenda com contrapartida do município”, enfatizou Lohanna.
“Uma prefeitura com Orçamento de quase R$ 1,5 bilhão não consegue fazer uma obra de drenagem?”, questionou a deputada estadual.
Investimentos em drenagem
Levantamento realizado pelo Portal da Transparência da Prefeitura de Divinópolis mostra investimentos tímidos em drenagem pluvial nos primeiros anos do atual governo.
Em 2021, os dois empenhos previstos foram anulados. Já em 2022 – ano em que o município registrou fortes chuvas, alagamento e desalojamento - houve apenas quatro empenhos relacionados a obras de drenagem pluvial em Divinópolis, conforme levantamento realizado no Portal da Transparência. Juntos eles totalizam R$ 680.192,89.
Já a partir de 2023, os investimentos em drenagem tornaram-se mais vultuosos, atingindo, até o momento, cerca de R$ 25 milhões em valores empenhados, sendo R$ 14,4 milhões pagos. Os valores se referem aos disponíveis a partir de buscas pelo Portal da Transparência.
A reportagem questionou a prefeitura sobre investimentos realizados entre 2021 até a presente data, contudo, a assessoria informou que seriam necessários 15 dias para fazer o levantamento, pois foi necessário solicitar a secretaria competente via requerimento por se tratar de informações oriundas de relatórios.